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There is a house in New Orleans. Uma história de amor ao esporte.


Bom, primeiramente gostaria de me apresentar ao leitor de futebol americano do Linha de Fundo. Sou Matheus, 26 anos, mineiro de Belo Horizonte, responsável pela cobertura do Clube Atlético Mineiro, o Galo das Alterosas. Enfim, como estou entrando em um contexto novo, um assunto novo, novos leitores, acho de bom tom a realização uma introdução, mesmo que breve.

Ao mesmo tempo caros, gostaria de fazer uma advertência: Nessa minha estreia nos meandros da bola oval, não falarei de estatísticas, expectativas, contexto do jogo. Isso deixo para agosto e principalmente para setembro, quando a temporada de fato começar. Hoje, estou aqui para discutir algo mais profundo: o surgimento de uma paixão por uma franquia, principalmente no contexto de um brasileiro, consumidor do outro futebol, o da bola redonda. Assim, neste texto falarei um pouco da minha história com o New Orleans Saints, e gostaria que nos comentários os leitores falassem de como surgiu o sentimento para com suas franquias de coração (Quem sabe não pegamos as melhores histórias e realizamos um post especial com os amigos colaboradores do site?). 

Fonte: exame.abril.com.br

Destarte, antes de admirar o jogo, ver beleza na performance, admiramos um time. Geralmente tal processo se dá de maneira hereditária. O seu time, geralmente é o time do seu pai, do seu avô, e vai ser, a posteriori, o time de possíveis filhos, netos, bisnetos  (Algo natural). A tradição é construída com o tempo, vem de geração em geração. Contudo, também existem os casos que o torcedor se apaixona por uma característica peculiar da agremiação, algo que a torne única entre as demais, e a identifique perante outras. Para exemplificar tal processo vejam minha escolha de time no futebol brasileiro: Meu pai e meu falecido avô me ensinaram a amar o galo, me contaram suas histórias, seus heróis, suas conquistas. Não escolhi o Galo por títulos, até porque nos anos 90 e 00, período de minha infância e adolescência, não foram muito férteis neste aspecto. Escolhi por que ali me identificava, com as cores, com a gente, com o apoio incondicional da torcida, e pelo time conseguir agregar o pessoas dos mais diversos tipos em Belo Horizonte, principalmente os renegados pela sociedade: os pobres (seja de qual etnia pertencer), e  os migrantes, forasteiros das mais diversas regiões do Brasil e do mundo (mas deixa essa história para quando for tratar do Galo).

Fonte: www.futebolamericano.eu
Nesse sentido pergunto ao amigo leitor, como essa escolha é feita por uma franquia da NFL, principalmente por um torcedor brasileiro? Esse caso é um pouco mais complexo, tendo em vista que em primeiro lugar, o acesso é difícil visto que nem todos tem/tinham uma TV a cabo disponível, ou uma internet de alta velocidade capaz de sustentar uma transmissão; o futebol americano nunca esteve no imaginário esportivo do Brasileiro (tal processo é recente), de uns 10 anos para cá ganhou mais força; Além disso mesmo vendo o jogo, como estabelecer uma relação de vínculo com uma franquia?

A primeira causa e efeito vem de contatos. Um amigo que conhece, te apresenta o jogo por causa de franquia A ou B, você aprende algo, e continua com essa franquia; outra pode ser a relação causal com a vitória: você é introduzido ao jogo, aprende mais ou menos as regras, vê pela primeira vez um time executando a “futbola americana” na plenitude.  É natural que se torça por essa máquina (Nos anos 2000 a comunidade brasileira que escolheu os Patriots, tem muito disso). Um terceiro caso é daquele torcedor que é apresentado ao jogo, após tal introdução o mesmo pesquisa a história ou vai conhecendo pelas transmissões, se identifica, pega alguma afinidade e escolhe a marca; pode ser também um caso com a cidade em questão, seja por já ter morado em cidade A ou B, ou mesmo sem ter colocado o pé em determinado lugar, haja alguma afinidade por outros fatores como a música, a cultura local, alguma personalidade, enfim, são muitas as possibilidades.

Fonte: gamesdbase.com

Confesso que no meu caso com os Saints foi uma mistura do terceiro e do quarto caso, visto que estaria forçando bem a barra se fosse falar que os Saints eram uma máquina de vitórias, nunca foram (pelo menos até 2006). 

Permitam-me contar melhor essa história: Primeiro lugar, tive acesso à TV a cabo apenas em 2005 (que coincidentemente foi também o ano de maior sofrimento que tive em relação ao futebol da bola redonda, por conta do rebaixamento do Galo), como uma premiação por ter ido bem na escola (tinha 15 para 16 anos, exatamente há 11 anos atrás). Curioso que sou, e vidrado nos canais ESPN logo me deparei com aquele jogo esquisito, bando de homens se matando, que eu parcamente havia tido contato através do videogame (do velho Madden nos finados Supernintendo e Play Station 1) e do Cinema (especialmente pelo Filme Virando o Jogo, lançado no longínquo ano 2000, e estrelado por Keanu Reeves que interpretou um quarterback desacreditado chamado Shane Falco). Através das transmissões fui tomando gosto pela coisa, entendendo as formações, as estatísticas, a mecânica. Contudo nada ainda havia me pegado, eu era apenas um expectador ávido e curioso.

Fonte: http://www.quintoquartobr.com/


Tal condição começou a se alterar a partir do dia 29 de agosto de 2005 (data de um desastre e do nascimento de uma das mais belas histórias que o esporte, seja lá qual for, pode contar). Essa data, para os que não conhecem é marcante para a história dos EUA por conta de um dos maiores, senão o maior desastre natural ocorrido no país. Me refiro ao Furacão Katrina.

Fonte: www.apolo11.com
A tempestade tropical possuía ventos que atingiram mais de 280 quilômetros por hora; o desastre gerou em torno de dois bilhões de dólares de prejuízo; mais de 1.000 mortes principalmente na região metropolitana de Nova Orleans, talvez dos maiores, se não o maior bolsão de pobreza dos EUA.

Somado a esse fato, o problema milhões de residentes perderam tudo, principalmente seu teto já que os diques que protegiam Nova Orleans não conseguiram conter as águas do Lago Pontchartrain, inundando mais de 80% da cidade. Cerca de 200 mil casas ficaram debaixo d'água na capital do Jazz, do Blues e do Soul, sendo que foram necessárias várias semanas para que a água pudesse ser totalmente bombeada para fora da cidade.

Fonte:exame.abril.com.br
Nesse contexto de caos, um lugar, em especial, foi extremamente importante para a população local, o Louisianna Superdome, estádio dos Saints. Sem energia, esgoto, cobertura avariada, e a falta de suprimentos suficientes para atender 30.000 pessoas que haviam perdido tudo e transformaram o estádio em um foco de esperança, em um lar.

Tal relação foi expressa de maneira brilhante pelo Green Day e o U2, na canção “The Saints are Comming”, as duas bandas tomaram a licença poética de “The House of The Rising Sun” (clássica música da banda The Animals). “There is a house in New Orleans, they call the Superdome, it’s been a ruin of many a poor boy. And god, i’m konw i’m one”.

Fonte: www.whenwasthe.com
Paralelamente, na ceara esportiva os Saints nunca haviam sido uma franquia dominante. Fundado em 1967, demoraram duas décadas para conseguir mais vitórias que derrotas em temporada regular, e quatro décadas antes de chegar a um Super Bowl. O interessante dessa história toda que o time conseguiu mobilizar a cidade ao seu redor, seus torcedores são dos mais participativos da liga, além do fato do time ser cantado em verso e prosa por inúmeros gênios musicais (sou músico amador e admirador de todos esses caras) formados no efervescente cenário cultural da capital da Louisiana (Clássico “When the Saints go Marchin in” com o imortal Louis Armstrong está aí para não me deixar mentir).


Fonte: http://cps-static.rovicorp.com/

Sofrimento, amor incondicional, história de superação, ligação com a música, estava aí um time que merecia o meu apoio. Estava aí uma história que merecia ser acompanhada. Coincidentemente, pós desastre: como se a abóbora virasse a carruagem, a sorte dos Saints mudou. Em uma grande oportunidade de mercado a aquisição do brilhante Drew Brees se mostrou uma feliz aposta (Brees era o Shane Falco da vida real, associação besta, mas na minha cabeça via o camisa 9 como um herói de filme).

Se depois da tempestade vem a bonança, pós Katrina os Saints se encontraram, tornaram-se mais competitivos como nunca. Em 2006 voltaram ao Superdome trucidando os Falcons (20-3), velhos rivais, em um momento apoteótico.Seguiram firmes e como seguiram, com participação em final de conferência no mesmo ano de 2006, e na histórica conquista do Superbowl em 2009, naquela intercepção para a história eternizada por Everaldo Marques e Paulo Antunes aos fãs brasileiros.

Fonte: http://cdn.fansided.com/
Como amante do futebol americano eu agradeço aos Saints por me mostrarem como o esporte pode ser belo; os agradeço por ter tido a oportunidade de vê-los se superarem em jogos com altíssima voltagem, vibrantes, com sentimento de quem tem uma cidade nas costas; E finalmente os agradeço por ajudarem toda uma comunidade, toda uma cidade a ser reconstruída a partir de uma casa chamada Superdome. 

Fonte: www.mbsuperdome.com


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7 Comentários

  1. Bem historia bacana... agora gostaria de contar a minha. Sou torcedor dos Chicago Bears, fanatico por sinal..rsrs. Sofro, ainda mais com a fase como o time se encontra. Mas em 2009 nao entendia nd sobre F.A , mas achava interessante. Assistia um seriado que aqui no brasil se chamava O Jim é assim, gostava mt. O personagem principal era Bears fanatico, se envolvia em brigas e mt confusao. E essa paixao começou a me fazer interessar ainda mais pelo seriado e pelos Bears. Mas continuei sem entender as regras, mas era bears. Mas a umas 2 temporadas atras, procurei entender cada detalhe desse esporte, de jogadas a hostoria. E hoje se tornou meu esporte favorito. E o Chicago bears virou de verdade minha paixao. Digo que ja era torcedor dessa franquia mt antes de conhecer NFL. Espero que tenham gostado da historia.

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  2. Eu sou "torcedor" do 49ers depois de ver 49ers x Atlanta na final de 2013, e como sou pé frio pakas Kkk depois o San Francisco perde a final pro Baltimore ravens e vem fazendo campanhas horríveis, mas ficou melhor pra acompanhar por causa das transmissões sensacionais da ESPN de outro amigo atleticano, o esporte começou a ser mais divulgado no Brasil, ainda estou aprendendo regras e nomes, mas estou adorando o esporte e quando meu 49ers joga no seu estádio sem um jogo com uma atmosfera leve, gostosa, já que jogamos no Levis stadium kkkkkkk

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  3. Eu sou "torcedor" do 49ers depois de ver 49ers x Atlanta na final de 2013, e como sou pé frio pakas Kkk depois o San Francisco perde a final pro Baltimore ravens e vem fazendo campanhas horríveis, mas ficou melhor pra acompanhar por causa das transmissões sensacionais da ESPN de outro amigo atleticano, o esporte começou a ser mais divulgado no Brasil, ainda estou aprendendo regras e nomes, mas estou adorando o esporte e quando meu 49ers joga no seu estádio sem um jogo com uma atmosfera leve, gostosa, já que jogamos no Levis stadium kkkkkkk

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  4. Muito bacana!
    Também sou torcedor dos Saints quase que pelo mesmo motivo.
    Conheci a cidade por causa da tragédia. Pesquisei sobre e li sua história. O que me encantou foi a música e a simplicidade de tudo.
    Sou apaixonado pelo time e por blues, jazz e soul, e espero um dia conhecer a cidade.

    Abraços e parabéns pela primeira postagem. Mais sorte para nosso NO. Rs

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    1. Obrigado pela Leitura Welker! Esse era o objetivo do Post! Trazer os torcedores das franquias para perto. E cada um com seu motivo, fazer um grande mosaico de histórias por aqui

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