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Pouco objetivo, Bahia empata primeira em casa

O jogo entre Bahia e Botafogo na tarde de sábado pela série B do campeonato brasileiro reunia todos os elementos que compõem um grande jogo: Tradição, bom público, disputa por posições na tabela e rivalidade. Quando a bola rolou tivemos intensidade e luta para compensar a falta de qualidade técnica que por vezes ficava evidente no embate. O resultado foi um jogo bom, emocionante e disputado em alta rotação por muitos momentos.

O Botafogo vinha com uma série de problemas a equacionar: Desde o técnico interino, passando pela recente saída de jogadores importantes, até a utilização de seis jogadores da base para suprir as lacunas do elenco. O recente declínio técnico do líder do campeonato preocupava a torcida alvinegra. No fim das contas o saldo foi positivo: Liderança mantida com um empate contra um adversário direto à subida de divisão fora de casa.

O Bahia de Sérgio Soares também entrou em campo com uma alta dose de desconfiança da torcida tricolor. Time está tentando se reestruturar entre a volta de jogadores importantes [Kieza, Ávine], o declínio de outros [Pittoni, Maxi] e a chegada de novos atletas [Alexandro, Jailton]. O time não tem agradado nas últimas semanas, seja pelos resultados ruins ou pelo desempenho abaixo do aguardado. Neste jogo, mais motivos para o desconfiômetro do torcedor do Esquadrão atingir níveis alarmantes.

O treinador do tricolor tentou surpreender a equipe carioca. Montou a base da equipe durante a semana com Eduardo no time, o que indicava uma grande possibilidade do Bahia abandonar o 4-3-3 da última quarta-feira. No último instante, com a escalação do alvinegro decidida, optou pela entrada do centroavante Alexandro no time. Souza também voltou ao time titular após experimentar o banco por alguns jogos. Nas laterais dois jogadores com características ofensivas: O estabanado e voluntarioso Adriano e o ídolo da torcida Ávine.

O início do jogo refletiu o cenário esperado: O Bahia com um 4-3-3 base alta e com marcação forte no campo defensivo do Botafogo, intensidade nas fases de transição e muitas jogadas pelos lados do campo, sempre procurando o 2 contra 1 sobre o lateral alvinegro. Apesar da postura e do domínio territorial e de posse – tricolor teve 60% de posse acumulada nos 20 primeiros minutos – a produção ofensiva ficou abaixo do desejado, como tem sido praxe nos últimos jogos da equipe. Apenas um chute de Souza de fora da área e um pênalti não marcado em cruzamento de Ávine e o lateral esquerdo Jean desviou com braço. Muita transpiração, pouca inspiração.

Diante da evidente e esperada queda do ritmo inicial, sem a vantagem desejada no placar, Maxi passou a jogar centralizado, atrás da dupla de atacantes, repaginando o time no 4-4-2 losango, com Yuri no vértice defensivo e Real [esquerda] e Souza [direita] como armadores pelos lados. Na nova função em campo o argentino finalizou com perigo uma vez, de esquerda, assustando o goleiro Jefferson.

Souza voltou e melhorou seu desempenho. Mas segue devendo na parte ofensiva

Porém, logo na sequência o Botafogo abriu o marcador no primeiro ataque da equipe. Bola virada com rapidez encontrou o lateral esquerdo Luís Ricardo no mano a mano com Ávine. Ele abriu espaço com um belo drible e chegou à linha de fundo tabelando com Otávio, de cara com Douglas Pires cruzou para o meio e encontrou Luís Henrique livre. O jovem não encontrou dificuldades em finalizar com precisão. Uma ducha de água fria na torcida, mas um castigo merecido para a ineficiência tricolor.

A partir deste momento ficou evidente um dos maiores problemas do Bahia no ano: A incapacidade de reagir dentro de um cenário adverso. Seja pelo aspecto psicológico ou pelo plano de jogo que não funciona contra equipes mais fechadas algo é evidente: O Bahia sempre piora seu rendimento quando fica atrás do marcador. Assim foi até o fim da primeira etapa, com o time correndo a esmo e errando demais na transição ofensiva.

Sérgio optou por não mudar a equipe no intervalo – algo recorrente também nos últimos confrontos – porém a tática para superar a pane do final do primeiro tempo não foi apenas a conversa: Souza recuou mais para ajudar Yuri a combater no meio e a ter superioridade numérica na zona de criação, Real e Maxi também se aproximaram mais para tentar melhorar a criação do time e os laterais tiveram mais espaço no corredor para apoiar, especialmente Adriano. Por ali o Bahia construiu a jogada do empate, em cabeceio exemplar de Kieza após trama de Maxi e Adriano.

O gol reacendeu a torcida que passou a empurrar o time. O Bahia passou a encurralar o rival, mas com os mesmo problemas de criação de jogadas. Efetivamente só finalizou com chutes de Yuri de fora da área, além de faltas cobradas por Ávine [uhhhhhhhh] e Souza. Precisaria de muito mais. Principalmente porque Jefferson é um goleiro de seleção brasileira, o que exigiria mais qualidade nas finalizações. Apesar das entradas de Eduardo, João Paulo e Marlon as deficiências em definir as jogadas não cessaram. Tanto que o Bahia concluiu apenas com o lateral em cobrança de falta. Um empate com gosto de derrota e pavoroso para as pretensões do time baiano na série B.

Os principais defeitos do Bahia seguem latentes e sem solução: Equipe evoluiu bem até o último terço do campo, onde faltam triangulações, profundidade, objetividade e qualidade para transformar a posse de bola em volume de jogo, o domínio em chances de gol, o controle em vantagem do placar. O ataque das últimas partidas tem sentido a falta de ritmo [Alexandro e Kieza] e tem perdido muitas bolas [foram 27 posses entregues ao Botafogo pelo trio ontem. Contra o Paysandu só a dupla Kieza-Maxi perdeu 25] e não tem sido efetivo. Maxi tem sido um estorvo no time – ainda que tenha participado da construção do gol ontem – e não rende tão longe da meta adversária. No meio campo Souza até que voltou melhor, mas é outro que rende menos do que se espera. Esteve bem na marcação e na saída de bola, mas seu jogo de bolas longas não ajuda a furar o bloqueio adversário, ainda que seus chutes de fora da área sejam importantes. Gustavo Blanco é um jogador que pode contribuir no problema do meio em rodar a bola, já que é dinâmico e distribui bem o jogo. Contra adversários que esperam no campo de defesa é necessário que o time faça a bola girar rápido para encontrar espaços para atacar. Essa dificuldade tem feito o time abusar dos cruzamentos - foram 21 ontem, apenas 4 certos.

Maxi lutou mas rendeu abaixo do esperado. Argentino tem abusado da indivudualidade
Talvez seja hora de Sérgio repensar a maneira de posicionar o time. Não vale a pena abdicar da superioridade numérica no meio campo se o ataque não é capaz de se impor ao adversário. Diante da falta de qualidade de Tiago Real em armar o jogo, a entrada de mais um meia parece à solução mais óbvia no momento. Eduardo e Rômulo – voltando com a medalha de bronze do Pan-americano – parecem às opções mais viáveis.

Todas essas reflexões, e as ações correspondentes deverão ser tomadas sob pressão, pois após 15 rodadas, a equipe está em SEXTO lugar no campeonato. O rendimento não é horroroso, mas é ABAIXO do esperado e INSUFICIENTE para o potencial do time, tradição do clube, e nível da competição. Recuperar o bom futebol é preciso, mas conseguir bons resultados é PRIMORDIAL. Só os bons resultados trarão a tranquilidade que o time precisa para retomar o desempenho que se espera do time.

DESEMPENHO BAHIA:

DOUGLAS: Pouco exigido, foi bem quando interviu. Não teve culpa no gol, e fechou bem o espaço quando saiu para abafar a jogada.
ADRIANO: Excelente na ultrapassagem e com os melhores índices de acerto de cruzamento entre os laterais. Mas é uma temeridade na defesa e erra muito tecnicamente em lances bobos. Mas o que faz deve ser suficiente para manter a titularidade, pelo menos até Cicinho ter condições de jogo.
ROBSON: Monstro. Perfeito na cobertura e antecipação. Fará falta na próxima rodada – está suspenso pelo terceiro amarelo.
JAILTON: Zagueiro que não brinca em serviço. Líder em rebatidas joga sério e é eficaz.
ÁVINE: Voltou bem demais. Tem muita técnica e conhece a posição como poucos. Mas sentiu o ritmo intenso do jogo e inspira cuidados pelo tempo que passou parado.
YURI: Imaginava que seria realidade em 2016. É realidade hoje. Tomou a posição de Pittoni com autoridade. Fez quatro desarmes enquanto eu digitava esse texto.
SOUZA: Voltou bem melhor que nas suas últimas atuações. Mas não é o armador que a equipe precisa, ainda que contribua bem na marcação.
TIAGO REAL: Também não é o armador que o time precisa. Errou passes demais, não infiltrou, não finalizou e não acionou os atacantes com qualidade. Retrato da ineficiência do meio campo: Corre muito e rende pouco.
MAXI: Não dá fluidez ao jogo. Esforça-se para construir os lances, porém segura demais o jogo e atrasa as transições ofensivas.
ALEXANDRO: Sem ritmo, aparentemente fora de forma. Lutou muito, mas não produziu nada.
KIEZA: Dois gols nos últimos dois jogos deveriam ser o indicativo de um retorno elogiável. Mas não é. Está individualizando muito as jogadas e perdendo bolas bobas, errando passes cruciais e ficando em impedimento demasiadamente. O lado positivo é que nós sabemos que ele pode mais e deve render mais com o ritmo de jogo.
EDUARDO: Deu alguns bons passes, mas faltou ser agudo para ajudar o time. Precisa jogar mais minutos.
JOÃO PAULO: Deu mais mobilidade e parece ser uma boa opção para o um contra um. Mas falta técnica nas jogadas agudas.
MARLON: Só será usado quando Ávine precisar ser preservado. Para o bem do Bahia. 

Alex Rolim || @rolimpato #BBMP
Imagens: Site oficial do Esporte Clube Bahia

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