Faça Parte

A grande conquista do Goiatuba

Nessa Ă©poca nostĂ¡lgica de rivalidades no inĂ­cio do ano com as competições regionais e estaduais pelo Brasil, Ă© sempre relembrado coisas passadas do nosso futebol para nĂ£o serem esquecidas, pois afinal de contas, todo time tem sua histĂ³ria, mesmo que esteja completamente esquecido nos dias atuais. Nesse texto especial, conheça o Goiatuba Esporte Clube, o clube que conquistou o Campeonato Goiano de 1992 em pleno Serra Dourada.

Equipe campeĂ£ goiana do Goiatuba Esporte Clube em 1992.
Foto: ocuriosodofutebol.com.br
O passado do Goiatuba: 


No estado de GoiĂ¡s, existem muitos "Azulões" e quando se fala essa palavra, hoje lembrarĂ­amos do Crac de CatalĂ£o, do GoianĂ©sia, da Aparecidense, porĂ©m, poucos iam se lembrar do Goiatuba, que jĂ¡ teve seus dias de glĂ³rias pra cima dos grandes times do nosso estado. O clube que foi fundado no ano de 1970 por um grupo de desportistas da cidade, queriam alavancar o nome do municĂ­pio no futebol goiano e os primeiros anos poderiam estar escrevendo uma trajetĂ³ria de sucesso para o novo time do pĂ¡ssaro azul.



Logo no seu primeiro ano, o Goiatuba ganhou um estĂ¡dio para a cidade que existe atĂ© hoje. O Divino Garcia Rosa, mais conhecido como a casa dos "goiatubas", Ă© dado atĂ© hoje como um dos mais belos estĂ¡dios de GoiĂ¡s e com uma capacidade para 15 mil pessoas. A primeira equipe do Goiatuba logo se sentiu pronta para disputar o seu primeiro torneio, e conseguiu conquistĂ¡-lo: a 3ª ediĂ§Ă£o da Taça do Vale da ParanaĂ­ba.



O campeonato foi disputado pelas equipes do Bom Jesus, TriĂ¢ngula de Monte Alegre de Minas, Centralina de Minas, GrĂªmio Buriti Alegre, Vasco de Tupaciguara e o Itumbiara. Nenhum deles foi pĂ¡reo para o Goiatuba, que levou a taça com 18 pontos ganhos e jĂ¡ formou o seu primeiro artilheiro, o "famoso" Esqueleti, que marcou 14 gols na competiĂ§Ă£o. 


O "DivinĂ£o", estĂ¡dio localizado na cidade de Goiatuba.
Foto: goiasinterior.com.br
A FederaĂ§Ă£o Goiana de Futebol, percebendo que havia clubes em ascensĂ£o no interior do estado, resolveu fazer um pequeno torneio em 71 entre Goiatuba, Itumbiara e o AmĂ©rica de Morrinhos e o vencedor disputaria o Campeonato Goiano daquele mesmo ano. A equipe do AzulĂ£o foi com unhas e dentes para a competiĂ§Ă£o e conseguiu bater o AmĂ©rica duas vezes e venceu o Itumbiara fora, que sĂ³ poderia se classificar para o estadual se vencesse o jogo da volta em Goiatuba.


A decisĂ£o ocorreu no "DivinĂ£o" com mais de 10 mil pessoas no estĂ¡dio, e a equipe do Itumbiara começou vencendo por 2 a 0 e podendo tirar a equipe do AzulĂ£o da sua tĂ£o sonhada classificaĂ§Ă£o, mas com gols de Eduardo e Tino aos 43 e 45 minutos da etapa final, o Goiatuba empatou o jogo por 2 a 2 e conquistou o torneio. Era mesmo a aparĂªncia de um time aguerrido e glorioso do interior de GoiĂ¡s.



O AzulĂ£o conseguiu ter uma estrĂ©ia convincente no Campeonato Goiano e venceu o GoianĂ©sia jogando em casa na estrĂ©ia por 1 a 0, porĂ©m, a equipe acabou ficando na lanterna da competiĂ§Ă£o daquele ano. Felizmente, eles conquistaram o bi-campeonato da Taça do Vale da ParanaĂ­ba. JĂ¡ em 72, a equipe cresceu e ocupou a 7ª colocaĂ§Ă£o do estadual e conquistando o Torneio Sul Goiano em cima do AtlĂ©tico Goianiense.



Em 73, o Goiatuba viveu um outro ano histĂ³rico no futebol ficando na 3ª colocaĂ§Ă£o no Campeonato Goiano, vencendo o Quito Colobata por 3 a 0 em seu primeiro amistoso internacional e tambĂ©m aplicando no MiguelĂ³polis, a maior goleada da sua histĂ³ria: 15 a 1. O ano do AzulĂ£o foi tĂ£o especial que atĂ© o Garrincha (Sim, o grande Garrincha), vestiu a camisa da equipe para assistir um amistoso. Infelizmente, a equipe nĂ£o teve o mesmo desempenho em 74 fazendo uma campanha abaixo do esperado no estadual e em uma partida realizada contra o Flamengo, no que tambĂ©m poderia ser uma das maiores de sua histĂ³ria, acabou perdendo por 6 a 2.


Garrincha usando a camisa do Goiatuba em amistoso realizado no ano de 1973.
Foto: seriezfutebol.com
Os anos se passaram e em 81, o Goiatuba disputou o seu primeiro torneio nacional: a Taça de Bronze, mas acabou sendo eliminado na primeira fase pelo Itumbiara e foi rebaixado pela primeira vez no Campeonato Goiano em 82. A Ăºnica coisa que o torcedor azulino pode se alegrar naquele ano foi das grandes goleadas que o time aplicou em alguns adversĂ¡rios, como 9 a 1 no Monte Cristo, 9 a 2 no Vila Nova e 8 a 2 em um amistoso contra o Comercial de RibeirĂ£o Preto.


A equipe azulina conseguiu o seu retorno em 84 quando foi campeĂ£o da segunda divisĂ£o do Campeonato Goiano, e apĂ³s isso, virou um time coadjuvante na elite do futebol do estado. Em 88, a equipe teve que disputar novamente o seletivo para jogar o estadual, dessa vez, contra o CRAC e a Jataiense, e acabou vencendo novamente garantindo a vaga para o estadual de 89, que faria histĂ³ria mais uma vez terminando na terceira colocaĂ§Ă£o com o artilheiro Bill marcando 13 gols, e em 90, terminou em quarto com mais um goleador: Pirata, que marcou 14 gols naquele ano. E quem diria naquele ano que aquele Pirata estava sĂ³ no começo de suas glĂ³rias com a camisa do AzulĂ£o? Talvez sĂ³ um ou outro.


Equipe do Goiatuba que terminou em terceiro lugar do Goiano em 1989.
Foto: futeboldegoyaz.com.br


O ano da grande conquista:



AtĂ© que chegou o ano de 92, que traria ali a maior das honras para o Goiatuba Esporte Clube. A equipe era comandada por Orlando LelĂ©, ex-jogador de futebol e com vĂ¡rias peças que procurariam fazer histĂ³ria naquele ano. A maioria delas com seus famosos apelidos como os volantes Cachola e Estrela, os atacantes Tornado e Pirata e o goleiro Marolla, que jĂ¡ havia vestido a camisa do Santos. O inĂ­cio do campeonato foi em julho e com 30 cansativos jogos na primeira fase da competiĂ§Ă£o, era difĂ­cil prever quem seria o campeĂ£o. SĂ³ se falava que seria mais um time da capital. Na segunda fase, houve um quadrangular para descobrir os quatro times que brigariam pelo tĂ­tulo daquele ano. O Goiatuba sofreu no começo e quase foi eliminado, mas venceu os trĂªs Ăºltimos jogos e se classificou para o quadrangular final com AtlĂ©tico, GoiĂ¡s e Vila Nova.



E foi nessa reta final que a equipe azulina mostrou o seu valor e sua força vencendo todos os seis jogos do quadrangular. Na partida contra o AtlĂ©tico com o estĂ¡dio Divino Garcia Rosa lotado, um dos jogos mais emocionantes para o Goiatuba aconteceu graças Ă  um gol aos 41 minutos do segundo tempo marcado pelo artilheiro Pirata apĂ³s contar com um resvalo 'amigo' do zagueiro AndrĂ©, do AtlĂ©tico. A torcida toda comemorou muito aquele gol e o atacante artilheiro Pirata, camisa 10, foi ovacionado durante dias, porĂ©m o sonho do tĂ­tulo começou a surgir nos jogos contra o GoiĂ¡s e o Vila Nova, em GoiĂ¢nia.


A partida contra o GoiĂ¡s foi umas das mais duras jĂ¡ que se tratava do favorito ao tĂ­tulo goiano naquele ano, mas o meia LenĂ­lson, um dos grandes destaques do AzulĂ£o no campeonato, fez a diferença no jogo marcando dois gols com assistĂªncias de Estrela e ClĂ¡udio. O GoiĂ¡s chegou a diminuir com Wilson mas quem saiu vitorioso foi o Goiatuba por 2 a 1 no Serra Dourada. A equipe de Orlando LelĂ© foi para a partida contra o Vila Nova dependendo apenas de si mesmo para garantir o tĂ­tulo inĂ©dito.


Com muita garra, o Goiatuba venceu o GoiĂ¡s em pleno Serra Dourada.
Foto: ocuriosodofutebol.com.br
O Serra Dourada estava diferente na partida contra o Vila Nova. SĂ³ Goiatuba ou GoiĂ¡s poderiam conquistar o Campeonato Goiano daquele ano, e com isso, para o time esmeraldino ser campeĂ£o, teria que torcer para uma vitĂ³ria do rival colorado em cima dos azulinos. É claro que a torcida colorada iria se juntar aos adversĂ¡rios e torcer juntos pelo primeiro tĂ­tulo do Goiatuba no estadual, e assim, foi formada naquela noite o "Vilatuba" com as arquibancadas misturadas com as cores vermelhas e azuis.

Torcedores do Vila e Goiatuba se unem nas arquibancadas do Serra Dourada.
Foto: youtube.com
Antes da partida, os jogadores se ajoelharam nos vestiĂ¡rios do Serra Dourada e celebravam a fĂ© que os mantinha unidos, com uma ajuda do massagista folclĂ³rico do Goiatuba conhecido como 'Sombra'. E parece ter dado certo. Logo no inĂ­cio do jogo, a bola foi dividade entre o lateral ClĂ¡udio e o goleiro do Vila Nova, e caiu nos pĂ©s do destemido Pirata, que colocou a bola no fundo das redes. Era o gol que o AzulĂ£o precisava para levantar a taça, e quando no segundo tempo, Luisinho chutou para a rede apĂ³s linda jogada individual, a festa estava garantida. Era o gol do tĂ­tulo e da vitĂ³ria. O gol da gloriosa campanha do Goiatuba.



A campanha da torcida e dos funcionĂ¡rios: "Todos por Goiatuba". A comemoraĂ§Ă£o tomou conta das ruas da cidade com a populaĂ§Ă£o saindo nas ruas para aplaudir os jogadores em uma bela carreta Ă  caminho do estĂ¡dio Divino Garcia Rosa, onde os jogadores amostraram o seu trofĂ©u, respiraram aliviados e bandeiras comemorativas eram vistas de longe. 

Torcedores e jogadores comemoram no estĂ¡dio Divino Garcia Rosa.
Foto: ocuriosodofutebol.com.br
ApĂ³s aquele tĂ­tulo, o Goiatuba nĂ£o sĂ³ virou destaque no estado, mas tambĂ©m no Brasil. A equipe apareceu em vĂ¡rios telejornais e revistas do ano e participou no ano seguinte de competições importantes como a Copa do Brasil, onde foi eliminado logo na primeira fase pelo CearĂ¡ e tambĂ©m a SĂ©rie B do Campeonato Brasileiro. No Goiano, acabou terminando na 5ª colocaĂ§Ă£o mas LenĂ­lson foi o artilheiro com 21 gols.

O AzulĂ£o estava perto de se tornar uma grande equipe do nosso estado. Disputando de igual para igual com as equipes da capital, formando sempre grandes jogadores e artilheiros. Parecia inimaginĂ¡vel que o time sumiria do mapa nos dias de hoje, mas infelizmente, aconteceu.

O Goiatuba teve destaque na famosa revista "Placar" apĂ³s o tĂ­tulo.
Foto: seriezfutebol.com
A queda brutal do Goiatuba:

No ano de 95, o futebol foi ganhando novos rumos e ficava claro que os times teriam de mudar para ir conquistando seu espaço no futuro, mas apĂ³s a renĂºncia do presidente BurĂ³, e o clube começou a passar por muitas dificuldades. Em 96, acabou sendo o lanterna do estadual e foi rebaixado com um elenco caro. Na SĂ©rie B do Brasileiro, o clube nĂ£o fez uma boa campanha e tambĂ©m foi rebaixado, porĂ©m graças ao "Caso Ivan Mendes", o AzulĂ£o permaneceu na SĂ©rie B, mas com um elenco fraco em 97, o time acabou sendo rebaixado novamente com uma campanha ridĂ­cula de apenas 2 pontos em 8 jogos disputados. Foi a Ăºltima participaĂ§Ă£o do clube azulino na segunda divisĂ£o nacional, ao menos, o clube conseguiu vencer a divisĂ£o inferior do GoianĂ£o.

A crise era grande no Goiatuba. Por razões desconhecidas, o clube nĂ£o disputou a SĂ©rie C do BrasileirĂ£o em 98 e sĂ³ retomou a disputar a competiĂ§Ă£o nacional em 2003, mas fez outra campanha ruim terminando em 89º lugar com 93 times em disputa. Naquele mesmo ano, voltou a ser rebaixado para a segunda divisĂ£o do estadual, mas conseguiu um retorno imediato no ano seguinte.

Em 2005, tentou conquistar novamente a vaga para disputar a SĂ©rie C, mas por pouco ficou nĂ£o conseguiu e no ano seguinte, foi rebaixado mais uma vez para a segunda divisĂ£o do Campeonato Goiano e nunca mais conseguiu voltar para a primeira divisĂ£o. Em 2008, sofrendo uma goleada esmagadora da Aparecidense por 6 a 0 em casa, foi rebaixado para a terceira divisĂ£o do estadual. 

Tentou inĂºmeras vezes voltar a se destacar no futebol do estado, inclusive se unindo Ă  um um novo clube da cidade, a AssociaĂ§Ă£o AtlĂ©tica Goiatuba, no ano de 2010, mas tambĂ©m sem sucesso. Hoje o clube Ă© licenciado, mas corre grandes riscos de fechar as portas.

Equipe do Goiatuba no ano de 2008 disputando a segunda divisĂ£o estadual.
Foto: fabioegito.blogspot.com

Sabe o que Ă© o mais legal no nosso futebol? Saber reconhecer das nossas raĂ­zes e das nossas histĂ³rias, os clubes que um dia fizeram histĂ³ria. Mesmo hoje 'acabado' e deixado de lado assim como o grande estĂ¡dio Divino Garcia Rosa, o Goiatuba teve suas glĂ³rias e nunca serĂ¡ esquecido pois terĂ¡ seu nome no mural dos campeões goianos destacado no ano de 1992. Torço muito para que o futebol goiano cresça e clubes como o AzulĂ£o do Sul voltem a ser reconhecidos e respeitados como antigamente, isso vale para o gigante GoiĂ¢nia Esporte Clube tambĂ©m. Encerro essa matĂ©ria com um dos hinos mais legais que jĂ¡ ouvi, com um ritmo suave e animado, com a cara do interior de GoiĂ¡s. 

"Sou Goiatuba até morrer...
Trago azul no coraĂ§Ă£o...
Jogando sempre pra vencer...
Buscando ser um campeĂ£o..."

"Eterno azul como infinito...
Lutar Ă© tua tradiĂ§Ă£o...
Teu nome sempre foi meu grito...
É AzulĂ£o, Ă© AzulĂ£o..."

"De norte Ă  sul...
És um aldaz...
És o orgulho...
Do esporte em GoiĂ¡s..."





Matéria feita por Wagner Oliveira em homenagem ao Goiatuba Esporte Clube.

Wagner Oliveira || @wagneroliveiraf
Linha de Fundo || @SiteLF

Postar um comentĂ¡rio

2 ComentĂ¡rios

  1. Foi um grande time! Um amigo de Goiatuba nĂ£o deixa eu esquecer esse tĂ­tulo (rsrsrs). Mas um time tem que depender dele mesmo para ser campeĂ£o - essa foi a falha do GoiĂ¡s. O Vila Nova era presa fĂ¡cil para o time do Sul Goiano. Pena que o fim foi como a ascensĂ£o - rĂ¡pido demais! E quando Ă© assim a estrutra gerencial nĂ£o foi bem avaliada como a fĂ­sica. Mas torço para que ele volte para apresentĂ¡-lo o GoiĂ¡s!

    ResponderExcluir
  2. SĂ³ algumas correções. Em 1982, quem ganhou de 9 a 2 foi o Vila Nova. Foi a maior goleada sofrida pelo Goiatuba naquele ano, que ainda perderia para o AtlĂ©tico por 5 a 1 em casa. E tambĂ©m nĂ£o houve goleada sobre o Monte Cristo. Nesse, o Goiatuba venceu em casa por 2 a 1 e empatou em GoiĂ¢nia em 2 a 2, salvo engano. ParabĂ©ns pelo texto.

    ResponderExcluir