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Real Sociedad de Fútbol, a prova de que amor à distância é foda, mas também é possível

Esquadrão de 2002-03, obrigado por não ter saído de minhas lembranças (Reprodução)

Desculpe o textão, mas é que hoje o dia foi foda.
Desde 2009, quando decidi “simpatizar” por aquele time de escudo diferente que vagava pela segunda divisão da Espanha por causa de lembranças de 2002-03, quando esse mesmo time teve a ousadia de fazer frente aos poderosos galácticos de Madrid, no autêntico estilo vilão que a mídia brasileira retratava, querendo o melhor pro Ronaldo Fenômeno e consequentemente o pior para aqueles bascos de nome estranho, talvez eu já soubesse aonde poderia me meter, mas juro que a atração foi inconsciente mais que tudo. Aquele time simplesmente não saiu das minhas lembranças!
Sabia que, uma vez torcendo pra essa tal Real Sociedad, a relação seria a distância. Não de uma maneira óbvia, geográfica, mas midiática também. Hoje até não existe muitas barreiras graças a internet mas, se você perceber, ainda existe uma barreira específica que se adaptou até mesmo ao boom tecnológico e a globalização, que é justamente essa barreira midiática. E eu por uns bons anos sofri com isso, amadurecendo minha paixão pela Real Sociedad por meio do videogame mais do que tudo. Jogando, pesquisando sobre os jogadores quando os dados do celular da época permitiam e assim, pra resumir as ideias, as coisas foram acontecendo: o time subiu (“Yes! Estarão no PES! Vou poder jogar com eles!”), penou dois anos em posições baixas enquanto eu tomava conhecimento da grandeza de um Mikel Aranburu, Xabi Prieto e Claudio Bravo, ao mesmo tempo que via Griezmann surgindo. Depois o grande quarto lugar do 2012-13, Carlitos Vela brigando contra (e vencendo) o flop no nosso time, as subidas tímidas, mas firmes, de patamar dessa equipe que, à sombra de seu rival Athletic Bilbao, e apesar de aceitar forasteiros, tinha uma convicção comovente da base, sofrendo sempre com os olhos predadores do “símbolo basco” que são os leoninos.
Os anos passaram e, ao fim da minha formação como jornalista, decidi escrever sobre esse clube num blog, este blog, que caminha pra 1 ano de vida. Depois de Champions, Europa League, escolhas erradas de treinadores até o estabelecimento de Eusebio Sacristán. Foi com ele que trilhei essa jornada criticando, elogiando, cornetando e testemunhando o time voltar a figurar em posições europeias. E aí veio o fim da temporada. A primeira depois de dedicação intensa. Senti uma saudade que não esperava.
A relação continua sendo à distância, mas me senti mais pertencido que nunca a essa equipe porque falei dela, cobri ela, e por conta própria. Estava mais ansioso que nunca pela LaLiga 2017-18. Cobri a pré-temporada de olho no time, nas chegadas e retornos de Januzaj e De la Bella, respectivamente, e queria mais do que nunca ver a Real Sociedad ao vivo na sua volta.
Mas era na hora da aula de inglês.
“Ok, eu me viro! Vejo o minuto a minuto, capricho no pré-jogo…”.
Acabou a internet. Não tem pré-jogo.
Resultado de imagem para wifi disconnect
(Reprodução)
Essa foi pra acabar.
O jeito foi prometer, sem graça, caprichar no pós-jogo na minha página do facebook. Talvez lendo o post do facebook agora pareça presunção ter dito naquele momento que esse texto seria tão foda assim.
Sobre o texto, peço desculpas antes de tudo, mas a verdade é que se algo foi foda hoje, foi o meu time.
Foi foda conseguir conexão no Wi-Fi com o jogo 2 a 1 para o Celta aos 73 minutos. Preparar um post e, antes de publicá-lo, verificar novamente o placar:
Dois a dois, minuto 80.
Muda o post que empatou!
Avisa o seguidor que o jogo tá passando no Fox Sports, mesmo sendo irônico que você mesmo não pode e nem verá o que resta da partida ao vivo.
Carrega… carrega… CARREGA!
Carregou.
Sem título1
(Reprodução)
Vamos ver como está o jogo agora… Minuto 87… O QUÊ? VIROU? WILL JOSEPH, ESSE LINDO?
Tem que postar de novo! Agora com foto dele, tem que ter foto dele!
Carrega… meu Deus, tem foto, não vai carregar nunca!
Enquanto vai carregando, tenho tempo de dizer mentalmente como esse time é foda até voltar a ficar nervoso sem saber como o jogo estaria agora.
Carregou!
Sem título2
Olha essa foto high definition. Isso demorou um parto pra carregar! (Reprodução)

Vamos ver de novo. Acréscimos.
Acréscimos eternos. CINCO MINUTOS DE ACRÉSCIMOS! A impressão é que eu conseguiria carregar uma postagem de filme durante essa eternidade.
Ufa!
Foi estranho quando o Google informou o fim de jogo. Não tinha torcida vibrando, narrador, comentarista. Eram apenas letras frias no celular. Era eu na aula não podendo sequer mudar a fisionomia sem chamar a atenção dos colegas ou, sei lá, tomar um sermão em inglês da teacher. Imagina tomar um sermão em inglês! Será que passarei por isso num outro sábado? Cara, vai ser isso todo jogo de sábado agora?
Hoje foi a vitória mais distante de toda a minha relação distante com esse time. Distante na geografia e na mídia, e ainda distante na internet durante todos os então 73 minutos de derrota. Quis o destino que a tecnologia voltasse a tempo do gol de Juanmi aos 80, que resistisse, ainda que lenta, a remontada de William José, e que me proporcionasse a maior tensão já sentida num jogo de futebol de um time que nunca tive a chance de pisar em seu templo, mas dessa vez sem me deixar ver esse templo nem por uma tela que seja. Era um reloginho, um placar e o desejo que nada daquilo mudasse, nada, que tudo permanecesse igual, até aparecer logo o “jogo encerrado” e ponto final.
Hoje foi a vitória mais foda de toda a minha relação foda com esse time.
Sem título
(Reprodução)
Ficha técnica:
RC Celta: Sergio, Hugo Mallo (c), Cabral, Fontás, Jonny, Wass, Radoja, Jozabed (Lobotka, min. 76), Iago Aspas, Sisto, Maxi Gómez (Pablo Hdez., min. 66).
Real Sociedad: Rulli; Odriozola, Aritz, Raúl Navas e Kevin; Illarra, Prieto  (Agirretxe, min. 81) e Zurutuza; Canales (Vela, min. 57), Oyarzabal (Juanmi, min. 66) e Willian José
Gol: 1-0: Maxi Gómez, min. 22; 1-1: Oyarzabal, min. 34; 2-1: Maxi Gómez, min. 50, 2-2: Juanmi, min. 80; 2-3: Willian José (pênalti), min. 87.
Árbitro: Mateu Lahoz. Amarelados Maxi Gómez, Jonny e Hugo Mallo pelo Celta de Vigo e Illarra pela Real Sociedad.

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