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Gol de Filipe Garcia lembra antiga superstição


Sábado, quatro horas da tarde, sol radiante e temperatura baixa; muito baixa. Nas arquibancadas provisórias o clima estava mais para Lagoa dos Patos do que para futebol. O Brasil vinha de derrota e isto por si só já punha a Torcida Xavante em pé de guerra. “Treinadores”, “corneteiros” e outros nem tanto batiam um papo gostoso antes do jogo iniciar. Se alguma dessas filmadoras poderosas registrasse os debates, decerto destacariam as gotículas fujonas saindo da boca dos mais exaltados em cristais de gelo testemunhando o frio danado. No Sul do Sul é assim; frio capaz de fazer o Astro Rei usar cobertor de lã. Alheio a tudo isso os Xavantes chegavam. Certos de uma boa vitória riam e curtiam o momento esperando apenas o resultado para recuperar o saldo de gols perdido na rodada anterior.

Testemunhando tudo isso, as novas arquibancadas dão o ar da graça com vários degraus prontos sustentados por uma estrutura colossal. Dentro da melhor tecnologia e abraçado com as exigências da FIFA o Novo Bento Freitas evolui a olhos ver. E não há torcedor do Brasil que não se orgulhe com o que acontece no Clube do Povo nos dias de hoje. Capitaneado pela Comissão de Obras e a Porto 5, a construção do Novo Bento Freitas altera a paisagem da rua Princesa Isabel e do Canal do Pepino. De negativo, apenas a decisão da CBF em não prorrogar a liberação do Estádio Bento Freitas para os próximos jogos enquanto a capacidade de público não atingir os dez mil lugares exigido pelo regulamento do Campeonato Brasileiro – Série B 2016.

Ao primeiro trilar do apito o jogo iniciou comandado pelo sr. José Ricardo Vasconcellos Laranjeira/AL. Com o Tupi nas últimas posições parecia que o Brasil marcaria facilmente mais três pontos. Mas não foi assim que aconteceu e o Tupi encrespou o jogo. A esperada pressão do Brasil não acontecia e o perde e ganha arrastava os dois times para um frio zero a zero semelhante aos termômetros dessa época pré-inverno.  Eu procurava desesperadamente um destaque no Brasil, mas cadê? E dá-lhe frio e dá-lhe jogadas chochas. Fim do primeiro tempo e as fichas seriam apostadas de verdade na segunda etapa.

Carrego comigo trocentas simpatias e outras tantas superstições em se tratando de jogo do Brasil e numa partida amarrada como a de hoje meu lado místico torce junto comigo. Acionei uma antiga máxima que diz: “Sempre que o Brasil ataca, no segundo tempo, a goleira do placar nós ganhamos o jogo”. Puxei o fôlego e me preparei para assistir o segundo tempo. Realmente o Xavante melhorou um pouco, mas ainda faltava muito para acabar com o nervosismo que tomava conta de muitos na arquibancada. Sei lá se minha vista estava congelada, mas a impressão que dava era de que o Tupi tinha o domínio das ações e poderia abrir o marcador antes que nossos atacantes conseguissem balançar as redes dos caras.

À minha direita, a Garra Xavante batucava e tocava seus sopros como sempre e a torcida ia, no embalo. Às vezes, atravessava o samba porque a galera cantava hinos e chamadas surgidas no improviso supremo da emoção. O sol se foi, mas não deu tempo do frio se abancar de vez porque a torcida sentia que a hora do gol estava chegando. Passavam-se mais ou menos trinta e cinco minutos e, perto de mim, cinco ou seis torcedores resolveram ir embora descontentes com o 0X0 e a pouca produção do time em campo. Pode ser coincidência, mas eram todos jovens. De uns vinte e poucos anos. Estão longe de saber o que os Deuses do Futebol aprontam aos incautos e, principalmente, das proezas que o Brasil apronta para os nossos corações. Quarenta e poucos minutos e os tarimbados pelo tempo desfiavam um rosário de impropérios contra o juiz, contra os jogadores, contra o treinador e contra quem os contrariassem. É engraçado, mas esse momento não raramente vale o jogo inteiro porque um lance pode mudar a história toda.

Quarenta e cinco minutos e eu ali. Sem arredar pé. Um olho no jogo e outro nas obras. Tipo uma prece, uma promessa, uma simpatia ou uma superstição mesmo. Quarenta e cinco minutos cravados! Após uma grande arrancada, Natham foi derrubado próximo à linha de fundo. Falta que Marlon cobrou magistralmente na cabeça de Filipe Garcia. Golaço do Brasil! Enfim, a explosão atestada à felicidade da Nação Xavante. Um a zero, quatorze pontos na tabela e um final feliz para aqueles que enfrentaram o frio e não arredaram pé do estádio. Isso é futebol. Tem regras, táticas, preparação física, manhas e uma série de outras coisas, mas que, ao final, pode ser decidido num lance alentado na força positiva das mentes daqueles que acreditam até o último minuto.

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