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Fizemos o contrato valer de novo.

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(Foto: André Durão)

ESTE CAMPEONTATO NÃO DEVERIA ESTAR ACONTECENDO. 

Dito isso, vamos ao texto.

51 minutos do segundo tempo de um jogo modorrento, cansado, e já desesperançoso.

Os últimos minutos foram irritantes. O Flamengo já pouco criava chances, disparava mais cruzamentos sem rumo do que era organizada, e a segunda bola nem sempre era nossa, com um meio campo que já vinha cansado. Pior ainda era ver o time botando língua para fora e Dome morrendo com quatro substituições. Era raiva pura.

Até que a bola para no pé de Arão na frente da área. O chute horrível do nada encontra Pedro e o rubro-negro leva um susto com a sorte que deu.

Mas essa sorte tem explicação: O contrato. 

Primeiro, é necessário dizer que o Flamengo JOGOU BEM ontem. Começou desligado, como de costume, mas a chave virou mais rápido do que nos últimos jogos. No primeiro tempo as chances já foram se acumulando, algumas inacreditavelmente perdidas, até que Pedro aproveitasse sua oportunidade e botasse pra dentro. No segundo tempo, martelou e martelou até que a bola entrasse de novo.

É claro que não foi o melhor futebol do mundo. O time não encantou. Não houveram belas jogadas, plasticidade, dribles ou trabalhos coletivos de encher os olhos. Mas isso não quer dizer que o time, como conjunto, não jogou bem.

Jogar bem é impor seu modelo. É forçar sua ideia sobre o outro e fazer funcionar.

E, dadas as circunstâncias, o Flamengo fez tudo o que podia.

A proposta do Goiás era simples. Jogar fechado e achar um gol, pra se trancar lá atrás e segurar a onda. E foi o que fez. Achou seu gol em uma falha de posicionamento de Matheusinho, que tem sido recorrente nos últimos jogos. Ainda precisa aprimorar muito nesse quesito.

Foi uma falha individual. O time, como um todo, vinha bem.

Dali em diante, o Goiás estacionou o ônibus verde e ficou lá atrás. Foram alguns os momentos em que defendia com sete, oito ou até nove dentro da própria área, deixando apenas Rafael Moura lá na frente.

Como o Flamengo se propôs a atacar e fazer seu modelo se sobrepor?

Lembrem-se: o rubro-negro ontem não tinha meias. Tinha três volantes e um deles jogava improvisado como meia, colado em Pedro. Gérson teve muito dificuldade onde estava. Se movimentou como pode, e tentou do jeito que deu. Mas falta-lhe agilidade para flutuar entre volantes e zagueiros do adversário, soltar a bola com mais velocidade ou chegar inteiro na área definindo as jogadas. Jogar de costas não é a dele.

Além disso, o Goiás deixava o meio mais cheio do que a cabeça de vascaíno depois de perder pra gente no sábado. Era simplesmente impossível jogar pelo meio, a não ser que um bom meia flutuasse bem por ali. Não tínhamos isso.

A opção então era o jogo pelas pontas para fazer a bola chegar a Pedro. Esse sempre foi o objetivo. Seu único auxílio na área eram nas infiltrações de Bruno Henrique, que não foram tão comuns.

Até porque o time precisava dele na ponta. Para conseguir jogar pelos lados, o time precisava criar superioridade nos setores. Bruno Henrique e Filipe Luis na esquerda, Michael e Matheusinho na direita. Atenção para a perda de qualidade do último lado, que era compensada com disposição. Se não criaram tantas jogadas, salvaram o Flamengo em contra-ataques importantes do Goiás.

E por quê a escalação dos dois? Era o que tínhamos.

Inseguro com a recuperação dos laterais que precisariam subir bastante, Dome segurou Thiago Maia e Arão, fixos na intermediária. Estes funcionariam como pilares das viradas de jogo tão necessárias para aproveitar os espaços no lado do campo.

Resultado: já no primeiro tempo, todas as chances rubro-negras foram criadas dos lados para dentro, que era o objetivo. 

Aos 4, Bruno foi ao fundo e achou Pedro no meio. Aos 10, Michael cruzou na cabeça de Bruno. Aos 26, Gerson achou Natan que só não fez por defesaça de Tadeu. Aos 27, a jogada chegou a Pedro dentro da área, que achou Michael do lado oposto. Do jeito que podia, ele bateu por cima. 

Foi só em momentos de recuperação no campo de ataque que tivemos chances pelo meio. Aos 37, Bruno chutou em cima de Tadeu. Aos 38, o gol saiu quando Gerson recebeu a bola de frente, como gosta, achou Bruno que cedeu a Pedro. 

A saga das ataques do lado para dentro continuou. Aos 46min, Bruno fez gol de mão em cruzamento de Michael. No segundo tempo, Michael achou Pedro na diagonal, e a cabeçada de Bruno parou na trave. 

Foi só aos 17 do segundo tempo que o Flamengo conseguiu a primeira chance em bola trabalhada pelo meio, em tabela de Bruno com Pedro.

Depois disso, o time morreu. Simplesmente morreu. 

E pudera, não é? Ninguém descansa, e os intervalos entre os jogos são minúsculos.

Aqui cabe a crítica a Dome. Não mexeu bem. Ou melhor, não mexeu.

Inexplicável.

Foi ajudado pelo contrato.

Da metade do segundo tempo até o fim do jogo, o 1x1 estava mais do que encaminhado. O time não criava mais e os jogadores estavam nitidamente cansados.

Ou seja, enquanto teve perna, o time jogou bem. Com as limitações que tinha, com improvisações e etc, o Flamengo fez a partida que podia e impôs o seu jogo. Só não foi mais fácil porque muitas bolas não entraram por pouco. Se qualquer uma das chances perdidas tivesse sido convertida, estaríamos aqui falando de um jogo tranquilo e de como o time parece mais consolidado.

Mas não entrou. Faltava o ingrediente final.

Não é de hoje que temos conquistado vitórias em fins de jogos com gols salvadores. Lima foi a maior, mas também foi só uma delas. Essa saga é uma das marcas da história do Flamengo. Sumiu durante um tempo, mas reapareceu desde fins do ano passado.

A sorte ajuda. O contrato com o capeta, já tão famoso, valeu por mais uma vez. O pacto do Flamengo com o carmurião, que desperta a raiva dos rivais, salvou o time de novo. Na hora H, quando as coisas já parecem perdidas, o demônio mexe os pauzinhos dele, chama o Sobrenatural de Almeida e faz o pé de um esmeraldino colocar a bola no pé do artilheiro. Ele, claro, agradece ao diabo, e põe para dentro. 

Mas o contrato com o capeta não vale por ele mesmo. Não a toa, ele sumiu durante um tempo, apesar de sempre estar em vigência.

O contrato com o capeta só funciona se o próprio time estiver endemoniado. O Flamengo é um time que se recusa a falhar. Pode até acontecer, mas não será por omissão. 

Cansado, faminto, sedento, morto, o time vai com tudo que dá. Foi na estratégia enquanto pode, foi na sorte quando as pernas e a mente já não funcionavam mais.

Um time não vira tantos jogos e faz tantos gols no fim por acaso.

A sorte ajuda quem trabalha. O contrato só funciona quando o demônio está no seu corpo. 

No esporte onde os santos não tem vez, os atacantes com nome de anjos e apóstolos precisam um pouco dos ingredientes lá de baixo para fazer o rubro-negro gritar na janela tão alto quanto as almas do purgatório. Mas, ao contrário de lá, a rouquidão vem por felicidade. Fizemos o contrato valer de novo.

No mais,

Saudações Rubro-negras.

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