O fim da espera de 22 anos foi o
que melhor marcou o ano de um Palmeiras que parecia disposto a mais uma
temporada caótica e de mais baixos do que altos – como tem sido a maior parte
neste século.
A demissão de Marcelo Oliveira e
a posterior chegada de Cuca, porém, mudaram radicalmente um 2016 que começou
péssimo: Eliminação na primeira fase da Libertadores, sufoco para se
classificar no Paulista e mais uma goleada vexatória (desta vez para o
fraquíssimo Água Santa, clube que acabou rebaixado).
O segundo semestre alviverde, em
contraste ao primeiro, foi o melhor possível. Um time sólido, organizado e
competitivo que praticamente não perdeu pontos e terminou com a melhor campanha
de turno desde que os pontos corridos passaram a ter 20 times. O título acabou
sendo consequência disso tudo.
(Foto: Diário de Pernambuco) |
Marcelo Oliveira não resiste a um começo ruim
Após vencer a Copa do Brasil em 2015, o Palmeiras
entrou como grande incógnita para a temporada de 2016. A verdade é que o time
não convenceu mesmo com a conquista no ano anterior (o título foi mais
atribuído à torcida do que uma organização tática de Marcelo Oliveira) e uma
campanha abaixo do esperado no Brasileirão.
A estreia com vitória fora de casa diante do
Botafogo-SP até animou, mas a realidade bateu nos jogos seguintes: cinco
partidas e nenhuma vitória – e entre elas derrotas para Linense e Ferroviária
(ambas por 2x1) no Allianz Parque e empate com o São Bento (2x2) no Pacaembu.
Os resultados ruins do Paulistão eram apenas um
agravante a um campanha oscilante na Libertadores. A vitória por 2x0 para o
Rosário Central não foi suficiente para esconder uma dos piores jogos da
temporada e que só não acabou em resultado pior por conta de uma atuação
estupenda de Fernando Prass que pegou até pênalti.
A rodada seguinte foi a última de Marcelo comandando o
Verdão. Derrota em casa para o Nacional-URU mesmo jogando o segundo tempo
inteiro com um jogador a mais (os uruguaios ainda tiveram outro expulso perto
dos quarenta minutos da etapa final) que foi imperdoável. Com três meses de
atraso, Marcelo foi demitido – coisa que já deveria ter sido feita em 2015
mesmo com a conquista da Copa do Brasil.
E agora, Cuca?
(Foto: Torcedores.com) |
Para o lugar de Marcelo Oliveira, o nome da vez era de
Cuca. Palmeirense, mas com fama de azarado nas retas finais dos campeonatos, o
treinador chegou bastante contestado pela torcida palmeirense e muito longe de
ser uma unanimidade. O começo não foi dos melhores: foram quatro derrotas
seguidas.
Cuca assumiu o time pela primeira vez em uma pedreira:
o Nacional-URU, fora de casa, pela Libertadores. No final de semana, Valentim
havia comandado o time que venceu o São Paulo por 2x0 no Pacaembu. Com algumas
mudanças no time titular, o Verdão até não fez um jogo ruim, porém acabou superado
pelos uruguaios por 1x0.
No Paulista, as coisas pioraram. Derrotas para Audax e
Red Bull (ambas por 2x1) colocaram o time em uma situação complicada. Nada que
não pudesse piorar: o Palmeiras seria goleado na rodada seguinte pelo Água
Santa e terminaria a rodada fora da zona de rebaixamento no saldo de gols.
Saindo do fundo do poço
“Tomara que tenha chegado ao fundo do poço, porque
de lá não passa”. Foi assim que Cuca resumiu o espírito palmeirense após a
vergonhosa goleada para outro time dos mais fracos da competição. E, de fato,
ele acertou. De lá em diante, o time melhorou e reagiu.
A vitória por 3x0 sobre o Rio Claro, com direito a um
golaço de Gabriel Jesus, deu o alívio que o treinador precisava para tentar
algo melhor diante do Rosário Central – jogo que valia a vida na Libertadores
diante do uma equipe que não perdia há muitos jogos em seu estádio. Uma boa
exibição valeu um empate por 3x3 mesmo com um a menos.
A vida de Cuca realmente melhorou após a 14ª rodada do
Paulistão. O clássico contra o Corinthians teve um dos lances mais emblemáticos
da temporada. Ainda em situação delicada e jogando melhor, o Verdão viu o juiz
marcar pênalti para o rival. Fernando Prass defendeu e, no lance seguinte, Dudu
marcou (de cabeça) o gol da vitória. Na comemoração, roubou um boné em menção
ao “chapéu” nos rivais.
Vencer um Derby faz toda diferença na vida dos
paulistanos. E virou de vez a chave no alviverde. A goleada sobre o River
Plate-URU não foi suficiente para evitar a eliminação precoce na Libertadores,
mas deu ânimo para o resto da temporada. Diante de um início trágico, vencer o
Mogi Mirim e classificar-se para a segunda fase do Paulistão não parecia tão
ruim assim.
A promessa do bruxo
Com ambiente muito melhor, o Palmeiras melhorou o
astral para a reta final do Paulistão. Já com Roger Guedes, decisivo já nas quartas
de final contra o São Bernardo, e em vias de acertar com Tchê Tchê, o Verdão
ficou nas semifinais ao perder nos pênaltis para o Santos após reação heroica:
empatou partida que parecia partida com dois gols já depois dos quarenta
minutos.
Após a partida, Cuca prometeu que o time seria forte
no Brasileiro – o que já havia afirmado na eliminação da Libertadores -,
acrescentando ainda que o time seria campeão. A promessa foi reforçada antes da
estreia no Brasileirão contra o Atlético-PR quando o Palmeiras goleou por 4x0 e
deixou boa impressão.
Início irregular no Brasileirão
A empolgação da torcida após uma boa estreia, com
direito a faixa “Estamos juntos rumo ao título” (o que de fato se comprovou ao
longo do campeonato), logo se converteu em dúvida. Fora de casa, o Verdão não
conseguia fazer boas apresentações.
Foi assim que o time de Cuca manteve 100% de
aproveitamento como mandante nas primeiras rodadas, vencendo também Fluminense
e Grêmio, mas sucumbiu diante de Ponte Preta e São Paulo, ainda que reclamando
da arbitragem em ambas as partida, bem como contra o Grêmio.
A dificuldade em vencer fora de casa acabou diante do
Flamengo, em jogo marcado por torcida dividida graças a uma boa invasão
palmeirense em Brasília. A vitória por 2x1 foi tranquila e novamente contou com
reclamação: o juiz ignorou um pênalti escandaloso para o alviverde. A vitória
seria ainda mais importante do que parecia ao longo do certame.
Verdão embala e encanta
(Foto: ESPN) |
Ainda com novidades no estilo de jogo, o Palmeiras
passou a ser um time difícil de ser marcado. Com uma equipe extremamente
ofensiva e nenhum volante puramente marcador, a velocidade de Dudu, Gabriel
Jesus e Roger Guedes confundia as marcações adversárias. Cuca aproveitou uma
sequência mais tranquila após vencer o Corinthians por 1x0 – outra vez
dominando amplamente o grande rival – para embalar.
O empate contra o Coritiba no último minuto e polêmica
de sinalizador foi um tropeço inesperado antes de vencer com propriedade Santa
Cruz e América-MG, este último com direito a uma grande partida de Roger Guedes
quando dirigentes do Barcelona vieram assistir ao vivo Gabriel Jesus – que
posteriormente seria vendido ao Manchester City.
O grande susto
Após um momento de maior solidez e de bons resultados,
o Palmeiras oscilou bastante na reta final do primeiro turno. Perdendo Prass
(lesionado) e Gabriel Jesus (seleção brasileira), uma grande dúvida cresceu
sobre a continuidade dos bons resultados. Coincidência ou não, foi justamente o
período de maior sofrimento para o elenco palmeirense.
O empate contra o Santos, na 14ª rodada e ainda sem os
desfalques importantes, foi o primeiro tropeço dentro do Allianz Parque e
acendeu o sinal de alerta que seria reforçado sem Prass: Vagner foi muito mal
quando entrou e o Verdão ficou três partidas sem vencer pela primeira vez –
derrotas para Atlético-MG (a primeira dentro de casa) e Botafogo, além de um
empate contra a Chapecoense.
Muito prazer, Jailson
(Foto: Verdão Web) |
Os jogos ruins de Vagner fizeram Vagner dar
oportunidade para o então terceiro goleiro Jailson. Aos 35 anos e estreante na Série
A, o veterano goleiro estreou literalmente com o pé direito – foi com ele que
Jailson evitou gol do time baiano logo no começo. Com a mão direita, já no
final do jogo, ele garantiu os três pontos da partida.
E ele não deu apenas conta do recado, como ainda se
tornou peça fundamental na conquista. Com ele no gol, o Palmeiras não perdeu
mais no Brasileiro e Jailson, palmeirense desde pequeno, ainda foi decisivo em
vários jogos. Na única derrota em todo returno (para o Santos, na Vila Belmiro,
Jailson estava suspenso).
Um novo Palmeiras
Não foi apenas no gol que o Verdão teve mudanças para
a fase final do certame nacional. Cuca mudou o time no seu modo de jogar para
suprir as ausências importantes e vencer as marcações, que cada vez mais
entendiam a maneira de parar o ímpeto ofensivo palmeirense. A velocidade do
trio de ataque perdeu espaço para o jogo consistente e as bolas paradas. O meio-campo
sem marcador passou a ter mais presença de Gabriel e Thiago Santos.
E esse novo time mostrou seu estilo na primeira
partida do returno quando venceu o Atlético-PR fora de casa com gol de Vitor
Hugo em cobrança de escanteio. Seria a única derrota do Furacão dentro de casa
em todo campeonato.
A sequência difícil que veio reforçou esse novo
conceito de jogo. O Palmeiras passou a não ter a mesma facilidade em casa,
vencendo com dificuldade o São Paulo em uma grande partida de Dudu (e com dois
gols de jogada aérea), além de empatar com a Ponte Preta por 2x2. Fora, porém,
era cada vez melhor. Assim venceu com facilidade o Fluminense e empatou com o
Grêmio.
Cheirinho?
As duas rodadas seguintes seriam decisivas para o
título palmeirense, embora parecesse cedo para uma conclusão do tipo. Com os
desfalques o crescimento do Flamengo na tabela, muitos da imprensa passaram a
entrar na onda da torcida flamenguista com o tal “cheirinho”, além de lembrar o
campeonato de 2009. Críticas ao Palmeiras passaram a vir com força de todos os
lados da imprensa, em especial com a alcunha de “Cucabol”.
Com esse espírito, o Flamengo quase complicou de vez a
vida palmeirense. Mesmo jogando com um a mais quase toda partida e dentro de
casa, o Verdão sofreu para conseguir um empate contra o time carioca. Gabriel
Jesus salvou o time mais uma vez e já no final da partida.
A vitória contra o Corinthians, fora de casa e em um
momento em que o rival ainda era forte no seu estádio, foi fundamental e foi
muito repetida entre os jogadores como grande partida do ano (Tchê Tchê, Moisés
e Dudu, além do próprio Cuca, elegeram essa como grande vitória da temporada).
Um tropeço faria o Flamengo assumir a ponta, mas Moisés e sua comemoração de
profeta mantiveram a liderança verde.
Cheirinho verde, cheirinho de porco!
Não adiantou toda a pressão da imprensa e a defesa
inexplicável de um Flamengo que foi abraçado por todos os lados. A péssima
exibição diante do Cruzeiro pelos flamenguistas foi transformada em vitória
heroica. Enquanto isso, quieto, Cuca seguia mostrando sua estrela com invenções
decisivas.
Foi assim que o Verdão emendou vitórias importantes
contra Coritiba, quando Leandro Pereira entrou e marcou gol decisivo, Santa
Cruz, quando lançou Zé Roberto no meio e este marcou um belo gol, além do
América-MG. Nem o tropeço contra o Cruzeiro (empate por 0x0) foi capaz de tirar
foco de um time cada vez melhor organizado e que poucos riscos corriam.
Assim, o Palmeiras seguiu vencendo seus adversários
até tropeçar no Santos – jogo que marcou a única derrota alviverde em todo
segundo turno. A resposta veio imediata na rodada seguinte: Cleiton Xavier,
autor de mais um gol decisivo mesmo em uma temporada ruim, garantiu os três
pontos em um jogo mais brigado do que jogado.
Fui, partiu, o ênea é do Palestra
O time parecia pronto para ser campeão. As rodadas
finais apresentavam jogos favoráveis e cada vez mais era questão de tempo. A
dúvida que ainda restava entre alguns palmeirenses se foi com o empate fora de
casa contra o Atlético-MG. Apesar de um começo horrível, o Verdão voltou a ter
Gabriel Jesus decisivo e quase saiu vitorioso de campo.
O dia ainda marcou um dia feliz para o torcedor
alviverde fora das quatro linhas. Brigado com a imprensa, viu Moisés questionar
uma emissora ao vivo pelo tratamento diferente entre as “invasões” nos
aeroportos e Gabriel Jesus falar palavrão ao vivo ao reclamar de Leandro
Donizete. Não tinha jeito, o título era do Verdão.
As vitórias magras voltaram a se repetir contra
Botafogo e Chapecoense. Dudu, um dos grandes destaques ao longo do campeonato,
marcou de cabeça diante do alvinegro carioca, assim como fizera contra o
Corinthians no Paulistão. Fabiano fez o gol do título ao melhor estilo Cucabol:
elenco e bola parada.
O Palmeiras que voltou a vencer o Brasil mostrou sua
solidez na despedida diante do Vitória, em Salvador. Mesmo com um time quase
inteiro reserva, venceu o rubro-negro baiano de virada e garantiu a marca de
melhor turno da história em pontos corridos com vinte times, além de outras
marcas do campeonato. Em um ano que começou trágico, o título brasileiro depois
de 22 anos foi para lavar a alma.
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