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Fonte: Túlio Kaizer - Superesportes |
Se em qualquer manual de futebol estivessem categorizados os fatores externos que podem tornar um jogo de futebol mais difícil, as
primeiras coisas que estariam escritas seriam: estádio acanhado (estilo alçapão),
péssimas condições de gramado e tal da altitude.
O confronto do
Galo de hoje pela Libertadores da América, contra o Independiente del Vale
reuniu esses três elementos. O Estádio Municipal Rumiñahui é pequeno, apertado,
tem capacidade para 8.000 expectadores. Se for puxar pela memória, a cancha
equatoriana não perde em absolutamente nada para o Farião (Divinópolis), para a
Fazendinha (Ituiutaba), e para o Israel Pinheiro (Itabira), símbolos do futebol
(às vezes varzeano) do interior de Minas Gerais. O relvado tem até boa
qualidade (segundo imagens pinçadas na internet), contudo um temporal caiu pelas
bandas de Sangolqui e os relatos dos jogadores, comissão técnica e dos
setoristas de Belo Horizonte apontam alguns problemas como buracos, placas se
soltando e uma drenagem deficiente em caso de um novo pé d’água, principalmente
nas laterais, local mais castigado pela chuva. Junte tudo isso num
liquidificador, adicione 2.820 metros de altitude e pronto: Bem vindos ao Caos.
No entanto,
quem dera fossem essas as únicas preocupações do Atlético. Se fosse apenas isso
estava estaria tranquilo (quase favorável). Ao contrário dos fragilizados times
do interior do estado, o Independiente del Vale (apesar de não ser um vencedor no certame equatoriano) vive um momento técnico iluminado, é o melhor clube Equatoriano na Libertadores e atual Vice Lider do
Grupo 5, desbancando por enquanto o tradicional Colo-Colo.
O Negriazul,
como é conhecido localmente, tem apenas 57 anos de vida e somente há seis
frequenta a elite do futebol equatoriano (com dois vice-campeonatos em 2013 e
2014). O sucesso do clube é resultado de uma política pautada na formação de
jogadores. O Independiente del Vale é uma escola de futebol, forneceu/fornece
inúmeros jogadores ás seleções de base do seu país.
Ou seja,
estavam postos todos os ingredientes de uma guerra, do jogo mais difícil para o
Atlético nessa fase de grupos.
A respeito do
jogo, os times lançaram escalações de certo modo espelhadas, ambos no 4-2-3-1.
O Galo mandou a campo: Uilson, Rocha, L.Silva, Erazo, D. Santos (Cândido),
Carioca, Urso, Luan, Cazares (Donizete), Robinho (Carlos Cesar) e Pratto.
Enquanto o Del Valle iniciou a peleja com: Azcona, Nunes, Caicedo, Ayala,
Orejuela, Rizotto, Julio Angulo, Junior Sornoza, Arturo Mina, Bryan Cabezas e
Jacson Pita.
O jogo começou
esquisito. O Atlético tentou nos primeiros minutos impor suas características
mais marcantes na temporada: pressão no campo ofensivo e velocidade na armação
das jogadas, principalmente através de toques curtos sob a regência de Juan
Cazares. Porém, o gramado pesado e extremamente irregular prejudicou demais o
alvinegro, provocando com frequência erros de passe (digamos bem bobos). Já os donos da casa cientes
do terreno não faziam tanta questão de ter a bola, de cara apelaram para
espanadas, e coincidentemente na segunda delas, em um lance muito similar ao
gol sofrido no clássico – um chutão para o lado direito da defesa encontrou o
habilidoso Bryan Cabezas, que novamente com todo espaço do mundo teve tempo de
armar o tiro, desferir um balaço que desviou na coxa de Marcos Rocha, e acabou
por encobrir o Goleiro Uilson. 1X0 Del Valle.
O Atlético
ficou um pouco atordoado com o gol. No lance seguinte, o titubeante zagueiro Erazo, errou o tempo de uma bola atravessada do lado direito da defesa alvinegra
permitindo o ponta Julio Angulo a oportunidade de carimbar a trave do
goleiro Uilson. No entanto, quando tudo parecia nebuloso, em um lance de pura
clarividência: Juan Cazares encontrou Junior Urso entre os zagueiros
equatorianos, que por sua vez só teve o trabalho de concluir ao gol. 1x1. O
tento pareceu que daria certa tranquilidade ao Atlético. Contudo, o time
estranhamente se desarticulou na defesa. No um contra um, os equatorianos
levaram vantagem em quase todas as bolas, especialmente em cima dos dois
laterais e do zagueiro Erazo (ê Erazo faz essa Massa Sofrer). Faltas seguidas foram cometidas a frente da área,
e em uma delas (cometida pelo Erazo, olha ele aí de novo) o habilidoso camisa 10 Junior Sornoza encontrou o gol (Na
opinião do blogueiro, o goleiro Uilson armou mal a barreira e na sequência do
lance tentou adivinhar o que faria o equatoriano, decisão fatal para o gol do
Del Vale) – 2x1 para os donos da casa.
Com vantagem
no placar, os equatorianos definitivamente tomaram as rédeas do jogo, dominaram
o meio de campo com maior posse de bola. As linhas de marcação do Atlético se
desarticularam, e a armação não acontecia visto que Juan Cazares não aparecia
como no início do jogo e quando se apresentava tomava decisões errôneas (por
excesso de preciosismo). Seria leviano culpar apenas Cazares, visto que o meio
campo como um todo não se aproximava, facilitando as roubadas de bola do time
da casa. Numa destas, em uma metida “no ponto futuro”, Erazo – em péssima
partida – errou o bote, permitindo a Angulo todo flanco esquerdo da defesa
alvinegra; como uma flecha, o equatoriano correu livre, tentou o cruzamento, a bola desviou no braço de Leo
Silva e o juiz apontou para marca penal (lance discutível, entretanto o juiz foi coerente com a recomendação da FIFA). Bola para um lado, goleiro para o
outro. 3x1 para os donos da casa.
No intervalo,
Diego Aguirre notou a fragilidade no meio campo, e mesmo perdendo, sacou Juan
Cazares para a entrada de Leandro Donizete.
O uruguaio faria ali uma mudança tática importante. O Galo saiu do 4-2-3-1
e se alinhou em um 4-1-4-1. Ainda sem tempo para saber se a mudança surtiria ou
não efeito, em um lance bastante confuso para dizer o mínimo, Lucas Pratto foi
empurrado dentro da área (lance similar ao empurrão de Fabrício no mesmo Pratto, no clássico mineiro), o apitador muito próximo do lance apontou para a
marca da cal. O próprio Pratto em uma cobrança de manual diminuiria a
desvantagem – 3x2.
Com o objetivo
de dar mais consistência ao meio campo Aguirre promoveu uma nova alteração -
Carlos Cesar substituiu Robinho (que pouco acrescentou enquanto esteve em
campo). O cortejo na sequência ficou extremamente truncado, o Atlético não sofria
tanto defensivamente, no entanto o ataque também não funcionava - recorrendo
aos chutes de fora da área e as bolas alçadas como armas....sem sucesso.
Nada mais digno de nota aconteceu, e o Atlético
perdeu seu primeiro jogo na Copa. Algo que sabíamos que mais cedo ou mais tarde
acabaria acontecendo. Coletivamente foi a pior partida do Galo na temporada, um
time desarticulado tanto no ataque quanto na defesa. Os jogadores não se
adaptaram ao campo, e ao tipo de jogo imposto pelo adversário. Erros fatais em
uma competição tão acirrada.
Portanto massa mais vibrante desse Brasil, a derrota
foi merecida. O adversário foi claramente superior, em um jogo com um Galo sem
inspiração. Simplesmente não funcionou.
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