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O triunfo de um Galo que carece de ideias

IndependĂªncia lotado, Monday Night do futebol brasileiro foi um sucesso de aceitaĂ§Ă£o entre os atleticanos. A vitĂ³ria veio, o grande Lucas Pratto retornou de um longo tempo no estaleiro, contudo, se vocĂª caro leitor espera uma crĂ´nica leve, branda... Muito se engana. Adianto que nunca fui um corneta, acho inclusive o termo pejorativo demais em um tempo em que nĂ£o sĂ£o toleradas opiniões diversas.

Ă€s vezes em alguns fĂ³runs de atleticanos se vocĂª tem a opiniĂ£o contrĂ¡ria, logo te chamam de corneta, de anti, etc..  Infelizmente tal comportamento nĂ£o se resume apenas ao AtlĂ©tico, discussões virtuais sobre cor de chinelo as vezes descambam para esse lado, enfim, essa Ă© uma falha educacional do brasileiro mĂ©dio, internauta, mas essa Ă© uma outra histĂ³ria. Voltemos Ă  bola que Ă© melhor.

Fonte: Portal Superesportes
Marcelo Oliveira enviou na segunda feira um time alinhado no 4-2-3-1 de sempre com Victor, Carlos Cesar, Ronaldo, Leo Silva, Douglas Santos, Rafael Carioca, Eduardo, Maicossuel, Robinho, Carlos (logo substituĂ­do por Pratto) e Fred. De cara nesse princĂ­pio de trabalho do nosso novo tĂ©cnico, identifico uma estrutura tĂ¡tica semelhante Ă  de suas Ăºltimas equipes. Cruzeiro e Palmeiras jogavam de forma semelhante. Contudo algumas crĂ­ticas atribuĂ­das ao trabalho de Marcelo, mesmo no vitorioso Cruzeiro e com muito mais frequĂªncia no Palmeiras, se repetem e se escancaram. O que quero dizer, os times de Marcelo tem muita dificuldade na transiĂ§Ă£o do jogo, principalmente defensiva.

A construĂ§Ă£o das jogadas Ă© falha, obrigando o time a apelar para os famigerados chutões. O jeito mais simples de se lançar para o jogo com a bola nos pĂ©s Ă© atravĂ©s da famosa “saĂ­da de trĂªs”. Esse movimento simples consiste em os zagueiros abrirem, um volante recua formando uma linha de trĂªs e a partir daĂ­ o jogo Ă© construĂ­do. Os outros jogadores por sua vez em movimentos coordenados dĂ£o as opções necessĂ¡rias para que a saĂ­da se execute, no caso dos laterais amplitude, no caso dos meias a ocupaĂ§Ă£o. Falando um portuguĂªs mais simples, os laterais devem abrir o campo, alargar o campo adversĂ¡rio para que a meia cancha fique menos congestionada e os meias possam buscar o jogo nos pĂ©s desse volante executante da saĂ­da de bola.

No caso do AtlĂ©tico a nĂ£o execuĂ§Ă£o dessa jogada simples Ă© algo gravĂ­ssimo, quase imperdoĂ¡vel, pois o mesmo time tanto com Levir Culpi, quanto com o questionado Diego Aguirre fazia esse movimento com perfeiĂ§Ă£o, tanto que as estatĂ­sticas de posse de bola do AtlĂ©tico sempre foram dominantes, principalmente em seus domĂ­nios e atĂ© mesmo fora.  AlĂ©m do fato de se ter no elenco um volante tarimbado, talvez o melhor do Brasil para se fazer esse jogo, falo de Rafael Carioca.

É atĂ© interessante a correlaĂ§Ă£o da queda de Rafael Carioca Ă  chegada de Marcelo Oliveira. Se a bola nĂ£o passa pelo meio campo, Rafael fica excluĂ­do do jogo, o que Ă© um desperdĂ­cio e tanto pela sua apurada tĂ©cnica (e nĂ£o me venham dizer que o mesmo marca com os olhos, nĂ£o tem pegada, seu jogo Ă© improdutivo. Pois se trata muito do contrĂ¡rio, se o jogo de construĂ§Ă£o de Rafael Ă© bem empregado, o time roda, controla as ações, domina o espaço, domina a posse de bola – indico a leitura de Guardiola Confidencial para o melhor entendimento dessa questĂ£o).

Bom, todo esse preĂ¢mbulo foi escrito para elucidar uma questĂ£o aparentemente simples referente ao Ăºltimo jogo. AtĂ© a entrada de Lucas Pratto aos 35 minutos do primeiro tempo, o Coxa dominou todas as ações ofensivas em pleno IndependĂªncia, o AtlĂ©tico nĂ£o conseguia trocar mais do que trĂªs passes, inĂºmeras bolas foram roubadas na construĂ§Ă£o. A linha de trĂªs meias se posicionava espetada, os laterais pouco subiam, nĂ£o alargavam o campo, enquanto os volantes se tornavam presas fĂ¡ceis Ă  um compacto Coritiba.

Fonte: Portal Superesportes
O AtlĂ©tico sĂ³ nĂ£o saiu atrĂ¡s do placar porque o time Paranaense Ă© pra lĂ¡ de limitado, candidatĂ­ssimo ao rebaixamento. Eu vi nos nossos rivais da ultima segunda organizaĂ§Ă£o e falta de capacidade tĂ©cnica, coisa que no AtlĂ©tico Ă© exatamente o contrĂ¡rio. Sobra individualismo, falta coesĂ£o. Seria injusto de a minha parte atribuir ao treinador tal culpa, visto que o mesmo tem muito pouco tempo de trabalho, mas como disse anteriormente nĂ£o vejo no AtlĂ©tico de Marcelo a execuĂ§Ă£o de movimentos simples, coisa que com um mĂªs de trabalho aparentemente pelo menos deveria incentivar seus jogadores a executarem.

A situaĂ§Ă£o clareou um pouco com a contusĂ£o de Carlos e a volta de Lucas Pratto. Com a entrada do Urso e todo o seu vigor fĂ­sico, por linhas tortas o AtlĂ©tico conseguiu reter a bola no seu campo de ataque. Pratto Ă© muito forte fisicamente, consegue segurar a bola com seu vigor e ao mesmo tempo obrigou o Coritiba a desmontar seu meio campo para marca-lo. Explico melhor, no 4-2-3-1 a dupla de zaga adversĂ¡ria toma conta de Fred, os laterais pegaram os pontas individualmente; enquanto os trĂªs volantes do Coxa cuidavam de Robinho e as vezes atacavam Rafael Carioca e Eduardo na SaĂ­da.

Mas na prĂ¡tica como os dois volantes alvinegros se posicionaram muito atrĂ¡s, distantes da linha de meias, Robinho estava sozinho sempre contra dois ou atĂ© trĂªs marcadores, o que torna seu jogo improdutivo, visto que o camisa 7 nĂ£o tem o vigor de outrora para com dribles quebrar a defesa adversĂ¡ria. Com a entrada de Pratto houve uma confusĂ£o na defesa do Coritiba. Pratto apesar de entrar na vaga de Carlos se posicionou mais centralizado, como uma espĂ©cie de ponta de lança, que Ă s vezes se juntava a Fred formando uma dupla de ataque.

Desse modo o atacante, aliviou Robinho, visto que no encaixe de marcaĂ§Ă£o o lateral esquerdo do Coxa ficou praticamente “inutilizado” enquanto os volantes tiveram que se virar contra o Urso que sempre levava vantagem na força fĂ­sica, sendo imprescindĂ­vel para a abertura de brechas na defesa adversĂ¡ria. Reparem no primeiro gol: quem estĂ¡ com a bola na direita Ă© Eduardo (nas poucas vezes que se esgueirou ao ataque). Carlos Cesar faz o overlap, tirando um dos marcadores do lance.

Os trĂªs volantes do Coritiba que se entrincheiravam dentro da Ă¡rea, saem como malucos em direĂ§Ă£o a Lucas Pratto que se posicionava livre na entrada da Ă¡rea, deixando no mano os dois zagueiros do Coxa e o Lateral direito contra Maicossuel atacando o primeiro pau, Fred Centralizado e Robinho no segundo pau. Em uma jogada aĂ©rea ficar no mano com zagueiros que marcam bola Ă© fatal. Todos se concentraram em Fred (a dupla de zaga, fecha no centro avante), porĂ©m a bola foi alçada com perfeiĂ§Ă£o na direĂ§Ă£o de Robinho que se desvencilhou facilmente de CearĂ¡, e nĂ£o teve trabalho nenhum em testar para as redes. Galo 1x0 Coxa aos 38’ do primeiro tempo.

Lance do Primeiro Gol. Reparem na trinca de volantes saindo em cima de Pratto deixando a zaga no mano com os trĂªs atacantes alvinegros
O segundo tempo começou, as dificuldades na saĂ­da de jogo permaneciam, mas como frisei anteriormente a presença de Lucas Pratto ajudava na permanĂªncia da bola no campo de ataque. Detalhe, Pratto nĂ£o fez uma grande partida, mas sĂ³ o fato dele estar ali foi o suficiente para organizar o nada organizado o momento ofensivo do AtlĂ©tico, contudo, por outro lado, com o passar dos minutos e pela grande quantidade de atacantes em campo, a defesa começava a ficar sobrecarregada, e o Coxa começava a explorar cada vez mais as costas dos laterais alvinegros, seja com Kleber saindo da Ă¡rea, seja com o folclĂ³rico Kazim Kazim, das contratações mais emblemĂ¡ticas do ano no futebol brasileiro, digno dos melhores jogadores de Football Manager.

E foi de uma jogada desse tipo que saiu o gol de empate. Contra-ataque, Kleber fez o pivĂ´. Carlinhos se lançou no ponto futuro de ClĂ¡udio Coutinho. Carlos Cesar sozinho contra dois adversĂ¡rios (e um espaço enorme a ser atacado) e caixa. Esse tipo de lance pelo lado direito da defesa alvinegra Ă© uma constante, gols e mais gols adversĂ¡rios saĂ­ram em jogadas parecidas. PivĂ´ e lançamento para a direita, quem lembra ai do gol do Danilo na final do Mineiro, a diferença que o Borges fez o pivĂ´ para a entrada da Ă¡rea e Kleber foi mais engenhoso e apenas deu um leve calcanhar para Carlinhos se projetar.  Galo 1 x 1 Coxa aos 30 do segundo tempo.

Lance do empate do Coxa. Carlos Cesar solitĂ¡rio contra dois adversĂ¡rios em projeĂ§Ă£o. Faltou suporte e faltaram pernas para os meias voltarem.

Parecia que o empate seria o placar final, se sinceramente meus amigos, era o resultado justo. O AtlĂ©tico jogou mal, muito mal. Contudo quando se tem qualidade em um lance Ă  peleja pode ser definida. E essa qualidade veio de uma jogada simples, porĂ©m incrivelmente eficaz. Virada de jogo e da visĂ£o de um jogador discreto e pouco falado: Douglas Santos. O lateral inverteu o jogo com precisĂ£o para Clayton (que finalmente entrou bem!) que teve uma avenida ao seu dispor. Com pulmĂ£o, espaço e opções dentro da Ă¡rea foi fĂ¡cil para o atacante encontrar Robinho novamente livre na ponta esquerda. Galo 2 x 1 Coxa aos 38 do segundo tempo.

Lance do Gol da VitĂ³ria. Reparem na inversĂ£o  de Douglas Santos e no Corredor a disposiĂ§Ă£o de Clayton.
Valeram os trĂªs pontos, valeu a volta de Lucas Pratto que serĂ¡ fundamental para a escalada, principalmente no segundo turno, mas Marcelo precisa trabalhar muito, precisa pensar melhor o jogo principalmente treinar muito situações em termos de construĂ§Ă£o de lances a partir da defesa. O AtlĂ©tico precisa de alternativas, precisa de organizaĂ§Ă£o. Contra adversĂ¡rios mais qualificados confiar na clarividĂªncia das estrelas Ă s vezes Ă© insuficiente.

P.S. Parece que ontem (terça-feira) o Galo fechou a contrataĂ§Ă£o do meia venezuelano RĂ´mulo Otero, camisa 10 da seleĂ§Ă£o vinho tinto, jogador de muito talento, bate muito bem na bola. Espero que sua adaptaĂ§Ă£o seja rĂ¡pida, pois na ausĂªncia de Cazares a presença de um organizador para o funcionamento da equipe Ă© imprescindĂ­vel. Vejam aĂ­ o golaço de falta que o “Grande Otero” fez contra o Equador nas eliminatĂ³rias para a Copa do Mundo.

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2 ComentĂ¡rios

  1. Sua crĂ´nica estĂ¡ excelente. Mas, o Marcelo Oliveira, enfrentou e enfrenta ainda contusões, cartões amarelos.
    A falha que estĂ¡ evidente que pode ser corrigida com Fabio Santos que estrĂ©ia sĂ£o duas ao meu ver: a primeira Ă© posicionamento da defesa, o sitema de 1 - goleito e dois da defesa somente teria efeito se os falso pontas viessem para a defesa quando os laterais descem. Afora isso Ă© levar gol mesmo como estĂ¡ a acontecer com o galo, por exemplo Botafogo e outros.
    Robinho, concordo com vocĂª precisa jogar como ou falso centroavante, o domĂ­nio de bola, visĂ£o de gol e tranquilidade para decidir se marcar ou distribui a bola, jĂ¡ Ă© conhecido e temido. Portanto, colocar Robinho de armador ou o Pratto como quis Achille, Ă© temerĂ¡rio, nĂ£o sai gol, boa marcaĂ§Ă£o, somente e jĂ¡ era o ataque que nĂ£o faz e a defesa que leva bola nas costas, literalmente.
    No mais, por mais que todos celebrem o Rafael Carioca, talvez eles esteja fora de posiĂ§Ă£o deveria colocar ele na posiĂ§Ă£o do xerife, pegador, destruidor de jogada para saber se ele tem potencial mesmo. Ele passeia e Ă s vezes o AtlĂ©tico joga com 10 pois a bola custa passar por ele e sua caracterĂ­stica Ă© bola no pĂ©, ele nĂ£o corre atrĂ¡s, distribui bem a bola, mas em algumas partidas erro muito e distribui bolas certas, jĂ¡ desenhadas que nĂ£o acrescentam ao volume. Acredito que o meio de campo do Galo na ausĂªncia de Leandro Donizetti fica vulnerĂ¡vel demais e falta alguĂ©m com pegada e liderança neste setor, quem colocar?
    Abraços.

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