O dia 16 de julho de 1950, acontecia no MaracanĂ£ a final da Copa do Mundo entre Brasil e Uruguai. Jogo este que ficou marcado na histĂ³ria do futebol brasileiro, por conta da derrota inesperada da SeleĂ§Ă£o Brasileira, e do estereĂ³tipo criado apĂ³s essa partida, o de que negro nĂ£o podia ser goleiro.
Conhecida como Maracanazo, a final da Copa de 50, teve um vilĂ£o: o goleiro Barbosa, que entrou para a histĂ³ria do futebol, por ter supostamente falhado ao levar o gol que sagrou a SeleĂ§Ă£o Uruguaia campeĂ£. Embora tenha sido considerado um dos maiores goleiros de sua Ă©poca, Moacyr Barbosa, que era negro, carregou o fardo da derrota atĂ© o fim da sua vida em 2000. A partir desse fato, em 1950, criou-se uma lenda racista de que goleiro nĂ£o podia ser negro.
Historicamente, o negro demorou mais de duas dĂ©cadas, apĂ³s a chegada do futebol no Brasil em 1895, para ser inserido no meio. O racismo, porĂ©m persistiu e persiste atĂ© os dias de hoje, dentro das quatro linhas. A entĂ£o falha de Barbosa e gol de Ghiggia, meia uruguaio, deixou marcas mais profundas na figura de goleiro.
“A pena mĂ¡xima por um crime no Brasil Ă© 30 anos. Eu pago por aquele gol hĂ¡ 50”
Frase repetida diversas vezes pelo goleiro Barbosa, que mesmo vivendo por mais 50 anos apĂ³s a Copa, nunca conseguiu a sua absolviĂ§Ă£o.
Por muitos anos existiu a ideia racista de que o gol, por ser um setor que representa a confiança do time, seria mais adequado ao branco.
“ Negro no gol, nĂ£o. Lembra do Barbosa?”, comentĂ¡rio que aconteceu durante anos entre comentaristas esportivos.
Exemplo do racismo estrutural e ainda existente que vivemos, aconteceu no programa da Fox Sport, no dia 16 de fevereiro de 2018, onde o ex-jogador Edilson, que Ă© negro, contou mais um caso sobre seus dias em campo. Nessa ocasiĂ£o, ele se lembrou de um jogo entre Palmeiras e Guarani. E juntamente com Zinho, tambĂ©m ex-jogador, recordou de sua fala durante o jogo:
“ TĂ¡ vendo o que eu falei? TĂ¡ vendo o que eu falei? É goleiro negĂ£o! Goleiro negĂ£o sempre toma um gol!”.
Dida quebrou o tabu
ApĂ³s 56 anos, a SeleĂ§Ă£o Brasileira na Copa do Mundo de 2006, voltou a ter um goleiro negro. NĂ©lson de Jesus Silva, mais conhecido como Dida, defendeu o gol Brasileiro na Alemanha.
Antes de sua estreia no mundial, Dida concedeu uma entrevista e homenageou o arqueiro da Copa de 50. A lembrança de Barbosa surgiu, pelo fato de ele ter sido o Ăºltimo goleiro negro a ser titular da SeleĂ§Ă£o Brasileira numa Copa.
– Estou muito feliz, posso quebrar um tabu de mais de 50 anos, o Barbosa contribuiu muito para a SeleĂ§Ă£o e para o futebol – disse Dida em 2006.
Outros goleiros negros chegaram a ter passagens curtas pela SeleĂ§Ă£o depois de Barbosa. Veludo, do Fluminense, foi reserva em 1954. Manga, considerado uns dos maiores arqueiros do Botafogo, chegou a disputar um jogo como titular na Copa de 1966. AlĂ©m deles, Lula, Jairo, Tobias e AcĂ¡cio tambĂ©m vestiram a amarelinha em curtos perĂodos.
Dida chegou a ser capitĂ£o no jogo do Brasil contra o JapĂ£o na Copa de 2006. O goleiro, que teve passagem pelo Milan, esteve ainda no banco nas Copas de 1998 e 2002 (campeĂ£o), levou a medalha de bronze na OlimpĂada de 1996 e foi CampeĂ£o Mundial sub-20 em 1993, como titular.
Mais recentemente, Jefferson, ex-goleiro do Botafogo, tambĂ©m atuou em alguns jogos da SeleĂ§Ă£o.
0 ComentĂ¡rios