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Inicio da era Guto Ferreira no Bahia: Triunfo traz esperança

Após a demissão de Doriva, o Bahia enfrentou dois adversários "à deriva". Mais duas derrotas e a nítida impressão que o time perdera de vez o rumo; sem um auxiliar técnico ligado diretamente à comissão pronto para assumir (Preto ainda engatinha na função), coube a Aroldo Moreira, técnico do sub-20, tentar apagar o incêndio. Era necessário então agilizar a contratação do novo comandante. Em uma negociação ousada - e que surpreendeu parte da mídia esportiva - o Bahia contratou Guto Ferreira, técnico que comandava a Chapecoense na Série A, com vencimentos  acima da média do mercado e bônus por acesso. O técnico foi anunciado no feriado de São João, chegou a Salvador no fim de semana e teve tempo apenas de se apresentar ao grupo e comandar uma tarde de treinos. 

Impossível em tão atropelado tempo fazer alterações significativas na forma de jogar da equipe. Não existe vara de condão. O senso comum tende a atribuir qualquer modificação de postura com a  chegada do novo técnico a motivação no vestiário e ao sopro de vitalidade que a nova perspectiva traz a qualquer grupo. É preciso entretanto apurar um pouco mais a visão e enxergar alguns elementos que se apresentaram no triunfo de 2 a 0 contra o Oeste de Fernando Diniz - um time de qualidade técnica inferior, porém com um padrão de jogo diferenciado no marasmo do futebol brasileiro. Para isso separei alguns pontos relevantes para mostrar o que  aguarda o Bahia baseado não apenas no jogo, mas também nas convicções demonstradas por Guto em seus trabalhos anteriores (notadamente Ponte Preta 2015 e Chapecoense 2016)

ESCALAÇÃO

A 'surpresa' dos onze iniciais foi Gustavo Blanco. Um dos - muitos - erros de Doriva era usar pouco Blanco, especialmente na ausência de Juninho, pois ele é um volante com capacidade de dar dinâmica ao meio e de imprimir intensidade às ações do time. A opção por Paulo Roberto - em péssima temporada - seria o usual com o antigo treinador e o time perderia bastante na transição ofensiva, como ocorreu diversas vezes.


SISTEMA DE JOGO/MARCAÇÃO

Com muitos desfalques, por contusão e suspensão, Guto armou o time dentro do sistema mais utilizado por Doriva na Série B: 4-4-2 em linha, com Cajá próximo a Hernane, variando para 4-2-3-1 e 4-4-1-1 com a bola. Uma variação chamou bastante atenção: 4-2-4 sempre que o Oeste tentava fazer a transição com toques curtos pelos lados. Thiago Ribeiro e Danilo bloqueavam os passadores naquele setor, de forma avançada, com Hernane e Cajá pressionando o goleiro e o zagueiros. A principal diferença para a marcação na época de Doriva foi a diminuição do espaço e tempo de reação do homem da posse. Até conseguir a vantagem (gol aos 13 minutos), Bahia fez essa pressão que obrigou o Oeste a manter a posse no campo defensivo - com direito a alguns chutões e recuperações de posse pelo Bahia, como no lateral cobrado rapidamente por Hayner e que Hernane transformou em um belo gol.


POSTURA EM CAMPO

Mesmo após a vantagem o Bahia não recuou as linhas, algo recorrente com Doriva. Como sabia que teria que lutar contra a posse do Oeste, algo conceitual para Diniz, negou-lhe campo. Assim, mesmo cedendo quase 70% de posse na primeira etapa o time sofreu apenas uma finalização em gol. Claro, o panorama mudou na segunda etapa até pela necessidade do adversário e pelo desgaste dos jogadores tricolores, o que dificultou manter a forte marcação encaixada por tanto tempo.


LEITURA DE JOGO

Diferente de quando enfrentou Londrina e Tupi, Bahia deu a impressão de entrar em campo com um plano de jogo bem definido. Se nessas oportunidades o time não mostrou capacidade de "mudar a chave" quando saiu atrás do placar, contra o Oeste, o time orientado por Guto parecia preparado para 'sofrer' com a posse de bola do rival. Não apenas soube minimizar as virtudes da equipe paulista, como capitalizou isso a seu favor com muitas recuperações de posse no campo ofensivo. Diferente, por exemplo, do confronto contra o Paraná do mesmo Diniz em 2015 onde a equipe de Sérgio Soares não viu a cor da bola. 

SUBSTITUIÇÕES

Perder Cajá antes dos 20 minutos de jogo, com Régis machucado e sem nenhum jogador com a mesma característica no banco é uma situação atípica e desafiadora. Com a vantagem no placar, era de se imaginar a opção pelo voante Paulo Roberto. Certamente seria o que Doriva faria. Aqui a diferença fundamental entre o treinador essencialmente pragmático e o treinador que tem convicções que perpassam o resultado. Guto Ferreira optou por Zé Roberto, mas com um posicionamento diferente do utilizado pelo mesmo Doriva na partida contra o Londrina (Zé substituiu Régis na ocasião). Aberto, pela esquerda, com Thiago fazendo a função de Cajá. Mesmo sem os jogadores "ideais" para as funções em campo, Guto procurou adaptar os que tinham características mais próximas sem mudar o esquema ou a postura em campo em função de resultado parcial. É o jogo em campo que deve determinar o placar, não o contrário. As outras modificações foram, notadamente, por desgaste: Danilo (que errou muito no jogo) deu lugar a João Paulo Penha e Blanco foi substituído por Paulo Roberto. Opções adequadas.


PRINCÍPIOS DE JOGO

O defeito mais gritante da equipe com Doriva era a incapacidade de propor o jogo, personificada na falta de combinações ofensivas, na pouca aproximação dos jogadores na transição ofensiva e na falta de triangulações e busca por superioridade numérica no terço ofensivo. Isso deve demorar a aparecer. Mas o Bahia fez boas ultrapassagens com laterais - algo que sumiu desde que Doriva retornou ao padrão pragmático desde o jogo contra o Paysandu - e foi objetivo quando teve a posse. Falta automatismo nas jogadas, acelerar o passe vertical e infiltração na área, muito a ser aprimorado. Mas foi possível identificar os laterais mais abertos no momento da posse ofensiva, mais equilíbrio no balanço defensivo - algo que impactou nas boas atuações de Hayner e JP que notadamente são laterais com dificuldades defensivas. A compactação defensiva foi boa, mas esse não era um problema da equipe (se tornou após os resultados ruins que abalaram a confiança). 


"GORDIOLA" É O CARA?

Guto Ferreira era um nome em pauta desde novembro, mas o Bahia focou em Levir Culpi e acabou perdendo terreno o que resultou na renovação dele com a Chapecoense. A opção por Doriva foi uma mudança de paradigma que, sabemos agora, não funcionou. Não existe treinador perfeito nem mágico, mas o elenco do Bahia pode e deve render mais. A estreia era um cenário muito ruim, mas que foi superado com boas soluções e empenho dos jogadores. O próprio Guto fez questão de afirmar após o jogo: "Meu mérito é mínimo". Pelo que demonstrou em trabalho anteriores, Guto é capaz de extrair muito mais dos jogadores e montar uma equipe que possa elevar o padrão de competitividade do tricolor na temporada.

NOTAS SOBRE A ESTREIA DE "GORDIOLA"

O Oeste é uma equipe tecnicamente frágil. O fato de ter um padrão de jogo baseado no toque de bola e na imposição da posse ao adversário é, por si só, um grande feito. Porém sem qualidade para definir os lances, o teto da equipe segue baixo. Não deve brigar por acesso, mas também não deve ficar na rabeira. Contra o Bahia teve três ou quatro chances de marcar, mas a falta de qualidade para definir falou mais alto.

Terceiro pênalti marcado contra o Bahia, terceiro que não entra. Lomba fez sua segunda defesa e já igualou sua melhor temporada nesse quesito (2013). Apesar disso o goleiro sofreu com alguns apupos durante a partida, rebateu mal dois chutes e precisa readquirir a confiança. Jogador que voltou para ser referência e liderança  técnica não pode oscilar tanto. Falhou de forma decisiva nas derrotas contra Vasco, Tupi e Brasil de Pelotas. Que volte a ser o goleiro de 2011/2012 (Bahia) e 2015 (Ponte Preta) com Guto e o novo coaching  Gustavo Evangelista.

Bahia enfrenta um velho conhecido no sábado: Sérgio Soares. Porém, além  de membros do departamento de futebol e da direção executiva serão poucos os remanescentes da campanha fracassada de 2015 que reencontrarão o professor. Do provável time titular que entrará em campo no Castelão, nenhum jogador que enfrentou o Paysandu, em Belém em 6 de outubro do ano passado, data da demissão de Sérgio. Apenas João Paulo Penha  que deve estar no banco - além de Zé Roberto e Blanco (que não jogaram aquela partida)  - Róbson, Douglas e Jean seguem no clube mas só o último deve viajar a Fortaleza.  

ALEX ROLIM - @rolimpato - #BBMP

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