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A seleção despertou o nosso maior sintoma de inautenticidade

29 de março de 2016. Há exatamente um ano, o Brasil conseguia empatar, após de uma atuação muito fraca, a partida contra o Paraguai após estar perdendo por 2 a 0, com gols de Ricardo Oliveira e Daniel Alves, no último lance do jogo. A seleção de Dunga mais uma vez não conseguia uma atuação boa e convincente e saiu no lucro com esse empate no Defensores del Chaco.

Na época, o Brasil estaria fora até da zona de repescagem das Eliminatórias para a Copa da Rússia. “Será que a única seleção presente em todas as copas ficaria de fora?”, “Será que vamos nos classificar?”. Foram as perguntas feitas por um torcedor após uma campanha ridícula: Duas vitórias, uma derrota e três empates e zero atuações de acordo com o tamanho da Seleção Brasileira.

Ah, mas tudo bem.. A Copa América vem aí e tudo vai voltar ao normal”. É, no final das contas esse torcedor estava certo, mas chegaremos lá. Nos Estados Unidos, teríamos Equador, Taiti e Peru no nosso grupo. Desses, só conseguimos vencer da forte seleção da América Central e nem nos classificaríamos para as quartas de final, graças ao gol de Raul Ruidíaz.

Eu odeio essa seleção, tem mais é que perder mesmo e ficar fora da Copa pra ver se aprende!”.

Foi isso que aquele mesmo torcedor disse. Nesse momento, ele estava pensando em largar tudo e começar a torcer e acompanhar alguma seleção europeia. “Vai me dar mais alegrias!” – disse o revoltado torcedor.

Eis que chegou Adenor. Para os mais íntimos, Tite. Vindo com o prestígio de ser considerado o maior técnico da história do Corinthians, ele assumia o cargo na seleção em busca de, praticamente, um milagre: Colocar os “pingos nos is” e restabelecer o nome do Brasil no mundo do futebol.

Tite é bom, mas essa seleção não tem solução” – publicou o torcedor em todas as suas redes sociais.

O treinador teria doze partidas para tentar reverter toda essa situação e tentar chegar perto da Rússia. Em um terreno cheio de tristeza, Tite plantou trabalho e confiança. Nos primeiros jogos, o primeiro sinal de nesse lugar nasceria um lindo jardim: 3 a 0 contra o Equador em Quito e 2 a 1 contra a Colômbia em Manaus. Com um Brasil muito mais bonito de se ver e com Gabriel Jesus, venceríamos as duas primeiras batalhas com o novo técnico.

"Convocar Paulinho e Renato Augusto? Nem eu que não sou técnico convocaria dois jogadores da China pra seleção. Isso é piada" – mesmo com as vitórias, o torcedor continuava reclamando.

Tite conseguiu misturar de uma maneira perfeita jogadores de sua confiança com jogadores que estão brilhando nos campos à fora. O meio-campo é uma engrenagem com a cara do treinador e que só funciona se três itens estiverem juntos: o próprio Tite, Renato Augusto e Paulinho. Os contestados meio campistas, junto com Casemiro, são a espinha dorsal de uma equipe muito forte defensivamente – desde que Tite assumiu, o Brasil só levou dois gols.

A defesa não era o único ponto forte dessa equipe. Em um 4-3-2-1, além da eficiente trinca no meio de campo, vemos Neymar e Phillipe Coutinho jogando no auge do seu futebol: Livres para circular sob todas as partes do campo e com o auxílio do atacante e de um volante surpresa (que sobe ao ataque, surpreendendo a defesa adversária), os dois vem apresentando um futebol invejável e marcando belos gols.

"Brasil voltou a jogar bem, mas tem a Argentina aí agora. Duvido que vão passar do Messi assim..."

Dito e feito. Na volta ao Mineirão, um sonoro 3 a 0 nos nossos maiores rivais. Pra colocar a cereja no bolo, 2 a 0 no Peru em Lima. Liderança e vaga para a Copa do Mundo praticamente encaminhada. E isso tudo em apenas seis jogos.

Por um tempo o torcedor ficou longe das redes sociais. Disse que teve um problema com a sua internet.

Alegria! A nova cara da Seleção! (Foto: Pedro Martins/ MoWa Press)
29 de março de 2017. Brasil é a primeira seleção do mundo classificada no campo para a próxima Copa do Mundo. Tite: 8 partidas. 8 vitórias. 24 gols marcados. O Brasil de Tite seria o primeiro colocado das Eliminatórias mesmo se tirássemos os pontos conquistados com Dunga. 4 a 1 no Uruguai e 3 a 0 no Paraguai com uma equipe que enche os olhos de qualquer um. Padrão tático, ataque e defesa.

"BRASIL! Eu te amo, Tite!! Rumo a Rússia!!!" – postou o torcedor ontem, após o jogo na Arena Corinthians.

A Seleção Brasileira despertou a inautenticidade de cada um. Muitos morderam a língua por desacreditar na pentacampeã do mundo quando estávamos em uma situação ruim. Esse torcedor, que é só mais um que foi pego na sua própria contradição. Antes, criticava e jurava que não ia mais ligar pra seleção. Hoje, ama e comemora a classificação – e com razão.

Mas, cá entre nós, a camisa da Seleção é muito pesada pra ela ficar de fora de uma Copa do Mundo. Mais do que a classificação, Tite trouxe pra gente a esperança de que podemos sim lutar pelo Hexa. Por ora, temos que manter os pés no chão e continuar o trabalho que vem sendo feito.

Até a Rússia.

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