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O ousado chegou

- Felipe, você gosta da imprensa?
- Olha, vou ser sincero... Nunca precisei da imprensa para nada.

Foi essa uma das respostas de Felipe Melo em sua entrevista de apresentação dentre tantas as polêmicas que criou um menos de uma hora de conversa com os jornalistas. Não foi a mais repercutida - como a que se precisar dar tapa na cara de uruguaio, irá fazê-lo “com responsabilidade” -, mas tem uma relativa importância no contexto em que viverá nos próximos meses.

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Primeira entrevista de Felipe Melo deu o que falar. (Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação)
Qualquer pessoa que viva o esporte paulistano sabe que a relação palmeirense-imprensa não é das melhores. E, diante de uma torcida que tem inclusive xingamento a esta em uma das suas músicas, a relação Felipe Melo/imprensa parece ser mais um jogador que leva para dentro de campo o sentimento do torcedor. Para entender esse atrito, porém, é necessário voltar bastante no tempo.

O ano é 1942 e o então Palestra Itália vivia forte pressão em relação ao nome italiano por conta da Guerra Mundial que acontecia. Nesse cenário – e por mais incrível que pareça -, a imprensa de modo geral decidiu posicionar-se contra o clube alviverde, inclusive com campanhas fortes (em especial da Record, comandada por Paulo Machado de Carvalho, são paulino e rival ao título Paulista naquele ano) contra a equipe palmeirense e rotulando como verdadeiro inimigo.

Com muita pressão de todos e definido como “time anti-pátria” que o Palmeiras entrou em campo para enfrentar o São Paulo naquele mesmo ano com uma bandeira do Brasil e venceu o rival (com direito a abandono de campo), conquistando o título e vencendo a batalha dentro e fora de campo. “O Palestra morreu líder, o Palmeiras nasceu campeão”, como diz o slogan, mas nenhum palmeirense esqueceu o que aconteceu naquele período.

Desde então, os atritos são frequentes e ano após ano a história se repete. Para os mais novos, porém, o sentimento não é diferente. Há quem reclama de “síndrome de perseguição”, mas fica difícil defender uma relação melhor quando o tratamento não é o mais adequado para um clube do tamanho do Palmeiras. E não é difícil encontrar momentos desse tipo mesmo em anos mais recentes.

Foi assim que o Palmeiras foi dado como perdedor de uma final que nem começara a disputar diante do Santos menos de dois anos atrás. Foi assim que o time foi rotulado negativamente mesmo com números inquestionáveis durante o Brasileirão do ano passado. Foi assim que uma emissora tratou com diferença duas atitudes iguais das torcidas de Palmeiras e Flamengo. Foi assim que outra emissora fez um programa especial para denunciar uma entrevista do Valdivia, que admitira forçar um terceiro cartão amarelo, mas negligenciou outras tantas frases idênticas nos anos seguintes.

É evidente que, por vezes, o torcedor pode exagerar. É passional, é emocional. Só não é cego e enxerga muito bem quando o tratamento não é justo e igualitário – como de fato não foi ao longo de 2016 e em outros tantos anos, fato esse que fez até jogadores do próprio elenco se manifestarem: foi o caso do meia Moisés, idolatrado nas redes sociais após questionar ao vivo uma das emissoras citadas anteriormente.

Essa mesma torcida que é chata, exigente, insuportável. Mas que também abraça o time quando precisa. Quando vê um Dudu chorando e vibrando dentro de campo como um dos seus. E tem tudo para fazer o mesmo com o recém-contratado Felipe Melo, mais um a compartilhar de um mesmo sentimento. Se foi uma boa contratação, ser produtivo e ajudar, só saberemos com o passar dos jogos.

Até lá, o que vale é o que se fala – e nisso ele começou marcando um golaço. Vale lembrar também que assim como você, Felipe, nossa sensação é de que nunca precisamos da imprensa para nada. Aliás, amamos jogar contra eles, assim como imagino que você também.

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