Um gol sofrido no primeiro giro
do ponteiro e outro aos 42 minutos do segundo tempo denunciam: Entre muitos
problemas que o Bahia apresentou contra o Londrina, a falta de concentração do
time em momentos chave dos jogos voltou a reaparecer. Essa falta de
estabilidade – aliada à inconstância técnica – não deixou dúvidas para a
diretoria após o primeiro revés em casa pela Série B; os fantasmas de 2015, dos
quais falei aqui, falaram mais alto e a confiança no trabalho de Doriva – que
nunca foi alta – minou de vez. O técnico perdeu o emprego ainda na madrugada de
domingo, depois a derrota para a equipe do interior paranaense.
O jogo em si não ofereceu nenhuma
grande surpresa além da boa organização e da estratégia de jogo inteligente e
bem executada pelo Londrina. Contra um Bahia que entrou em campo sonolento,
partiu em seu primeiro ataque com passes rápidos e ótima movimentação, que
aproveitou erros de posicionamento de Paulo Roberto e Lucas Fonseca para
ultrapassar com facilidade a última linha defensiva do Bahia e sair na cara de
Lomba. Sem desperdiçar a oportunidade, pôs um a zero no placar e deu início a
uma tarde de horrores para os tricolores presentes na Arena Fonte Nova.
Mantendo o rodízio na lateral esquerda, Doriva escalou
João Paulo no lugar de Moisés. Primeiro problema para a equipe, pois a
disparidade técnica entre os dois é visível; com João Paulo o Bahia passa a ter
uma fragilidade maior pelo lado esquerdo defensivo, e as combinações de ataque
entre ele e Thiago Ribeiro nesse jogo foram insuficientes para compensar essa
fragilidade.
O que se viu em campo foi o retrato do Bahia em seus
piores momentos desta temporada: Dificuldade de propor o jogo, lentidão nos
passes, falta de aproximação e triangulação, pouca ultrapassagens pelos lados,
movimentação previsível e incapacidade para criar espaços e infiltrar na defesa
adversária. O modelo de jogo de Doriva mostrando todos os seus defeitos quando
colocado contra a parede, mesmo diante de um adversário que teoricamente não
briga por vaga direta ao acesso neste ano.
Apesar do esforço de Régis e da tentativa dos
jogadores de frente, ficava evidente a falta de automatismo nas jogadas, a
pobreza de movimentos ensaiados e a limitação do padrão de jogo implantado após
seis meses de trabalho. O Bahia é uma equipe talhada a reagir e aproveitar
erros adversários, mas totalmente incapaz de apresentar ideias, acelerar o
ritmo do jogo ou incomodar com movimentos ofensivos capazes de quebrar alguma
organização defensiva mínima. Essa limitação, no contexto de uma Série B que o
tricolor precisa ser protagonista, aliada à falta de evolução nestes aspectos
ofensivos e na capacidade de converter posse de bola em um volume de jogo consistente
e eficaz, custou à cabeça do agora ex-treinador do esquadrão.
O time foi até agraciado com o empate em uma cobrança
magistral de falta executada por Juninho. Não houve merecimento no placar, pois
o Londrina continuou a se defender com competência e a atacar com perigo sempre
que tinha oportunidade; a recomposição defensiva do time tricolor também era
péssima. A ausência de Feijão expôs toda a incapacidade de Paulo Roberto em dar
qualidade ao primeiro passe do meio. Fizeram muita falta as saídas de bola
quebrando as linhas adversárias, a profundidade nesse primeiro passe, pois
obrigava Régis a voltar para tentar suprir essa deficiência e isolava os
setores do time. Uma atuação coletiva deplorável e bastante desanimadora na
primeira etapa.
O mínimo que se esperaria seria alguma mudança - de
escalação ou de postura – para a segunda etapa, porém ela não veio. Aliás,
todas as intervenções de Doriva foram desastrosas: Moisés no lugar de João
Paulo tentava consertar um erro de escalação, porém não alterava a estrutura
podre do time; Luisinho no lugar de Thiago Ribeiro é como trocar uma nota falsa
de dólar por um desentupidor de pia sem cabo: algo absurdamente INÚTIL; a saída
de Régis para a entrada de Zé Roberto foi a CEREJA DO BOLO: Uma alteração que resume
a forma anacrônica como Doriva imagina alterar o panorama dos jogos – repetindo
o expediente do jogo contra o Náutico – tirando da equipe o único sopro de
imaginação do meio, a construção de jogadas, para colocar um jogador de ataque
para fazer a função de correr a esmo em uma faixa de campo que ele não conhece.
Abdicar totalmente do controle de jogo e apostar inutilmente em cruzamentos
contra um time postado defensivamente.
O castigo veio a cavalo: Como não conseguia manter a
bola no campo ofensivo, os contragolpes foram ficando cada vez mais perigosos
até que, com o meio campo escancarado, conseguiram encaixar um ataque em cima
da debilidade de Lucas Fonseca e marcaram o gol do primeiro triunfo do Londrina
fora de casa.
A derrota foi a gota d’água. Bahia já procura novo
comandante, negocia com bons nomes e precisa definir tal situação rapidamente.
A caravana não para. Amanhã já tem novo compromisso contra o Tupi e Aroldo
Moreira, técnico do Sub20, será o interino. Da equipe de Doriva ficarão poucas lembranças
boas, alguma organização coletiva sem a bola e impressão de que o treinador foi
incapaz de fazer os jogadores renderem para o time toda a potencialidade que o
elenco possui.
NOTAS SOBRE ELA (A QUEDA DE
DORIVA)
- Foi a primeira derrota do Bahia no ano em casa para
uma equipe de Série B, mas foi o quarto revés – após Santa, Vitória, América e
Londrina. Ano passado o aproveitamento na AFN era espetacular, esse ano o time
pontua mais fora que dentro de casa. Mudança de perfil, com alto grau de incerteza
e desempenho oscilante;
- O Londrina de Cláudio Tencati (o técnico mais
longevo do futebol nacional) é uma equipe que supera as limitações técnicas com
ótima organização coletiva e boas alternativas durante os jogos. Difícil
imaginar que brigue por vaga à elite, mas deve garantir permanência na B sem
dificuldades;
- A insistência de Doriva com Lucas Fonseca custou
caro, já que o atabalhoado zagueiro teve participação decisiva nos dois gols do
Londrina. No primeiro, saiu de sua posição para combater adversário fora do
tempo de bola e abriu espaço para a infiltração de Zé Rafael; no segundo, tomou
decisão errada de dar um carrinho e deixou campo livre para Itamar – do alto de
seus quase 100 quilos – fazer jogada de ponta e cruzar para Jô dar o tiro de misericórdia
no Bahia;
- Tivesse o Bahia um técnico
menos "cauteloso" no banco, Paulo Roberto não completaria meia hora
de jogo. Atuação desastrosa desde sempre, travou a equipe no meio, não desarmou
adversários e não ajudou devidamente na recomposição defensiva. Impressão que
não conhece a posição que joga. Maior EMBUSTE do ano – após grande temporada
pelo Figueirense em 2015 –, hoje contribui menos para o time do que se fosse
escalado algum garoto da base. Até porque o Bahia tem promissores jogadores na
posição (Luiz Fernando, Sávio, Júnior, Wesley);
- Nome favorito da diretoria
desde o ano passado, Guto Ferreira passou o fim de semana em Salvador – veio
derrotar o Vitória por 2 a 1 na manhã de domingo –, jantou com o presidente
Marcelo Sant’anna e ouviu nova proposta do tricolor para assumir o time. Existe
diferença de valores, mas o esforço para que GORDIOLA peça demissão de
ChapeLeicester assuma o Esquadrão existe e é grande. Aguardemos o desfecho.
ALEX ROLIM - @rolimpato - #BBMP
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