Há 8 anos, em uma noite chuvosa
em Moscou, o Manchester United conquistava a Europa pela terceira vez. Em uma
partida emocionante contra o Chelsea, os Red Devils levantaram o caneco depois
da grande defesa de Van der Sar no pênalti de Anelka. Sir Alex Ferguson lançou
sua autobiografia em 2013 e registrou aquela noite com o seu ponto de vista.
Confira como foi aquele jogo na visão do maior treinador da história do
futebol:
“Antes da final da Champions League em Moscou em 2008, eu tinha um histórico horrível em cobranças de pênaltis. Seis derrotas e apenas uma vitória era um contexto perigoso para Carlos Tévez colocando a bola na marca para começar as penalidades contra o Chelsea na cidade de Roman Abramovich. Com essas memórias, você dificilmente esperaria que eu estivesse otimista. Todos esses desapontamentos anteriores estavam em minha cabeça quando o jogo começou a passar para a prorrogação e a partida rastejava para o início do dia seguinte depois do pontapé inicial ter sido às 10:45 pm."
É assim que Alex Ferguson começa.
Nem um dos maiores nomes do futebol sabia o que esperar daquele 21 de maio de
2008. Com o enorme nervosismo e a expectativa alta, a tensão só crescia à
medida que os times entraram em campo.
O JOGO:
“Deveríamos assumir o controle da
bola rapidamente em Moscou e foi o que fizemos desde o início. Nosso jogo era
cheio de impulso e invenções, nós poderíamos estar com três ou quatro gols na
frente. Eu comecei a achar que seria um massacre.”
Aos 26 minutos do primeiro tempo,
Cristiano Ronaldo abriu o placar com um belo gol de cabeça.
“O jogo em si foi um maravilhoso
drama que desenhou performances incríveis do nosso lado. Wes Brown fez uma de
suas melhores partidas pelo United e fez Ronaldo marcar nosso primeiro gol com
um cruzamento excelente.”
“Na semifinal do Chelsea, Michael
Essien jogou como lateral-direito, e eu decidi enquanto assistia o time de
Avram Grant que Ronaldo jogaria como ponta esquerda para tornar a vida de
Essien mais difícil. No nosso gol, Ronaldo pulou mais alto que Essien, então o
plano funcionou. Um meio campista jogando de lateral direito contra um atacante
brilhante como Ronaldo era pedir demais, e nosso homem o destruiu. Colocar
Ronaldo na esquerda abriu uma vaga para alguém jogar na ponta direita. Escolhi
Hargreaves, que era rápido, tinha energia e podia cruzar a bola. Ele fez bem
esse papel. No centro do campo tínhamos Scholes e Carrick, apesar de Scholes
ter tido que sair, pois sua respiração estava começando a ficar congestionada.
Giggs entrou em seu lugar e prosperou.”
“Gols podem colocar o jogo de
cabeça para baixo e o Chelsea aproveitou um momento de sorte logo antes do
intervalo, igualando com Frank Lampard, o que nós deixou com um pé atrás. O
Chelsea progrediu a partir dai e foi melhor por 25 minutos no segundo tempo.
Drogba chutou na trave. Esse foi o meu sinal para pensar rápido em como
voltaríamos a tomar as rédeas da partida. Eu mandei Rooney na ponta direita e
coloquei Hargreaves numa posição mais central, o que nos deixou no topo
novamente. No fim eu senti como se fossemos um grupo superior de jogadores.”
PÊNALTIS:
O
grande momento da noite foi à disputa de pênaltis. Com Cech de um lado e Van
der Sar do outro, era difícil prever quem brilharia. Pelo United, Tévez,
Carrick, Ronaldo, Hargreaves e Nani bateriam primeiro. Já do lado
azul, Ballack, Belletti, Lampard, A. Cole e Terry.
“Nosso
treinador de goleiros selecionou todos os vídeos de análise possíveis e
conseguiu mostrar a Van der Sar como todos os jogadores do Chelsea deveriam
bater. Por dias nós discutimos a ordem que nossos jogadores se apresentariam
para bater. Todos foram bem, além de Ronaldo, que estava marcando durante a
temporada inteira. A execução de Giggs era a melhor: forte e embaixo, dentro do
poste. Hargreaves chutava o seu no canto superior. Nani teve sorte, porque o
goleiro deveria ter salvado e chegou a tocar a bola. Carrick foi direto.
Ronaldo hesitou e parou.”
“John Terry tinha apenas que acertar o dele para vencer o jogo
para o Chelsea. Neste momento eu ainda estava calmo, pensando “O que eu direi
aos jogadores?”. Eu sabia que teria que ser cuidadoso com as minhas palavras na
derrota. Eu seria injusto se abatesse eles depois de uma final Europeia, porque
eles trabalharam tão pesado para chegar aqui e esses são momentos extremamente
emocionais para aqueles que estão no centro das atenções. Quando Terry perdeu o
décimo pênalti na sequência e fomos para as cobranças alternadas, meu otimismo
voltou."
Depois do escorregão de Terry, Anderson e
Giggs se apresentaram para cobrar, assim como Kalou e Anelka.
"O pênalti de Anderson, o
primeiro do faça-ou-morra, levantou nossos fãs porque ele foi comemorar com
eles, então eles ficaram felizes novamente. As cobranças foram feitas do nosso
lado do campo, o que era uma vantagem.”
Sem erros nos chutes, o título
estava, literalmente, nas mãos de Van der Sar.
“Eu devo dar créditos a Edwin van
der Sar pela inteligência nas defesas dos pênaltis. Quando Anelka andou até a
marca do pênalti, eu estava pensando – chute para sua esquerda. Edwin
continuava indo para sua direita. Então quando Anelka se aproximou de seu
"momento da verdade", ele deve ter sido o único jogador do Chelsea a
se perguntar “Ele vai se jogar para a direita ou para a esquerda?”. Van der Sar
continuava apontando para sua esquerda para desencorajar o jogador. Sim, o
pênalti de Anelka foi ruim, mas Edwin escolheu o lado certo.”
"Quando Van der Sar salvou o
chute de Nicolas Anelka para ganhar o troféu para nós, eu quase não consegui
sair do meu banco, pois eu mal acreditava que havíamos vencido. Eu fiquei
imóvel por vários momentos. Ronaldo ainda estava deitado na grama chorando
porque havia perdido seu pênalti.”
O CHELSEA:
Manchester United e Chelsea se
enfrentaram três vezes antes desse confronto. A primeira foi na final do FA
Community Shield, vencida pelos Reds nos pênaltis (3-0) depois do empate por
1-1. Depois, pela Premier League, o primeiro turno foi do United, com vitória
por 2-0 em Old Trafford, e o segundo dos Blues, com 2-1 em Stamford
Bridge. Na classificação final, o time de Manchester ficou em primeiro por
apenas dois pontos de diferença.
“Apesar de ter sido expulso da
partida naquela noite, Drogba sempre muito bom para nós. Ele era um cara muito
poderoso, mas o que o fez estar no meu livro foi o talento para gols
espetaculares. Eu fiquei surpreso de vê-lo fora da escalação durante uma partida
contra a gente nas últimas semanas de Carlo Ancelotti no cargo. Torres começou,
mas Drogba entrou, marcou e forçou o Chelsea a voltar para a partida."
"Daquele time do Chelsea,
que eu achei muito difícil de jogar contra, o goleiro, Petr Cech, era
sensacional. Eu deveria tê-lo contratado quando tive chance quando ele tinha 19
anos. Em vez disso, o Chelsea o levou naquele verão por 8 milhões de libras.
John Terry sempre foi influente no time deles. Ashley Cole sempre deu sua
energia indo para frente. E Frank Lampard era incrivelmente confiável e
consistente.”
A CONQUISTA E RYAN GIGGS:
A disputa de títulos com o
Liverpool, o maior rival do United, é inacabável. Ferguson lembra que o clube
esteve muito perto de igualar os troféus conquistados da Champions
League:
“Moscou foi um alívio, acima de
tudo, porque eu sempre disse que o Manchester United deveria conquistar mais na
Europa. Foi a nossa terceira vitória numa Copa Europeia (Champions League) e
nos deixou mais próximos das cinco do Liverpool. Sempre senti que igualaríamos
o Liverpool em um período razoável de tempo, mesmo depois das duas derrotas
para o Barcelona em 2009 e 2011, porque havíamos alcançado um respeito extra na
Europa. Com uma vitória em qualquer uma dessas finais, nós teríamos chegado
mais perto.”
O interminável Ryan Giggs, que
também esteve presente no título da Champions de 1999, completou 759 jogos pelo
clube em 2008. Ao encerrar a carreira em 2013, ele deixou a incrível marca de
945 partidas disputadas.
“Era por volta de 4 ou 5 horas da
manhã quando sentamos para comer. A comida era horrível, mas os jogadores deram
a Giggs um presente maravilhoso para comemorar que ele havia passado o recorde
de Bobby Charlton de mais jogos disputados. Era seu 759º jogo. Todos cantaram
seu nome no palco.”
MATT BUSBY:
Alex Ferguson pode ter sido o
maior treinador da história, mas ele disputa espaço com Matt Busby dentro o
Manchester United. Conhecido por treinar os Busby Babes, por ser um dos
sobreviventes do desastre aéreo de Munique em 1958 e por reconstruir os Reds,
Sir Matt sempre será um exemplo para todos que tem alguma relação com o clube.
Em 1999, a épica final da
Champions League foi disputada coincidentemente em 26 de maio, dia do
aniversário de Busby. Naquele ano o United conquistou o título com uma virada
histórica sobre o Bayern. Em 2008, ano do aniversário de 50 anos do desastre, o
time conseguiu conquistar a Europa mais uma vez. Sir Bobby Charlton disse que
foi ao treinamento naquela semana para contar sua história – ele
também sobreviveu ao acidente e se tornou um dos maiores da história – e
incentivar o elenco.
“A final de 1999 em Barcelona,
quando vencemos o Bayern, caiu no dia do aniversário de Sir Matt Busby. Algumas
vezes você espera que os deuses estejam com você ou que o velho Matt estivesse
olhando por nós. Não acredito muito em coincidências, mas não tem nada como o
destino e eu pensei se ele teria agido nas duas vitórias. Matt levou o clube
para a Europa quando a Liga Inglesa era completamente contra. Matt mostrava
estar certo, porque o futebol inglês teve muitas noites gloriosas na Europa.”
Todos os depoimentos de Ferguson
foram tirados do livro "Alex Ferguson - My Autobiography" e
traduzidos por mim.
Mariana Sá || @imastargirl
Linha de Fundo
|| @SiteLF
0 Comentários