Que o futebol é dinâmico a ponto
de, em pouquíssimo tempo, modificar toda a perspectiva de uma equipe, é um
clichê que todo mundo conhece. Mas o que aconteceu com o Bahia em apenas UMA
SEMANA não apenas entra para o ROL dos maiores exemplos dessa reviravolta, mas
serve de alerta para outro clichê que vive à espreita das quatro linhas:
Futebol se decide em campo.
Uma semana atrás, dia QUATORZE de
junho, precisamente às 21h00min horas, o Bahia estava vencendo o Criciúma no
Heriberto Hulse e assumindo a segunda colocação provisória de Série B,
hipoteticamente separado do líder Vasco por apenas um ponto. Uma semana depois,
no mesmo horário a equipe caminhava para a terceira derrota consecutiva, sem
treinador, com uma péssima perspectiva em curto prazo e sem tempo para
lamentar: Sexta feira tem nova PEDREIRA na cidade de Pelotas – ao bem da
verdade até uma equipe amadora causaria calafrios à torcida se enfrentasse o
Bahia dos últimos dois jogos.
Se a virada sofrida contra o
Criciúma em quinze minutos doeu pelo contexto, a derrota para o Londrina sábado
passado doeu pela falta de futebol e a derrota de ontem doeu pela falta de
ideias e total INÉPCIA. O Bahia dos dois últimos jogos lembra bastante o Bahia
do final melancólico da temporada passada, derrotado pelos rebaixados ABC e BOA
sem a mínima reação em campo. Derrotas que, como aquelas, permitem ao torcedor
especular o que bem entender, justamente por fugir do campo racional como uma
equipe – que nunca apresentou futebol consistente nesta temporada, mas teve
momentos que pareciam indicar evolução – pudesse regredir tanto em aspectos
técnicos, táticos, físicos e emocionais em um intervalo tão curto de tempo. O
Bahia DEFINHOU em uma semana.
O início do jogo contra o Tupi
esteve longe de ser animador, mas mostrava algumas diferenças sutis em relação
ao time que vinha jogando sob o comando de Doriva. Com a linha de frente mais
adiantada, procurando roubar a bola no campo ofensivo – ainda que para isso
continuasse a exercer meia pressão – mesmo abrindo mão da compactação,
especialmente na fase ofensiva. Time espaçado, mas que não deixava o rival
trabalhar a bola no segundo terço, algo corriqueiro antes e que sempre se
mostrava perigoso por deixar campo e bola à disposição do adversário. Negou
pelo menos um dos elementos: Campo. E mostrava mais apetite para recuperar a
bola, ainda que parecesse se tratar de algo mais ANÍMICO que necessariamente
organizado e automatizado.
Essa mínima mudança de postura
expunha o Tupi a suas fragilidades na saída de bola. Dessa maneira Thiago
Ribeiro recuperou a posse e acionou Juninho que livre de marcação acertou um
petardo que Rafael Santos defendeu com dificuldade. No rebote, livre, Hernane
desperdiçou uma chance CRISTALINA de abrir o placar – e provavelmente mudar a
história da partida. Na cobrança de escanteio, outra defesa ótima de Rafael em
cabeceio de Danilo. Eram menos de quinze minutos de jogo.
O Bahia não conseguiu, no
entanto, manter o ritmo nem o volume de jogo que precisava, e que deveria, para
acuar definitivamente a equipe mineira. Desta forma viu o time alvinegro chegar
em sua intermediária e, em um lance discutível, Danilo Pires perdeu a posse na
intermediária defensiva. Sem ser acossado, Hiroshi resolveu arriscar de muito longe
e Marcelo Lomba demorou a reagir ao chute, que saiu forte e no canto baixo
direito. Gol na PRIMEIRA finalização do time da casa e o que faltava para
DESBARATINAR de vez a equipe tricolor.
A partir desse momento, um show
de HORRORES. O time passou a apanhar da bola, quase viu o Tupi ampliar cinco
minutos após o gol e não mostrava capacidade nenhuma de reação ou de
reorganização em campo. O ímpeto inicial arrefeceu de vez e o jogo passou a ser
nivelado – por baixo como a qualidade do gramado. Á exceção de Juninho e Cajá,
que quase empatou a partida em contra-ataque finalizado com um chute venenoso
que encontrou a trave, a atuação individual do meio/ataque era deplorável. O fim do primeiro tempo foi um sopro de
alívio e esperança. Restava saber como o Bahia voltaria para a segunda etapa.
E foi justamente por não
modificar o time, seja com alterações, com mudanças táticas ou com mudança de
atitude que Aroldo Moreira decepcionou no exercício de sua interinidade. Claro,
ninguém vai imputar-lhe culpa pela falta de capacidade do time em se organizar
ofensivamente, a falta de triângulos de passe, de aproximação, de
ultrapassagens, a falta total de jogo coletivo em superar uma equipe que – ao
contrário do Londrina – sequer mostrava qualidades na postura em campo; na fase
ofensiva ou defensiva. Mas a passividade em tentar algo que mudasse o panorama
da partida custou caro ao Bahia. Sequência de erros no campo defensivo, falta
próxima à linha da área. Lomba arma a barreira e se posicionou mal, a bola chocou-se
com a trave e sobrou livre, sem nenhum defensor no rebote para Serrato que, ao
contrário de Hernane, não desperdiçou a chance. Dois a zero, resultado que se
não era justo, era compreensível pela falta de futebol apresentado pelo tricolor
de aço.
Sim, o Bahia teve mais posse,
teve mais finalizações, teve mais presença no campo ofensivo. Mas o que esperar
que acontecesse em um confronto contra o Tupi? A diferença de expectativa dos
clubes para a temporada dimensiona o ABISMO entre os elencos formados para
disputar a B. Mas nada disso entra em campo. É necessário jogar e, mais que
isso, ser eficiente e contundente na execução das jogadas.
Só então Aroldo fez as
modificações que deveriam ter sido efetuadas ainda no intervalo. Danilo passou
para a lateral e Hayner – em mais uma atuação para ser esquecida – deu lugar a
Régis. Thiago Apagado Ribeiro deu vaga à reestreia de João Paulo Penha. E se
não foram capazes de evitar a derrota, os substitutos deram outra movimentação
à equipe. João Paulo encarou a defesa mineira algumas vezes. Criou situações e
conseguiu faltas. Na ausência de jogo coletivo esse tipo de individualidade é
uma alternativa. João apareceu bastante para o jogo, mas como foi recorrente em
2015, desperdiçou duas chances de gol – motivo pelo qual a torcida tricolor não
lhe tem muito APREÇO.
Porém não apenas ele finalizou
mal. Após o gol de Luisinho em trapalhada da defesa mineira – que substituiu
Cajá, o melhor do time – Juninho deixou Hernane livre para empatar de cabeça. E
mais uma vez o Brocador falhou. Moisés invadiu livre, duas vezes pela esquerda
e nas duas oportunidades mandou a bola na bandeira de escanteio. Somado aos
chutes de média distância de Cajá, essas oportunidades poderiam deixar a
impressão que a derrota foi um resultado exagerado. Não foi. Nada é exagerado
diante de tamanha incompetência, ineficiência e falta de concatenação ofensiva.
Se tivesse mais qualidade, o Tupi poderia ter conseguido um placar mais
elástico, pois desperdiçou alguns contragolpes claros. O Bahia tem um elenco
badalado, caro e de potencial técnico admirável, mas nada disso foi
transformado em um time que saiba se articular ofensivamente. As três derrotas
consecutivas mostram que entre o discurso de favoritismo ao acesso/título e a
ação de conquistar esse direito em campo existe algo que significativamente faz
diferença: Um time capaz de jogar um futebol minimamente aceitável.
NOTAS
SOBRE ELA [A DERROTA VEXATÓRIA]
- Para quem questiona os motivos
da demissão de Doriva há um dado significativo: O Bahia é a equipe que mais
CRUZA bolas na área no futebol brasileiro atualmente. O índice de acertos, no
entanto, é inferior a 20%. Equipe que opta por um modelo ofensivo fácil de
anular e que executa mal o fundamento.
Gráfico mostra a pobreza do repertório ofensivo do tricolor. Para piorar a execução ainda é mal feita. |
- A quantidade de erros em finalizações
também é absurda. Até que o time havia encontrado equilíbrio nos números, mas
voltou a mostrar tendência de piora. Quem lidera este incômodo indíce? Danilo
Pires e Hernane com 18 finalizações erradas cada.
- Se existe alguém que escapou
ileso destes dois desastres consecutivos foi RENATO CAJÁ. Suspenso contra o
Londrina, o meia fez bem a sua função em campo: Articulou o jogo, finalizou no
gol, deixou os companheiros em condições de finalizar três vezes e errou apenas
três passes. Juninho merece menção honrosa, mas caiu de produção no quarto
final da partida – possivelmente até por desgaste.
- Time lutador, mas bastante
limitado tecnicamente, o Tupi do ex-zagueiro do Bahia Estevam Soares deve se
concentrar na luta em permanecer na B. Equipe se defendeu mal e perdeu chances
no ataque. Como destaque o atacante Hiroshi, que aproveitou a colaboração de
Lomba nos dois lances que definiram o jogo.
- Bahia segue sem treinador,
porém a ‘sondagem’ a Guto Ferreira deve ganhar novos contornos nos próximos
dias. A viagem até Pelotas para enfrentar o Brasil talvez tenha escala em
Chapecó para oficialização da proposta. Assustado com a pedida inicial de
GORDIOLA e seu empresário o Bahia pode ter se convencido a tirar o ‘escorpião
do bolso’ após o desastre no interior de Minas.
- Sem Hernane e Jackson -
suspensos pelo terceiro cartão amarelo – com Tinga e Edigar Junio no estaleiro,
e com uma equipe com confiança abalada o Bahia enfrentará um estádio bastante
hostil [no sentido esportivo] na sexta-feira. Na Bahia é feriado de São João. A
sugestão é curtir as tradicionais festas juninas do estado e DESOPILAR o
fígado. É o que farei e o que sugiro. Gravarei a partida para assistir depois,
porém voltarei a escrever para vocês após a partida contra o Oeste no dia 28 na
Arena Fonte Nova. Feliz São João a todos!
ALEX
ROLIM - @rolimpato - #BBMP
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