No dia 29 de
maio Jérôme Boateng, zagueiro do Bayern de Munique e da seleção alemã, foi alvo
de declarações racistas por parte de Alexander Gauland, político ultraconservador
do partido “Alternativa pela Alemanha” (AfD). Ao jornal Frankfurter Allgemeine,
Gauland disse que "as pessoas podem
até considerá-lo um bom jogador, mas que ninguém gostaria de tê-lo com vizinho".
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'Jérôme, por favor se mude para perto de nós', diz o cartaz levado pelo jovem torcedor. (Foto: Christof Stache/AFP) |
Gauland foi
veementemente criticado por diversos nomes da política e do futebol alemão,
dentre eles o presidente da DFB, Reinhard Grindel, que afirmou à mesma
publicação que é "simplesmente de
mal gosto" explorar a popularidade de Boateng e da equipe nacional
para argumentar no debate político. O "Alternativa pela Alemanha" é
um partido populista, xenófobo e anti-imigração na Alemanha, que ainda é a
maior economia da Europa e recebeu mais de um milhão de imigrantes requerentes
de asilo só no ano passado. Lembrando que Boateng é filho de mãe alemã e de pai
ganês.
O Ministro da
Justiça, Heiko Maas, afirmou que a declaração é de "baixo nível e inaceitável". "Quem fala como Gauland deixa cair a própria máscara, e não só como mau
vizinho", disse. Para ele, a declaração é "simplesmente racista". Acrescentando, o vice-chanceler Sigmar
Gabrieldisse ao jornal Bild que "Gauland
está contra os estrangeiros e contra coisas boas que existem na Alemanha, como
a modernidade, abertura de espírito e a liberdade", acrescentando que
o partido de Alexander Gauland, o AfD, é "anti-alemão".
Diante da
repercussão do fato, Gauland negou ter insultado Boateng "como insinuado pelo Frankfurter Allgemeine",
disse. "Eu não o conheço e jamais
pensaria em rebaixá-lo como pessoa". Entretanto, Gauland não negou a
declaração. O jornal afirmou que a declaração foi dada numa conversa de Gauland
com dois jornalistas e reiterou que ela foi reproduzida corretamente. A
copresidente da AfD, Frauke Petry, pediu desculpas "pela impressão que foi causada", independentemente de Gauland
ter dado ou não a declaração.
Boateng que
fez parte da equipe alemã que ganhou a Copa do Mundo de 2014 nasceu em Berlim,
capital alemã, e é apenas um entre vários jogadores da seleção com origens estrangeiras.
Durante o amistoso entre Alemanha e Eslováquia, em Augsburg, diversos cartazes
e faixas foram vistos nas arquibancadas em solidariedade ao zagueiro, pedindo
para serem vizinhos de Boateng.
O racismo era
mais evidente em outras épocas, hoje existe uma consciência maior da
repercussão de uma atitude como essa, contudo, ainda presenciamos episódios
lamentáveis como aconteceu com Boateng em que a "liberdade de
expressão" é cretinamente confundida com a disseminação de um discurso de
ódio na nossa sociedade, igualmente nos casos de machismo e homofobia, não só
no meio do futebol. A pergunta é: até quando coisas assim vão acontecer?
Nota do colunista
Futebol e política sempre andaram de mãos dadas. Aliás, o próprio nascimento do esporte que conhecemos hoje foi fruto de uma vontade política e econômica. Como historiador apaixonado ensandecidamente pelo esporte bretão, trago histórias que mesclam o mundo do futebol com a política, cultura, paixão e a profundidade de vida. Não necessariamente nessa ordem!
Matheus Morais || @danosmorais_
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