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Batalha da Ilha: Lições e expectativas para o jogo de volta

CAPÍTULO UM: A MÃE DE TODAS AS BATALHAS

A história do Nordeste brasileiro é pródiga em grandes batalhas e embates memoráveis. Um dos capítulos mais importantes aconteceu em Pernambuco: A Batalha dos Guararapes, no período da Guerra da Restauração, foi um marco no uso da estratégia militar no Brasil. Na última quarta-feira o jogo entre Sport X Bahia na Ilha do Retiro fez jus à essa tradição local: Uma partida marcada pela intensidade e pelo confronto tático entre equipes muito bem preparadas por seus comandantes.

Eduardo Baptista e Sérgio Soares são hoje, sem dúvida, os dois melhores técnicos em atividade no Nordeste. Não apenas por terem levados as equipes comandadas por eles a duas semifinais consecutivas de Nordestão – Sérgio com Ceará e Bahia – mas por fazerem seus times atuarem com um padrão de jogo atual e interessante: Variações e propostas de jogo organizadas e consistentes. 

A escalação do Sport sugeria um 4-4-2 espelhado com o sistema usado pelo Bahia de Soares. Mas quando o jogo começou não foi esse o posicionamento da equipe pernambucana. O volante Rithelly “afundou” entre os zagueiros, permitindo a sobra da zaga no confronto com a dupla de ataque do Bahia. Esse movimento permitiu o avanço dos laterais. Essa reconfiguração permitiu vantagem numérica no meio, com cinco jogadores do time da casa contra apenas quatro do Bahia. Ao perceber fragilidade do lado esquerdo defensivo do tricolor – e como não havia ninguém que acompanhasse as subidas do lateral – Eduardo Baptista manteve Vítor “espetado” durante quase todo primeiro tempo para fazer overlaping no inseguro Patrick com a ajuda de Mike. Uma jogada inteligente: criar superioridade numérica num setor para desorganizar a última linha defensiva adversária. Esse expediente criou um volume de jogo perigoso, pois a basculação defensiva do Bahia sempre abria espaço para que Vitor recebesse a bola livre em inversões e viradas de jogo rápidas. No entanto as conclusões esbarraram na incompetência dos atacantes e na boa atuação defensiva do time baiano.
Sport  reconfigurado surpreendeu: Vítor avançado para desorganizar última linha e  aproveitar vantagem númerica no meio 

O Esquadrão no entanto não se encolheu, nem mudou a maneira de jogar. Manteve Maxi próximo da dupla Kieza-Gamalho e aproveitou o corredor deixado por Vítor em três oportunidades: Em duas Magrão foi eficiente defendendo conclusão à queima roupa e antecipando cruzamento para Gamalho. Souza assustou na bola parada. O Sport também foi incisivo na bola aérea. O ritmo da primeira etapa foi alucinante, e o meio-campo tricolor tinha bastante dificuldade em exercer sua principal virtude: O toque de bola.

O Sport surpreendeu no retorno para a segunda etapa. Enquanto muitos esperavam Felipe Azevedo, Eduardo optou por Ronaldo no lugar do amarelado Wendel e Joelinton no lugar de Mike. A tentativa agora era outra: Forçar o jogo na área com três jogadores de presença (o próprio Joeliton, Samuel e Diego Souza) e abrir espaço com a velocidade de Élber e chegada dos laterais. A essa altura o Bahia  já não tinha mais desvantagem no meio, e Souza passou a vigiar as subidas de Vitor, atuando  mais aberto pelo lado. O Bahia seguiu perigoso nos contra-ataques e assustou novamente com Maxi. Sport tentava o abafa com bolas cruzadas e lançamentos longos para a referência na área. Apesar do forte calor da noite pernambucana equipes mantiveram uma intensidade impressionante. Bahia substituiu o claudicante Patrick por Yuri – o garoto foi bem na tarefa de bloquear o lado esquerdo. O Sport trocou Mike por Régis na tentativa de armar o jogo e diminuir o desgaste de Diego Souza, que passou a atuar numa faixa menor do campo, mais próxima do gol. As outras opções de Sérgio Soares pioraram o rendimento do Esquadrão. Willians e Tchô não aproveitaram os espaços que apareciam em virtude do desgaste do Sport. Com Tiago Real em péssima jornada, o meio-campo tricolor ficou bastante sobrecarregado. Por sorte, Pittoni teve atuação soberba e Souza foi bastante eficiente. A partida teve emoção até os últimos instantes com Kieza sendo desarmado por Durval na hora de perigosa conclusão e com Samuel sendo barrado por Douglas em duas oportunidades. A decisão ficou mesmo para Salvador. E pelo futebol que as equipes apresentaram, o jogo promete.
Equipes terminaram jogo reconfiguradas: Sport no 4-3-3 e Bahia mantendo o 4-4-2 mas com Kieza de centroavante

CAPÍTULO DOIS: EXPECTATIVA E MISTÉRIO


As duas equipes possuem desfalques para o jogo decisivo de domingo, mesmo com os problemas médicos de Élber e Patrick solucionados. O Sport já definiu os substitutos dos volantes Rithely e Wendel: Ronaldo e Mancha vão para o jogo. Porém Eduardo Baptista acena com a possibilidade de escalar Felipe Azevedo no lugar de Mike. O ex-titular, que volta de contusão, tem melhor recomposição e mais poder de finalização. Isso ficou evidente na entrevista que Eduardo concedeu sexta: Sport tentará pressionar o Bahia na saída de bola do meio, forçando o passe longo e quebrado para os atacantes. É o mais lógico se imaginarmos que Ronaldo e principalmente Rodrigo Mancha – que já atuou no rival Vitória – não são jogadores tão bons no mano-a-mano quanto os titulares, e que as tabelas, especialmente entre Kieza e Maxi, preocupam,

Sem poder treinar no campo devido às fortes chuvas que caem em Salvador, Sérgio Soares não definiu quem jogará na vaga de Tiago Real, suspenso pelo terceiro amarelo. Os postulantes são muitos: Desde o garoto Gustavo Blanco – que tem característica mais próxima do titular, mas que tem a inexperiência pesando contra si – até os meias Tchô e Rômulo e o meia-atacante Willians Santana. Apesar das dúvidas o sistema tático deve ser mantido: 4-4-2 em losango com Maxi fazendo o enganche com o ataque. O que vai decidir a escalação é o que pretende o técnico tricolor: A cadência de Tchô, o passe incisivo de Rômulo ou a recomposição de Willians.

Mais de 30 mil ingressos já foram comercializados, a previsão do tempo indica possibilidade de chuva no domingo e o clima na cidade é de frenesi. Com tantas variáveis envolvidas, esse clássico promete ficar marcado na história. Como uma batalha a ser lembrada por muitos anos, conduzida por dois comandantes destemidos e competentes.  

Alex Rolim || @rolimpato

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