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O amor pelo "Guardiolismo" e o pecado que se tornou jogar de outras formas

Que seleções como a Laranja MecĂ¢nica e o Brasil de 82 revolucionaram as formas de jogar futebol de suas Ă©pocas, isso nĂ£o resta dĂºvida. Que muitos outros que mesclaram alguns desses conceitos com a evoluĂ§Ă£o de jogo e a partir do "antigo" criaram algo novo e tido como revolucionĂ¡rio tambĂ©m nĂ£o hĂ¡ como discordar. Mas hĂ¡ um problema sĂ©rio quando pautados pelo saudosismo ou pelo time da moda, outras formas de ver futebol começam a ser colocadas como ultrapassadas por analistas sedentos por sepultar alguns conceitos de futebol que nĂ£o se enquadram nessa forma de jogo. 

Imagem: Goal

Vivemos um momento de supervalorizaĂ§Ă£o do "Guardiolismo". E o prĂ³prio Guardiola nĂ£o tem nenhuma culpa nisso, jĂ¡ que ele (e sĂ³ ele) consegue aliar sua ideia de jogo a resultados e conquistas. Tem suas ideias de jogo copiadas (ou algo prĂ³ximo disso) e Ă© merecedor de todo o reconhecimento que tem, muito embora nunca tenha trabalho com material humano de baixa qualidade. 

O problema estĂ¡ quando o rendimento atĂ­pico do Manchester City começa a ser usado para desmerecer outras formas de jogo, e outros treinadores de excelente nĂ­vel passam a ser vistos como ultrapassados por ter uma visĂ£o mais "conservadora" do jogo. Vejo muitos analistas (principalmente de emissoras que transmitem futebol europeu), supervalorizar treinadores que tĂªm o espanhol como espelho, mas nunca conquistaram nada, e colocar como ultrapassados, treinadores extremamente vencedores, que seguem erguendo taças ano a ano.

É comum ver exaltaĂ§Ă£o no trabalho de Pochettino no Tottenham e criticas duras Ă  Mourinho no United. Como eram comuns elogios ao Sampaoli no Sevilla e acusações ao Simeone, reduzindo-o a um mero retranqueiro. Houveram muitas crĂ­ticas ao Ancelotti em sua passagem pelo Bayern, dando-o como acabado, poucas temporadas depois de fazer o que fez em Madrid. Conte, que na temporada passada sobrou com o Chelsea na Inglaterra, convive atualmente com crĂ­ticas por conta de sua forma de jogo. Em contrapartida, Sarri (a quem admiro pelo trabalho com poucos recursos, mas que ainda nĂ£o ganhou nada no futebol) Ă© idolatrado em NĂ¡poles. Invertem-se valores pela forma de jogo, mesmo que a ofensiva siga sem trofĂ©us, Ă© vista como melhor que a defensiva vencedora.

Incomoda muito essa maneira "tiki-taka" de ver futebol, como se fosse pecado nĂ£o seguir a cartilha Guardiola de jogo. Como se fosse pecado jogar no erro do adversĂ¡rio, marcar atrĂ¡s da linha da bola, usar a bola aĂ©rea, a ligaĂ§Ă£o direta, enfim, a mĂ­dia esportiva brasileira principalmente, parece agora querer ditar o que Ă© sagrado e profano em termos tĂ¡ticos. E fica triste quando a verticalidade do Klopp vence a posse do Guardiola, vi um comentarista descrevendo como o City perdeu, ao invĂ©s de falar de como o Liverpool venceu. 

Trata-se a exceĂ§Ă£o Guardiola como regra, esquecendo que ele Ă© dos poucos representantes dessa forma de jogo que sĂ£o vencedores (como TelĂª foi em outros tempos), a maioria faz boas campanhas, mas sempre refuga, porque muitas vezes nĂ£o tem o equilĂ­brio e a ponderaĂ§Ă£o que marca a visĂ£o de jogo dos treinadores ditos conservadores. É sĂ³ ver que Pochettino, Sarri e Bielsa tem como marca maior jogar bonito e nĂ£o vencer. 

Dos Guardiolistas, o Ăºnico "vencedor" Ă© o Sampaoli (mas que nĂ£o se provou ainda). Alçado muito carinhosamente ao Olimpo por vencer com o Chile, seus admiradores desconsideram a Ă³tima geraĂ§Ă£o chilena e os pĂ©ssimos momentos vividos por Brasil e Argentina durante as conquistas. É um bom treinador, mas talvez seja o exemplo clĂ¡ssico de supervalorizaĂ§Ă£o de nomes que "gostam da bola". 

Penso que esse pensamento que tenta padronizar o futebol deva ser combatido. HĂ¡ muita beleza em belos sistemas defensivos, em times verticais, em rĂ¡pidas transições. Pensar que somente a posse de bola Ă© futebol, Ă© uma forma de matĂ¡-lo. 

Por Gil Costa

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