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Clássico 407: A epopeia gremista



Em partida válida pela 17ª rodada do Campeonato Brasileiro, Grêmio e Internacional enfrentaram-se na Arena. Mais uma página na história do clássico GreNal foi escrita e essa, sem dúvida, ficara marcada para sempre. É difícil encontrar um só adjetivo para definir a partida. Massacre. Humilhação. Vareio. Chocolate. Nem o mais pessimista dos colorados poderia esperar por algo semelhante ao que houve na Arena. Em uma noite lendária, o Grêmio atropelou o rival de modo irreparável.

Um clássico é sempre um clássico (e vice-versa, como diria o lendário Jardel). Mas o de ontem (09/08), teve alguns ingredientes especiais, mesmo antes da bola rolar. Ambos os times visavam uma reabilitação na tabela. O Grêmio, que há três jogos já não sentia o gostinho de uma vitória, queria uma retomada de confiança no ataque, que, por sua incapacidade de marcar gols, vinha sendo veemente criticado. Já o Internacional, ainda de ressaca pela eliminação na Libertadores, encarava o clássico como uma oportunidade de recomeço do Brasileirão, já que até pouco tempo a competição havia sido deixada em segundo plano. Havia ainda uma necessidade de superação, visto que o técnico Aguirre foi demitido apenas três dias antes do GreNal. 


O Grêmio dominou o jogo desde os primeiros instantes. Aos 10 minutos, Douglas pança de cadela conseguiu a proeza de perder um pênalti. Depois disso, o Inter teve os seus únicos momentos no jogo no qual mostrou resquício de lucidez e teve a sua única chance de gol no jogo inteiro: um cruzamento para o Lizandro Lopes, que só não resultou em gol porque Edinho, cirurgicamente, conseguiu evitar. Essa bola foi fundamental. Poderia ter dado rumos totalmente diferentes para a partida. Mas, felizmente, a noite era toda azul, preta e branca. Aos 34 minutos, o Grêmio chegou ao gol. E, para tornar a noite ainda mais história, o gol saiu da jogada que todos nós mais odiamos no futebol: um escanteio curto. No rebote, a bola sobrou para Giuliano, que não perdoou, e marcou um golaço. Ainda no primeiro tempo, aos 43 minutos, Luan recebeu uma bola de Erazo, e marcou o segundo gol da partida.

Na etapa complementar, o Tricolor seguiu soberano. Já aos 3 minutos, de novo ele, o menino Luan, ampliou a vantagem gremista. O interino colorado, querendo buscar uma reação, viajou na maionese (Hellmann (#HumorLF)), e trocou o atacante Lizandro Lopes pelo volante Nilton. Era a imagem do fracasso. Mas, o massacre ainda não havia chegado ao fim. Aos 30 minutos, Fernandinho que havia entrado há pouco, recebeu uma bola milimétrica, cortou o goleiro e balançou as redes. Não se perca, leitor, já foram quatro gols na partida. E, no final do jogo, nos últimos suspiros, novamente Fernandinho recebeu a bola, chegou à linha de fundo e cruzou para Réver fazer o seu primeiro gol em Grenais e dar números finais à partida. CINCO A ZERO! No estádio, os 46 mil gremistas não sabiam se gritavam, choravam ou abraçavam o torcedor ao lado.


Melhor que o resultado, só a atuação. O técnico Roger Machado deu uma aula de futebol na beira do gramado. Sem inventar, sem pressa e com inteligência, o comandante tricolor vem valorizando o coletivo, sem aquela história equivocada da necessidade de um jogador decisivo que carrega toda a responsabilidade, e, dessa forma, os resultados vão aparecendo. A formação e alterações foram perfeitas. O time, não só ontem, mas em todos os jogos desde a chegada do treinador, mostrou ter atitude, sem medo de atacar (mesmo que muitas vezes não conseguisse ser eficiente) e até mesmo nas derrotas não teve atuações péssimas. Roger Machado deu uma cara nova ao Tricolor. Jovem, ousada e ainda assim sem perder a tradicional característica do Grêmio, que é de raça e sangue nos olhos. 

Todo o grupo tricolor merece destaque pela partida. Mas, o jovem Luan, que recentemente teve seu contrato ampliado, precisa de um parágrafo à parte. O guri, quase queimado pela torcida pouco tempo atrás, é o diferencial do Grêmio. Luan busca o jogo, se movimenta bem e tem velocidade. É o centro técnico do time.

O Grêmio venceu por méritos próprios. A elasticidade do placar até pode ter passado pelas mazelas coloradas. Mas, o Tricolor jogou coletivamente, aliando a técnica com uma vontade tremenda de vencer. A “estratégia” do presidente colorado, de demitir Aguirre e “criar um fato novo”, se mostrou um tiro no próprio pé. A ideia era de que, com isso, os jogadores tentassem se superar e assim uma possível vitória teria ares de heroísmo. Porém, isso resultou em uma bagunça total e na falta de empenho. Não existe fórmula mágica. Nunca existiu. Sem trabalho e sem continuidade, não se vai longe.  

A vitória lavou a alma. Um time desacreditado – por torcedores, imprensa, rivais – e, no inicio do ano, credenciado ao rebaixamento, deu a volta por cima e hoje briga na ponta de tabela. A geração que cresceu ouvindo falar de Fabiano e do “GreNal dos 5x2”, finalmente pôde se vingar, ou melhor, fazer justiça. O time ridicularizado por não trazer nenhum reforço de peso, humilhou o elenco milionário, que se vê obrigado a se desmanchar no meio da temporada após fracassar no título que todos já contavam como certo – a Libertadores. É por isso que o futebol é tão apaixonante. Sempre uma caixinha de surpresas, permitindo reviravoltas incríveis.


Com o jogo de ontem, a Arena já foi palco de seis clássicos, contabilizando duas vitórias gremistas, três empates e um triunfo colorado. Aos poucos a casa Tricolor vai ganhando alma. Nos últimos nove meses, foram duas goleadas contra o rival.

Para se ter uma ideia da importância da goleada, desde 1948, ninguém conseguia aplicar 5 ou mais gols de diferença em GreNal. A golada pelo placar de 5 a 0, resultado que pela última vez o Grêmio conseguiu marcar em 1912, foi à segunda derrota por esse placar sofrida pelo Internacional em menos de um ano. Em outubro, a Chapeconse já havia feito cinco memoráveis gols no colorado.

Com a vitória, aliada a uma rodada perfeita, o Grêmio subiu para a 3ª posição com 30 pontos. Já o Inter é o 12º colocado, com 21 pontos. O próximo desafio do Grêmio é contra o líder Atlético Mineiro, quinta-feira (13/08), às 21h, no Mineirão. O Internacional enfrentará o Fluminense, na quarta, às 22h, no Beira Rio.

Janaína Wille | @janainawille

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