Em um momento difícil como o do Goiás nessa temporada, onde a torcida teve de amargar contratações ruins, eliminações inacreditáveis em competições como Copa do Brasil e Sul-Americana, e próximo de um possível rebaixamento para a Série B do Brasileirão, todos nós tentamos arranjar culpados: Harlei, Sérgio Rassi, Hailé Pinheiro... O que é normal, afinal, a campanha foi decepcionante e é difícil arranjar forças para acreditar ainda.
Muitos também gostam de lembrar do passado vitorioso. Quem não gritou e festejou com aquela equipe em que faturamos o bicampeonato da Série B? Tínhamos Ricardo Goulart, Walter, Egídio, Iarley... Grandes craques que vieram graças à um trabalho de uma pessoa, que hoje, infelizmente, não está mais no Goiás: Marcelo Segurado, ex-diretor de futebol.
Foto: Site Oficial do Goiás Esporte Clube (goiasec.com.br). |
Como foi sua passagem como diretor de futebol no Goiás? O senhor acha que fez um bom trabalho?
"Eu assumi a superintendência de futebol em setembro de 2011. Estávamos na 16ª colocação do Brasileirão da Série B, mas conseguimos evitar o rebaixamento. No ano seguinte, fizemos uma reformulação do elenco profissional (contratando 20 atletas) e reestruturação de todo departamento de base. Conseguimos conquistar o Campeonato Goiano, fomos até as oitavas de final da Copa do Brasil e fomos campeões brasileiros da Série B com uma folha inferior à R$ 1.500,000,00. Em 2013, fizemos nove contratações, fomos vice-campeões da Copa São Paulo de Futebol Júnior, bi-campeão goiano, chegamos até as semifinais da Copa do Brasil, ficamos em 6º no Brasileirão e tivemos uma transição de vários atletas da base para o profissional com uma folha inferior à R$ 1.800,000,00. Em 2014, tivemos uma restrição financeira e tivemos que abaixar o teto salarial de alguns reforços para R$ 50.000, utilizando mais atletas da base em campo. Com uma folha salarial de R$ 900.000,00; escapamos do rebaixamento e revelamos Erik, grande destaque do campeonato. Acho que meus números respondem à esta pergunta, cabem a vocês avaliarem."
Por quais motivos o senhor deixou o Goiás?
"Não ficou bem claro pra mim. O que pude perceber é que o Dr. Sérgio Rassi queria minha permanência. Eu sempre fui muito respeitado pelo Sr. Hailé, mas já percebia que algumas coisas estavam diferentes. O próprio Harlei estava dizendo no vestiário do CT na véspera do último jogo para os atletas, que muita coisa iria mudar a partir daquela segunda-feira, inclusive vários atletas me ligaram perguntando o que seria. Disse à eles a verdade, que não sabia."
Tem algo que você fez lá dentro que se arrepende?
"Eu acho que quando você exerce uma função de importância e comando, você está sujeito a erros e acertos. Pelo menos, quando você tem boa índole e criação. Eu me arrependo de ter acreditado em muita gente que batia nas minhas costas, estava sempre comigo e na verdade, só estavam por interesse. Mas disto eu tirei uma lição: "Quem comanda, comanda!", porque se houver erro ou acerto, tudo vai cair nas costas de quem está à frente. Hoje eu teria uma outra conduta, aliás, onde eu for trabalhar no futebol, terei essa conduta."
Na sua opinião, qual o maior culpado do Goiás estar passando pela situação que vive hoje?
"Eu não vejo um único culpado, porque tudo no Goiás é decidido por muitas pessoas, e eu concordo que tem que ser assim, principalmente porque estão mexendo com coisas que não lhes pertence, e por isto, tem que ter responsabilidade, mas quem é o responsável no caso do futebol pelas contratações tem que convencer estas pessoas que aquela contratação é a melhor escolha. É necessário fazer um planejamento e acreditar nele. Quando você vê essa quantidade de treinadores, é lógico que não houve este planejamento. Portanto, mesmo que a decisão venha a ser de um colegiado, a responsabilidade é de quem está à frente do departamento."
Qual a melhor contratação que o senhor fez no clube? E a pior?
"De 2011 para 2012, fizemos uma reformulação total no elenco, permanecendo somente os atletas da base. Foram 24 contratações indicadas e discutidas. Cada uma delas por mim, o Enderson Moreira e pelo João Bosco Luz, porque é assim que funciona. Quando renovamos com o Enderson, sabíamos que seria por um período longo, e por isto tínhamos que trazer jogadores que se enquadravam no seu sistema, por isto ele indicou, eu indiquei e o João indicou. Mas quem fez o contato, quem foi atrás, fui eu, porque esta é a função do diretor. Das boas contratações, tivemos o Walter, Ricardo Goulart, Rodrigo, Egídio, Dudu, William Matheus, David, Sacha, Jackson, Esquerdinha, Viçosa, Vitor e por aí vai, mas eu destacaria a contratação do Renan (Goleiro) por tudo que ele representa dentro e fora de campo. Também errei com contratações como a do Caio (que todos gostaram mas não rendeu), Moisés, Bruno Mineiro (que também ninguém achava que não fosse jogar) mas a pior, no meu entendimento, foi a do Carlos Alberto, por tudo que aconteceu e pelo tanto que me empenhei."
Equipe de 2012, ano em que o Verdão foi bicampeão brasileiro da Série B. Foto: esporte.uol.com.br |
O senhor acha que o Goiás poder conseguir grandes coisas em 2016?
"O Goiás precisa passar por uma profunda reformulação de ideias e ações. Eu quando fui convidado para assumir o cargo de executivo de futebol em 2011, tinha uma grande experiência no Goiás, pois já havia passado por diversas diretorias ( Marketing, Base e Administrativo), além de ter passado a minha vida toda no meio do futebol, mas a primeira coisa que eu fiz, foi exatamente me aperfeiçoar. Fui estudar, me preparar e hoje, faço parte da ABEX (Associação Brasileira dos Executivos de Futebol), e nestes cursos e encontros de aperfeiçoamento me deparei com a realidade profissional que um clube tem que ter, por isto eu afirmo, para o Goiás sair desta "mesmisse" e ser grande tem que pensar e agir grande e profissional."
O senhor pensa em voltar ao Goiás algum dia?
O Goiás é o clube do meu coração. Ele foi fundado na casa da minha vó. Meu tio jogou no clube e meu pai foi o primeiro ídolo (Tão Segurado). Eu joguei nas categorias de base. Eu quero muito ajudar o Goiás a ter um título importante. Eu me preparei pra isto, mas no momento vou encabeçar um grande projeto em outro estado. Eu sofri muitas críticas por parte da imprensa e consequentemente, de uma pequena parte da torcida, e quando eu estava no meu melhor momento, me tiraram, e digo a vocês: Eu quero voltar pra ser campeão!"
Muitos torcedores culpam o Hailé Pinheiro pelo Goiás não ter conquistado nenhum título expressivo até hoje. O senhor concorda?
"Não concordo. Eu convivi muito com seu Hailé, e sei que o que ele mais quer na vida é que o Goiás ganhe um grande título antes dele deixar o clube. Ele como todos que comandam, tem seus acertos e erros."
Hailé Pinheiro é a maior voz dentro do clube esmeraldino. Foto: portal730.com.br |
Você se considera mais capacitado do que o Harlei, como diretor de futebol?
Eu acho que essa resposta não deve sair de minha parte. Acho que vocês torcedores devem avaliar. Não estou em uma competição com ele. Eu conheci o Rogério Ceni, e fiquei mais fã ainda quando ele disse que o São Paulo não deve nada à ele, e sim, ele ao São Paulo, e que quando parar de jogar, vai se desintoxicar, se preparar e só depois, vai voltar para o São Paulo. Ele está pensando na história que ele construiu. Eu não julgo ninguém, muito menos o Harlei. Cada uma faz da sua vida e história o que julga melhor.
Eu, Wagner Oliveira, e toda a equipe do Linha de Fundo, agradecemos ao Marcelo Segurado pelo seu tempo ao nos conceder essa entrevista.
Foto: Globo Esporte. Wagner Oliveira || @wagneroliveiraf Linha de Fundo || @linhadefuundo |
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