O início do futebol feminino brasileiro: o maior desafio
Por exemplo, muitas vezes, com a maior visibilidade do esporte, surgem algumas críticas sobre o desempenho das atletas no futebol feminino, em específico com a seleção brasileira. Assim, é possível ouvir ou ler frases em respostas às críticas como: “também, são 40 anos de atraso”. Mas você já se perguntou o significado e o contexto dessa frase?
Bom, essa ideia vem de uma infeliz situação na história brasileira, já que durante o governo de Getúlio Vargas, em particular durante o Estado Novo, houve uma proibição sobre mulheres praticarem certos esportes. Acaba sendo engraçado que no momento em que há a popularização do esporte, através da imprensa, entra em vigor essa proibição. O decreto-lei não especificava o futebol, mesmo assim, expressava a ideia de que todo esporte “mais pesado”, identificados como contrário à natureza feminina, não deveriam ser parte da vida feminina.
Confira o decreto: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos (CND) baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país.” (Decreto-Lei Federal n. 3 199, art. 54).
Não existia uma fiscalização de fato, entretanto, se aparecesse na mídia da época, o esporte era proibido naquela localidade. Segue-se dessa maneira por alguns anos, em 1979 a proibição não está mais em vigor, só haverá a regulamentação para ocorrer campeonatos e outras organizações em 1983.
Ou seja, é evidente que, em comparação ao futebol masculino, há, pelo menos, 40 anos de atraso. E mesmo com uma regulamentação, não fora levada a sério e muito menos investida, porque claramente esteve em desvantagem por muito tempo. Sendo assim, um obstáculo a mais.
Agora, acaba sendo mais fácil entender o que essa frase significa e o porquê deve ser repetida e levada em conta.
O início do futebol feminino no Brasil
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Atrizes do Circo Queirolo vestindo os uniformes de Palestra e São Bento em 1926/ Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo |
O futebol feminino surge aproximadamente nos anos 20, mas ele não está junto ao futebol masculino - em clubes, nas ruas, ou com os bem afortunados – muito pelo contrário, você o encontra nos circos. Porque, historicamente, tudo que é exótico, estranho e imoral não merece estar dentro da sociedade, assim, é excluído. E eram nesses circos, que as mulheres se sentiam livres para jogar, mesmo que fosse interpretação. Esse movimento, é reflexo da sociedade da época - fechada, com valores morais estabelecidos, mulher dentro de casa, submissa ao lar e ao homem. Já que do mesmo modo que o esporte ainda era um hobby, estava restrito aos homens brancos. Pois, quando algo surge, mesmo sem limites, eles são criados, como instrumento de elitização.
Então, nessa etapa da pesquisa, eu já era capaz de entender a grande diferença entre ambas as modalidades e que quando você analisa o nível técnico e competitivo em sua totalidade, você deve pesar esses critérios. Porque, pense comigo, como que uma seleção consegue ganhar títulos importantes como: medalha de ouro olímpica e uma copa do mundo, sem antes de tudo, ter o devido apoio e reconhecimento. Não é uma desculpa para a situação, é enxergar a triste realidade.
Da mesma forma que apenas nos dias de hoje ficou mais fácil a vida para meninas que sonham em jogar bola, antes, elas enfrentavam muito preconceito dentro de casa. Assim, sem o apoio financeiro e moral, é claro que a desistência era mais fácil. É apenas com a crescente do movimento feminista e a ocupação dos espaços pelas mulheres que ocorre a mudança de pensamento - acaba sendo natural.
Hoje então, é preciso tentar contornar essa raiz histórica e investir na modalidade para que o nível seja de um alto rendimento quase ou igual ao do masculino.
Esses foram os primeiros resultados da minha pesquisa, não esqueça de continuar conectade para ver os proximos textos.
Um abraço e até a próxima, Larissa Campesan (@fclarisz_)
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