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E o Corinthians do povo foi sepultado...

Existia um Sport Club Corinthians Paulista: dos herĂ³is guerreiros, dos jogos decididos na raça quando as situações eram muito adversas, o time dos escassos tĂ­tulos nacionais, apenas de muitos paulistas.


Time de muitas frustrações e uma fila que nĂ£o acaba nunca, mas que inexplicavelmente a torcida crescia e crescia. Muita devoĂ§Ă£o e amor - o time do povo, do sofrimento e das lutas em gramados alheios pois nĂ£o tinha casa prĂ³pria e utilizava-se de seu "albergue pĂºblico", o Pacaembu, para se hospedar.

Como era apaixonante ver o Corinthians e impossĂ­vel nĂ£o admirar um time que muitas vezes era inferior aos esquadrões adversĂ¡rios lutava atĂ© o fim com seu plantel de operĂ¡rios. Time de nomes e apelidos estranhos, bem do linguajar chulo do povĂ£o. Maloqueiro.


Os operĂ¡rios que depois de muito tempo, destruĂ­ram com todo o sofrimento do mundo um tabu de 22 anos (conte direito os dias que nĂ£o chegou a completar os 23 anos - almanaque do futebol) sem um tĂ­tulo paulista, e que em 1977 foi devastado pelo primeiro pĂ© de anjo - BasĂ­lio.

Rotulado de "time do bairro" por rivais, porque em nacionais era apenas mais um "pequeno" tentando a sorte, o Corinthians era um gigante sem pedigree, um vira-lata regional - seus rivais ostentavam nacionais, sulamericanos e intercontinentais. O TimĂ£o era apenas paulista.

O Corinthians era o time da Democracia Brasileira: buscava com seu poderio e influĂªncia nas classes mais baixas a luta pelos direitos dos oprimidos e injustiçados. A liberdade de expressĂ£o nos tempos difĂ­ceis da Ditadura Militar que praticamente nĂ£o existia. E estava lĂ¡ o representante da naĂ§Ă£o corinthiana e tambĂ©m do povo brasileiro, onde em seu nome, ostentava este rĂ³tulo com orgulho e amor - SĂ³crates BRASILEIRO Sampaio Vieira de Oliveira.

E novamente com uma campanha guerreira, conquistou sem primeiro nacional em 1990.
A Fiel comandou o Brasil naquela tarde e naquele ano.


Jogador por jogador ao analisar friamente, era um plantel de jogadores comuns mas com raça e fome de campeões. Começando de um absoluto e seguro goleiro, Ronaldo Giovanelli, a um comandante genial como Neto com a bola nos pĂ©s. Para os mais supersticiosos, tinha que ter o talismĂ£ no time para dar sorte, e este foi o TupĂ£zinho. E claro, nĂ£o poderia faltar o "mano" da Fiel - Wilson Mano.

O Corinthians entĂ£o foi crescendo e crescendo no tempo e de forma certa.
Enfrentou dificuldades como todo time em processo de transiĂ§Ă£o, era um gigante com coraĂ§Ă£o de pequeno e pensamento de amador. A mudança causava muitos atritos e deslizes pelo caminho. Cresceu tanto que vieram mais 4 tĂ­tulos brasileiros e outros tantos paulistas e depois o MUNDO.
O clube virou 'O Todo Poderoso TimĂ£o'.



Infelizmente o time ainda nĂ£o possuĂ­a uma estrutura para se manter no topo do mundo: seus dirigentes fizeram negociações sinistras e controversas. Chegaram enganadores (Roger Chinelinho - o maior deles) e alguns de garra como Carlitos Tevez - o argentino mais corinthiano do mundo.

Sim, vieram outras conquistas, mas o Corinthians caiu de forma melancĂ³lica e manchada.
O time do povo tornou-se alvo de cadernos policiais pela imprensa. O nome do time do povo foi manchado e devastado. Os rivais ririam e muito disso.

O que fazer e como fazer?
Simples: voltar a suas origens e fazer certo desta vez - resgatar o nome e limpĂ¡-lo.
Voltar de forma triunfal onde quem riu, nĂ£o iria rir mais.

Diferente de outros clubes que tem vergonha de admitir rebaixamento no passado e mascaram a verdade ou outro que usufruiu de artifĂ­cios ilegais de tribunais sujos e contestados por benefĂ­cios, o Corinthians aceitou a situaĂ§Ă£o e sim, jogou a 2ª DivisĂ£o movidos pelo grito de "Eu Nunca Vou Te Abandonar Porque Te Amo, Eu Sou Corinthians! " de uma naĂ§Ă£o que cresceu ainda mais.
O Bando de Loucos levaria o TimĂ£o ao topo.


Subiu na bola, conquistou novamente o estado, depois o Brasil e entĂ£o veio a AMÉRICA - tĂ£o sonhada AmĂ©rica! Enfim, o Corinthians cresceu do jeito certo e com estrutura - um Centro de Treinamentos adequados e um dos mais sofisticado do mundo. (Revista Sports Medicine)

E a Fiel levou o TimĂ£o ao topo - logo ali no JapĂ£o em 2012.
Yokohama virou Pacaembu, algo jamais visto em toda histĂ³ria desde as disputas das taças intercontinentais ao inĂ­cio oficial do Mundial de Clubes da FIFA em 2000.

O Corinthians enfim precisava de sua "casa prĂ³pria" e ela veio.
NĂ£o era necessĂ¡rio uma mansĂ£o, apenas uma humilde casa para receber seus adeptos e adversĂ¡rios para uma cerveja barata no copo de requeijĂ£o, mas para o tamanho da naĂ§Ă£o e a espera, tinha que ser a mais bela e a melhor do paĂ­s - a Arena Corinthians.


Os rivais podem contestar como foi erguido, com que dinheiro e blĂ¡ blĂ¡ blĂ¡s, mas ela surgiu. e ao invĂ©s de receber os colegas locais, recebeu logo os mundiais.  Copa do Mundo em sua casa nĂ£o Ă© para qualquer um.

ApĂ³s isso, uma fatalidade aconteceu - faleceu o time do povo.
O time dos operĂ¡rios sofridos, pobres e humildes do "albergue do Pacaembu" seria sepultado.
E assim surgiria um outro Corinthians - o novo time da elite ou no dito popular: "dazelite".

Acabou-se o som do povĂ£o, acabou-se o Corinthians guerreiro! (no ritmo de Chico Mineiro)
Apagaram suas origens e o futebol brasileiro estĂ¡ tornando um esporte da classe alta.

O termo "a soberba subiu para a cabeça" é o termo correto a ser utilizado.
Hoje existe um Corinthians da "casa de mĂ¡rmore", dos torcedores elitistas que pagam ingressos de valores exorbitantes, que possuem setores vips e todo tratamento diferenciado.
Nem o "TerrĂ£o" existe mais - deu espaço para as gramas sintĂ©ticas e os meninos de condomĂ­nios fechados. Os moleques das favelas foram extintos.


- Sentar no chĂ£o e no cimento? Jamais! Quero cadeira confortĂ¡vel!
- Banheiro quĂ­mico? Isso Ă© para pobre! 
- Tem secador eletrĂ´nico de mĂ£os? Ă“timo!  
- Assistir jogo de pĂ© nĂ£o Ă© comigo, eu pago para assistir sentado, nĂ£o preciso gritar.
- Talvez eu vĂ¡, qualquer coisa vem em casa que pago o pay per view!

O Corinthians tornou-se um time rico mas com "cabeça de pobre", que ao ganhar 100 milhões em uma "megasena", nĂ£o obteve estrutura para administrar bem e render mais.

Explicarei melhor:

 Ao invĂ©s de comprar um bom carro, compra um Bugatti de 6 milhões e com IPVA de mais de 500 mil ao ano; alĂ©m de uma boa casa e bem mobiliada, compra uma mansĂ£o de 30 milhões onde e manutenĂ§Ă£o anual dela e seus empregados chega aos 2,5 milhões. Era acostumado a comer em lugares bons e baratos, agora quer comer em restaurantes onde somente o serviço de vallet custa 200 Reais - parte de sua compra mensal.

"- Investir? Para que? Um dia morrerei! Quero Ă© gastar e viajar!"


E dando passos maiores do que pode tornando a dĂ­vida maior que o prĂªmio.

O "novo" Corinthians nĂ£o Ă© tĂ£o vencedor quanto o seu antecessor ainda, e pelo andar das coisas, nĂ£o serĂ¡, mas Ă© muito semelhante ao seu rival SĂ£o Paulo entre os anos 2005 a 2008 - um time arrogante, soberbo e sem humildade.

Um tal de novo "soberano". O Tricolor vem pagando por este rĂ³tulo com um longo jejum de tĂ­tulos
e desdenho de rivais e da mĂ­dia.

E o novo Corinthians estĂ¡ seguindo estes passos...

Texto: Rafael Carvalho
Imagens: Google 

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