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Brasil/RS, um tsunami de emoções e felicidade

Acordei.  Eram oito e trinta e oito da manhã. Às pressas fui tirar a água do joelho. Um frio gostoso aconselhou-me a voltar para a cama novamente e não me fiz de rogado. A conversa via facebook que tive com o Artur Pinheiro Martins (torcedor do Goiás e colaborador no blog Linha de Fundo) ponteou meus pensamentos antes mesmo deu mijar. Será que o Brasil vai sentir o peso do Walter? O time goiano vem a cinco rodadas sem perder e o Artur só fala do Walter. É muita confiança para o meu gosto.



Curioso que sou, fui bisbilhotar o tio Google. Descobri muita coisa boa desse atleta, mas para dar uma de corneteiro, vou destacar o seu ponto fraco. Walter adora biscoitos. Daí, indico a Fábrica de Biscoitos Zezé, aqui da Princesa do Sul, que desde mil novecentos e sessenta e oito dá show em qualidade e variedade. Lá tem biscoitos doces, salgados, sucos e até macarrão. Um oásis para os chegados num tira-gosto com origem no trigo.

Ainda falta uma eternidade para o jogo. O que vai ser de mim até logo? Melhor deixar o Walter de lado e meter o pau no horário da partida. Dezenove horas e quinze minutos! Isto é hora de doente jantar nos hospitais da vida senhor Renato Ribeiro. Tomara que o novo diretor de esportes da Rede Globo leia estes rabiscos. Vá que cole?!?!?!

Treze e treze da tarde e eu aqui mais a mil que petista pós-impeachment. Que me perdoe Karl Marx, mas seria o futebol o ópio do povo? Talvez seja, porque o País está estraçalhado por partidos incompetentes e eu, de camarote, festejando de antemão a campanha de meu Time. Neste momento entra o horário político e as “promessas” vertem mais que gols no campeonato. Melhor desligar a tv e esperar a hora do jogo.

Dezoito horas e trinta minutos, não dá mais para esperar. Parti rumo ao Estádio Bento Freitas. Uma neblina mansa afaga minha cara. O coração dispara feliz acreditando em mais uma vitória Rubro Negra. O ritmo da avenida JK é frenético. Todos correm; carros, motos e gente, muita gente. Eu vou sozinho, a pezito no más, brigando apenas com minha ansiedade.



Enfim cheguei na verdadeira “Casa do Povo” e, de cara, a Xaranga Garra Xavante saudou-me enquanto afinava a batucada. Entrei no Estádio apressado. Queria ver se tinha algum torcedor do Goiás. Acho que esse contato via Linha de Fundo fez eu ter um certo carinho pelo time goiano. Ou seria a curiosidade em ver Walter novamente jogando contra o meu Brasil? Uma cena cutucou meu coração. Dois torcedores lutavam para manter esticada uma bandeira verde e branca que tombara ante a força do vento. Sou do tempo em que as bandeiras reinavam absolutas nos estádios e ver aquele casal tratando o pavilhão deles com tanto carinho foi emocionante.

Um último instante de equilíbrio visto que os dois times estavam perfilados em respeito ao Hino Nacional. Enfim, o juiz trilou o apito dando início ao combate Martini X Walter. Tche! Não deu nem prá arrancada. O goleiro Xavante esteve quase perfeito enquanto Walter ciscou prá cá, ciscou prá lá, mas não marcou nenhum gol.

A vitória do G. E. Brasil era mais do que esperada por mim e por toda a Nação Xavante. Mas não dá para negar a grandeza dos adversários que aportam aqui no Bento Freitas nesta Série B. E com o Goiás não foi diferente. Apesar da insistência em permanecer na ribanceira, o time goiano é bom e provavelmente vá escapar da degola.



Eu ainda estava chutando vento, nervoso quando Marlon bateu o escanteio e Felipe Garcia se antecipou ao goleiro goiano e mandou a gorduchinha para os barbantes. Meu rádio, coitado, estava guardado no bornal feito de brim que carrego sempre comigo. Afinal, a partida iniciara praticamente na “Hora do Brasil”. Felizmente minha Canon registrou o momento numa das fotos mais importantes para os meus arquivos. Eram nove minutos de jogo e finalmente meu berro pode expressar toda a minha felicidade.

Ainda no primeiro tempo, dezessete minutos, o Goiás reage e faz um gol meio espírita. Foi um solavanco que quase desestabilizou a Equipe de Zimmermann. Numa cobrança de falta lá do meio da rua a bola viajou amorcegada e roçou na canela do Capitão Leandro Leite traindo o goleiro Eduardo Martini. Sem milagre, não teve jeito. Estava empatada a partida.


O negócio foi tão estrambólico que até um cachorro preto entrou no gramado. O cusco partiu em desabalada carreira em direção a “Goleira de Fundos” qual aviãozinho de papel. Mesmo diante do gol adversário, a Torcida Xavante (que sabe apreciar uma boa baderna) entrou na farra também e gritava como se já ganhara o campeonato. Mas, num raciocínio rápido, o guaipeca se deu conta que o gol foi contra e tratou de escolher alguém para arrancar um naco da bunda. E o escolhido foi o lateral Juninho do Goiás Esporte Clube. Tche! Nem Usain Bolt correu tanto assim. Felizmente a turma do deixa disso entrou e prontamente carregou o carnívoro para fora do Estádio. Vida que segue, o negócio era o Brasil partir prá cima e definir a partida logo de uma vez.

Mas não estava fácil porque o Goiás criou asas, engrossou mais o jogo e queria botar banca a qualquer custo. Até que, aos quarenta e um do primeiro tempo, numa bola levantada na área goiana, Patrick tenta cortar de cabeça e quase mete um golaço contra. O goleiro Ivan salvou mandando a bola para escanteio, mas minha premonição dizia que a vitória seria Xavante no segundo tempo.

E veio a etapa derradeira. O Brasil jogava bem, mas aquela ansiedade que eu já tinha despachado cutucava meus miolos. “Pôh! Meu Deus dá uma foça aí Véinho!” eu pensava olhando pros céus. O Time está bem, eu sei. Um pontinho contra o Goiás é importante, mas eu quero mais.


E não é que, aos vinte e um minutos veio aquela pintura de gol do Elias? Durante o jogo todo deu para ver que os zagueiros do Goiás são “meio quadradão”, passam batidos e isto é facilmente comprovado na barbaridade de gols que sofreram até aqui. Mas o que o Elias fez não é brincadeira, não. Foi de lavar a alma e, por mim, o juiz terminava a partida ali mesmo.


A festa estava completa e não dava para reclamar dos gols incríveis que Ramon e Elias perderam. Numa partida muito disputada, o Brasil venceu com Eduardo Martini, Weldinho, Cirilo, Leandro Camilo, Marlon, Leandro Leite, Washington, Diogo Oliveira (Marcão), Felipe Garcia, Elias (Nathan) e Ramon (Gustavo Papa).

Agora são trinta e nove pontos ganhos, onze vitórias, seis empates, vinte e sete gols pró, um saldo positivo de sete e ainda temos o goleador absoluto da competição, Felipe Garcia, com doze gols. Ali, mano a mano com a turma de cima, dá para sonhar com a Série A e, se o Vasco bobear, com o título.



Bem, chegando em casa fui direto ao dicionário para achar um adjetivo para o jogo de hoje. O velho Francisco da Silveira Bueno, de mil novecentos e setenta e cinco, ficou mudo. Pasmo, não conseguiu definir a partida de hoje. É isso gente, sem palavras para definir tamanha tsuname de emoções e felicidade.

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