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O primeiro passo de uma longa caminhada

Estrear com triunfo é tão desejável quanto anormal para o Bahia. Em Campeonatos Brasileiros não tem sido o resultado recorrente nos últimos anos – a última doce lembrança foi justamente no ano de maior êxito recente, especificamente no dia 07/05/2010 contra o América-RN no Estádio de Pituaçu, com gol solitário de Rodrigo Gral. Naquele ano o Bahia conquistou o acesso para a Série A, mesmo objetivo da atual temporada.

Desta forma, o placar magro do jogo contra o Avaí, disputado em um agradável sábado à noite, cumpriu o seu dever de não apenas iniciar bem a arrancada deste ano, mas de encher de esperança o coração de sua supersticiosa torcida.

O elenco tricolor é considerado um dos mais fortes da competição, mas a verdade é que até a última partida do Campeonato Baiano não havia confiança nem sintonia entre a massa que apoia o esquadrão e a equipe de Doriva. Uma boa repaginada na forma de atuar da equipe, que repetiu o padrão na quarta passada contra o América-MG pela Copa do Brasil, trouxe de volta a simbiose entre time e torcida. A torcida não compareceu em grande número, mas foi para apoiar.

Bahia repetiu o 4-4-2 com Danilo e João Paulo Gomes abertos na segunda linha e Thiago Ribeiro e Zé Roberto no ataque – Hernane e Edigar Junio foram vetados para a partida. Entre os onze iniciais tinha a estreia do zagueiro  Jackson, comprado em definitivo junto ao Internacional na última semana.

A equipe iniciou a partida com boa disposição em campo e desperdiçou ótima oportunidade com Thiago Ribeiro logo no início do jogo. O Bahia manteve a posse de bola no campo ofensivo, mas com o tempo  foi arrefecendo e dando espaço ao Avaí. Esse é um dos defeitos da equipe de Doriva: Excesso de apego ao jogo reativo, marcação que não pressiona o homem que tem a bola, nem força o erro adversário. Estratégia que irrita a torcida, mas que é recorrente com o treinador. Não marcar pressão também significa se expor menos e correr menos riscos, mesmo que para isso abdique do controle da partida.

Bahia que venceu o Avaí no sábado à noite: Sistema variava para 4-4-1-1 com Thiago Ribeiro buscando a entrelinha
Foi nesse contexto que aconteceu o lance que mudou o rumo da partida. Golpe de MMA de Alemão em Paulo Roberto, expulsão direta do jogador do time catarinense e paralisação de seis minutos até a remoção do volante tricolor pela ambulância do estádio. Momento de apreensão, porém o jogador passa bem e já teve alta. Juninho substituiu Paulo Roberto. Com um jogador a mais, o Bahia partiu para o abafa; os laterais faziam muitas ultrapassagens em combinações com os meias abertos e com aproximação dos volantes. Apesar disso, o gol não saía, o juiz ignorou duas penalidades claras e a igualdade no placar só foi desfeita após um cruzamento perfeito de Moisés e conclusão de almanaque de Zé Roberto após cabeceio indefensável do contestado atacante reserva.

A vantagem numérica e no placar permitiu a Doriva imprimir outro ritmo a partida, e o Bahia rodou bastante, usando inversões e viradas de jogo, a maioria com a bola no chão. Isso acabou refletindo no número de passes trocados [545], o maior da primeira rodada, com um índice de acerto de 93%.

O time obteve um bom volume de jogo, mas pecou bastante no último terço do campo com apenas 9 das 26 finalizações indo no gol, um problema que já havia se repetido nos dois últimos jogos e que foi abordado por Doriva na coletiva pós-jogo. Contra um adversário mais qualificado esse baixo índice de eficiência pode custar caro.

Bahia com muita presença no campo ofensivo e explorando as laterais do campo - a tônica da partida
O Bahia seguiu insistindo nas jogadas laterais por motivos diversos, incluindo pela falta de um armador capaz de centralizar o jogo e para usar a amplitude dos laterais para fugir da retranca adversária. Dessa forma chegou ao segundo tento, com Tinga encontrando o iluminado Zé Roberto, que finalizou o cruzamento da direita com um belíssimo toque de letra.

Com o placar em dois a zero e um jogador a mais, era de se esperar um massacre. Ele não veio por absoluta incompetência em traduzir em gols o amplo domínio contra um adversário praticamente na lona. Luisinho, Thiago Ribeiro, Moisés e Blanco desperdiçaram chances cristalinas de ampliar. As entradas de Luisinho e Blanco deram o equilíbrio necessário para expandir o domínio, porém faltou competência para finalizar.

No fim e com o jogo definido, o Bahia conseguiu tomar um gol de contra ataque – com o time exposto os dois laterais avançados e sem cobertura bem posicionada. Erros bobos que impediram que uma estreia até boa fosse traduzida em um triunfo mais convincente.

NOTAS SOBRE ELA [A ESTREIA]

- Jackson estreou bem. Mostrou dificuldades em algumas saídas de bola, mas antecipou bem quando necessário, ganhou todas pelo alto e esteve sempre bem posicionado.

- Lucas Fonseca por outro lado não está bem. Errou muitos botes, deu espaços no seu setor e perdeu vários confrontos individuais. A saída de Éder não se justifica tecnicamente, principalmente pelo jovem zagueiro ter a melhor saída de bola entre os zagueiros do elenco;

- Thiago Ribeiro melhorou bastante sua produção com o novo posicionamento em campo. Voltando pra buscar a bola na entrelinha, partindo da esquerda para o meio, bastante participativo com a bola e puxando a marcação. Abriu o corredor para Moisés várias vezes e tentou muitas finalizações – foi o que mais errou. Falta acertar o pé e o gol;

Mapa de calor comprova que Thiago Ribeiro buscou muito o jo fora da área, principalmente partindo do lado esquerdo
- Moisés é um AZOUGUE. Implacável na marcação, desarmando os adversários como se jogasse no PLAYGROUND contra os primos de dez anos, tomou conta do lado esquerdo. Deu uma assistência e foi o que mais acertou cruzamentos – também foi o que mais errou. Bahia já está em tratativas adiantadas para mantê-lo até o fim da temporada. Será muito importante pro time;

- Qual a posição de Danilo Pires? Volante, meia, ponta... Difícil definir. É um DÍNAMO em campo e ocupa todos os espaços em campo. A entrega é absurda e isso tem cobrado um preço alto do ponto de vista físico – geralmente a produção cai na parte final das partidas. Precisa também ser mais assertivo nas decisões técnicas, tem errado mais que o habitual para alguém da qualidade dele.

- Zé Roberto entrou em campo com todo o peso do mundo nas costas. Sabia que na prática seria sua última chance após os gols perdidos quarta passada e com todo histórico de implicância da torcida. Após o primeiro gol voltou para a segunda etapa com a confiança em alta. Fez um GOLAÇO e quase marcou outro de bicicleta, saiu bem da área, aproximou-se bem para triangulações e confundiu a defesa do Avaí com sua movimentação do meio para a direita. Mostrou que pode ajudar nessa Série B.

- Modelo de Doriva tem sido mais eficiente fora de casa o que costuma ser FUNDAMENTAL na série B. Com a consolidação do 4-4-2/4-4-1-1 como sistema de jogo/transição ofensiva será interessante ver onde ele encaixará Cajá no esquema – provavelmente no lugar de João Paulo. Ótimo problema a resolver, time ganha em alternativas e formas de atuar.

Dados: Footstats

Alex Rolim - @rolimpato - #BBMP

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3 Comentários

  1. Parabéns Pelo Texto Alex. Tenho as mesmas impressões suas, mas acho que embora Danilo Pires seja um jogador super disposto taticamente, na ponta ele erra todos os passes e cruzamentos. #BBMP

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  2. Pouco antes da expulsão do lateral Alemão, o Avaí abriu dois ponteiros e ainda encostou um meia no atacante central. Durou pouco tempo, mas essa disposição avaiana fez Doriva recuar Feijão pra jogar entre as linhas do Bahia, desfazendo o 4-4-2 , sem a bola, e ficando numa espécie de 4-1-3-2...

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  3. Bahia sempre faz essa variação no jogo a depender da postura do adversário. Como vc disse a expulsão de Alemão e principalmente a entrada de Juninho abortou essa variação.

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