Sábado, quatro horas da tarde,
sol radiante e temperatura baixa; muito baixa. Nas arquibancadas provisórias o
clima estava mais para Lagoa dos Patos do que para futebol. O Brasil vinha de
derrota e isto por si só já punha a Torcida Xavante em pé de guerra. “Treinadores”,
“corneteiros” e outros nem tanto batiam um papo gostoso antes do jogo iniciar.
Se alguma dessas filmadoras poderosas registrasse os debates, decerto
destacariam as gotículas fujonas saindo da boca dos mais exaltados em cristais
de gelo testemunhando o frio danado. No Sul do Sul é assim; frio capaz de fazer
o Astro Rei usar cobertor de lã. Alheio a tudo isso os Xavantes chegavam.
Certos de uma boa vitória riam e curtiam o momento esperando apenas o resultado
para recuperar o saldo de gols perdido na rodada anterior.
Ao primeiro trilar do apito o
jogo iniciou comandado pelo sr. José Ricardo Vasconcellos Laranjeira/AL. Com o
Tupi nas últimas posições parecia que o Brasil marcaria facilmente mais três
pontos. Mas não foi assim que aconteceu e o Tupi encrespou o jogo. A esperada
pressão do Brasil não acontecia e o perde e ganha arrastava os dois times para
um frio zero a zero semelhante aos termômetros dessa época pré-inverno. Eu procurava desesperadamente um destaque no
Brasil, mas cadê? E dá-lhe frio e dá-lhe jogadas chochas. Fim do primeiro tempo
e as fichas seriam apostadas de verdade na segunda etapa.
Carrego comigo trocentas
simpatias e outras tantas superstições em se tratando de jogo do Brasil e numa
partida amarrada como a de hoje meu lado místico torce junto comigo. Acionei
uma antiga máxima que diz: “Sempre que o
Brasil ataca, no segundo tempo, a goleira do placar nós ganhamos o jogo”.
Puxei o fôlego e me preparei para assistir o segundo tempo. Realmente o Xavante
melhorou um pouco, mas ainda faltava muito para acabar com o nervosismo que
tomava conta de muitos na arquibancada. Sei lá se minha vista estava congelada,
mas a impressão que dava era de que o Tupi tinha o domínio das ações e poderia
abrir o marcador antes que nossos atacantes conseguissem balançar as redes dos
caras.
À minha direita, a Garra Xavante
batucava e tocava seus sopros como sempre e a torcida ia, no embalo. Às vezes,
atravessava o samba porque a galera cantava hinos e chamadas surgidas no
improviso supremo da emoção. O sol se foi, mas não deu tempo do frio se abancar
de vez porque a torcida sentia que a hora do gol estava chegando. Passavam-se
mais ou menos trinta e cinco minutos e, perto de mim, cinco ou seis torcedores
resolveram ir embora descontentes com o 0X0 e a pouca produção do time em
campo. Pode ser coincidência, mas eram todos jovens. De uns vinte e poucos
anos. Estão longe de saber o que os Deuses do Futebol aprontam aos incautos e,
principalmente, das proezas que o Brasil apronta para os nossos corações.
Quarenta e poucos minutos e os tarimbados pelo tempo desfiavam um rosário de
impropérios contra o juiz, contra os jogadores, contra o treinador e contra
quem os contrariassem. É engraçado, mas esse momento não raramente vale o jogo
inteiro porque um lance pode mudar a história toda.
Quarenta e cinco minutos e eu
ali. Sem arredar pé. Um olho no jogo e outro nas obras. Tipo uma prece, uma
promessa, uma simpatia ou uma superstição mesmo. Quarenta e cinco minutos
cravados! Após uma grande arrancada, Natham foi derrubado próximo à linha de
fundo. Falta que Marlon cobrou magistralmente na cabeça de Filipe Garcia.
Golaço do Brasil! Enfim, a explosão atestada à felicidade da Nação Xavante. Um
a zero, quatorze pontos na tabela e um final feliz para aqueles que enfrentaram
o frio e não arredaram pé do estádio. Isso é futebol. Tem regras, táticas,
preparação física, manhas e uma série de outras coisas, mas que, ao final, pode
ser decidido num lance alentado na força positiva das mentes daqueles que
acreditam até o último minuto.
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