Gosto de ouvir a histĂ³ria
sobre o dia seguinte ao que nasci. Era um 19 de julho e meus pais nĂ£o poderiam
estar mais felizes depois que eu e minha irmĂ£ gĂªmea chegamos ao mundo. Como
todo bom pai que gosta de futebol, o meu nos colocou em frente Ă televisĂ£o para
assistir o primeiro jogo do Flamengo de nossas vidas. A expectativa pelo
resultado era grande e os dois, imagino eu, mal poderiam esperar para que nĂ³s
seguĂssemos o caminho dessa paixĂ£o. No auge do desespero, quando a Portuguesa
marcou seu terceiro gol naquela fatĂdica partida, comecei a chorar. SĂ³ Deus e
meu inconsciente sabem o motivo, mas depois de mais um grito animado do
narrador, eu nĂ£o dei mais sossego. Resultado: Portuguesa 3x0 Flamengo e uma
Mariana bem irritada.
NĂ£o lembro ao certo quando
ocorreu, mas sei que contra o GrĂªmio dei meu primeiro passo para a eternidade
dentro do MaracanĂ£. Sei que vencemos e que naquele dia eu decidi que nĂ£o queria
passar um instante sequer longe daquele lugar e daquele esporte. Os anos que se
seguiram nĂ£o foram diferentes e meu maior prazer sempre foi ver meu Flamengo
brilhar. Tudo que eu precisava era minha famĂlia ao meu lado, o rubro-negro em
campo e todo o meu amor.
Lembro-me das tardes que
passei assistindo futebol com meu avĂ´. Ele, botafoguense, jĂ¡ havia desistido de
me fazer seguir seus passos, jĂ¡ que desde muito pequena meu coraĂ§Ă£o jĂ¡ batia
por outras cores. Eu contava minhas experiĂªncias no MaracanĂ£ e ele lembrava as
Ă©pocas boas do seu time. JĂ¡ faz pouco mais de seis anos que nĂ£o posso mais ter
essas conversas.
Meu avĂ´ me deixou em 2009.
Coincidentemente ou por força de um destino que serei eternamente grata, esse
tambĂ©m foi o ano em que vi meu time ser campeĂ£o brasileiro pela primeira – e
por enquanto Ăºnica – vez. Muitas pessoas nĂ£o entendem bem o que Ă© ser realmente
e intensamente apaixonado por futebol. Eu explico.
Amar um clube estĂ¡ longe de
ser a tarefa mais fĂ¡cil do mundo. É necessĂ¡rio dedicaĂ§Ă£o, esforços que nem
imaginamos, paciĂªncia – e muita – com diversas coisas e muito, mas muito amor.
NĂ£o Ă© gostar de mentira, uma paixĂ£o da boca para fora. É um dos sentimentos
mais verdadeiros e bonitos do mundo.
Tudo isso, essa força e esse
amor, que muitas vezes parece nĂ£o fazer muito sentido, viram recompensa quando
algo extraordinĂ¡rio acontece. NĂ³s sofremos – bastante – com as derrotas, mas Ă©
para reerguer um time que o torcedor estĂ¡ lĂ¡. NĂ³s o puxamos para cima quando
necessĂ¡rio e pulamos junto nas horas boas. Ser torcedor Ă© enxergar momentos que
justificam essa loucura toda até em pequenos detalhes.
A grande arrancada que o
Flamengo conseguiu no segundo turno de 2009 foi justamente poucos meses depois que
tudo desmoronou. E o poder do futebol, eu garanto, ninguém no mundo tem ou
terĂ¡. Quando faltavam palavras para consolar, o esporte dizia, em sua prĂ³pria
lĂngua, que tudo ficaria bem. Seis anos depois, posso dizer que sim, ficou.
JĂ¡ ouvi muitas vezes que o
futebol nĂ£o leva a lugar algum, nĂ£o Ă© importante ou nĂ£o traz felicidade real.
Tolos sĂ£o aqueles que acreditam nisso. Infelizes sĂ£o as pessoas que desconhecem
o poder de transformaĂ§Ă£o e de cura que 90 minutos podem trazer. Naquele ano,
peguei toda dor que estava dentro de mim e, pelo menos naquele espaço de tempo,
joguei tudo para fora em um desesperado e aliviado grito de “Ă© campeĂ£o”.
Ninguém pode medir o amor do
outro ou o que um time significa para alguĂ©m. NĂ£o podemos enxergar sentimentos
ou explicar coisas que apenas o coraĂ§Ă£o poderia transcrever. Como explicar a um
leigo a sensaĂ§Ă£o de entrar no estĂ¡dio e ouvir o reconfortante som da torcida? Como botar em palavras o que Ă©, depois de meses de lĂ¡grimas de dor, colocar
para fora apenas aquelas de extrema felicidade? Isso nĂ£o se explica, apenas se
sente.
Por isso, neste dia 28 de
Outubro, desejo a todos aqueles que tĂªm o Flamengo em suas vidas um incrĂvel Dia
do Flamenguista. Que todas as derrotas fortaleçam nosso amor e as vitĂ³rias
sejam recompensas de um sentimento incondicional. Uma vez Flamengo, Flamengo
até morrer.
Por todos os dias
da minha vida, até que a morte nos separe.
Mariana SĂ¡ ||@imastargirl
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Mariana SĂ¡ ||
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