Dentro do estado do Rio Grande do Sul havia somente um
time que tinha conquistado títulos e importância no cenário Internacional. O
Tricolor Gaúcho era soberano nesse assunto, no estado era o único a ter
conquistado duas Libertadores e um Mundial, algo que nós, colorados,
infelizmente não sabíamos o que era, mas, no ano de 2006 mudou muito. O Grêmio
viveu uma má fase, foi rebaixado pela segunda vez, com isso, o Inter fez jus ao
seu nome e se tornou um clube internacional.
O Internacional venceu a Libertadores da América em
cima do time que ganhou o Mundial de 2005, o poderoso São Paulo. O Inter que há
tempos estava carente de grandes ídolos conseguiu ter craques que nunca serão
esquecidos, Bolívar, Índio, Tinga, Alex, Rafael Sóbis e o líder dos líderes, o
maior comandante que o Internacional teve em campo, nosso eterno capitão
Fernandão. Passaram-se dez anos, muito coisa aconteceu na história do nosso
glorioso time, porém esse título tem um gosto especial.
Vamos relembrar agora como começou essa caminhada para
o Internacional ser o "Colorado das
glórias, orgulho do Brasil".
Base formada e títulos perdidos
O Internacional que iria causar pavor nos adversários
começou sendo formado pelo técnico Muricy Ramalho, em 2005. O Colorado que
conseguia o tetracampeonato gaúcho bateu na trave em 2004 e 2005 na Copa
Sul-Americana e só não foi campeão do Brasil em 2005 por causa de um escândalo,
que causou a anulação de várias partidas e só beneficiou o Corinthians. Esse
time que nascia ali, foi criado na base de duros golpes, foi criado com desejo
de vingança, desejo de honrar a camisa do Inter.
Time de 2005 foi mantido para manter a forma de jogo |
Após ter perdido o nacional de uma maneira injusta, o
Inter, também, perdeu seu técnico, Muricy Ramalho foi vestir a camisa do São
Paulo. Um novo técnico deveria aparecer na casamata, mas a presidência queria
alguém experiente em competições internacionais, o professor Abelão chegou e já
colocou o time em suas mãos, com sua experiência e inteligência ele montou um
time que nunca será esquecido. A zaga era um muro indestrutível, o trio Índio,
Bolívar e Fabiano Eller eram três xerifões que protegiam a defesa e caso eles
falhassem um experiente goleiro estava presente, Clemer. O meio campo era
formado por jogadores com ótimo poder de marcação e com muito talento para sair
jogando, Edinho, Tinga e Alex, era o meio campo que fornecia segurança para as
laterais, Ceará e Jorge Wagner tinha total confiança que pareciam mais pontas
do que laterais, a dupla abastecia constantemente o ataque. O ataque era
matador com Fernandão e Rafael Sóbis faziam a defesa adversária ficar muito
temerosa, porém o Inter não conseguiu o
penta campeonato gaúcho. Entretanto, essa derrota não abalou o Colorado que
colocou como meta do primeiro semestre a Libertadores.
Caminhada libertadora
Depois de 13 anos sem participar da Copa Libertadores,
o Inter voltava a entrar em campo pela principal competição da América do Sul.
Em uma partida disputada na Venezuela, o Internacional empatou com o Maracaibo
em 1 a 1. O time ficou lamentando um pouco, mas não abaixou a cabeça, pois o
elenco sabia que dentro de seu estádio o jogo era diferente, não existia nada
que pudesse destruir o sonho da Libertadores. Dessa maneira, os três jogos que
foram dentro de domínios gaúchos apresentaram extrema superioridade colorada,
com viradas históricas contra o Pumas e com goleadas expressivas de 3 a 0
diante do Nacional e 4 a 0 diante do Maracaibo. O Internacional passou de fase
em primeiro lugar dentro da sua chave, com 14 pontos o time do Sul ficou em
segundo colocado na classificação geral e sabia que quase todos os jogos seriam
decididos em seu território.
Esforço e dedicação eram o lema do Inter de Abel Braga |
No Beira Rio, o Inter é gigante
Nas oitavas, o clube do povo iria encontrar o
Nacional-URU, rival que sempre trouxe péssimas lembranças para o Inter. O mesmo
time havia sido campeão em 1980 em cima do fabuloso time de Falcão. O primeiro
jogo do mata-mata foi no Uruguai e conseguimos uma ótima vitória de 2 a 0, no
jogo de volta o Inter de Abel conseguiu passar de fase em um empate sem gols.
Na sequência o time do Inter teve seu pior desafio na Libertadores, a LDU. No
primeiro jogo, diante da altitude desumana de Quito, o Inter conheceu sua
primeira e única derrota na competição, 2 a 1. O gol que fora marcado por Jorge
Wagner foi extremamente importante para o jogo de volta, no caldeirão Beira
Rio. O Inter conseguiu uma vitória por 2 a 0, gols de Sóbis e o talismã
Renteria deram a classificação para a fase seguinte. A competição se afunilava
e era hora de enfrentar os paraguaios do Libertad, time que em seus domínios
estava muito bem, havia passado do River Plate e estava embalado na competição.
O Inter conseguiu um empate em Assunção. Novamente o Beira Rio era o palco do
segundo jogo. Empurrado por uma torcida muito mais que entusiasmada, que
inclusive emocionou o durão Abelão, o Inter começou a partida pressionando o
time paraguaio para dentro do seu campo. O Inter não estava sozinho, 50.548
pessoas empurravam o time, com fumaça, foguetes e apoio incansável, a torcida fazia
sua parte, gritava constantemente. O Inter também fez a sua, com gols de Alex e
Fernandão o Beira Rio veio abaixo, a final era brasileira, a final era do Clube
do Povo contra o Campeão do Mundo, o imbatível São Paulo.
Fator Rafael Sóbis
O Inter que chegava a sua segunda final de
Libertadores contra o poderoso São Paulo, base do time que havia ganhado o
titulo do mundo de 2005, era uma equipe forte, zaga paredão, meio articulador e
ataque muito perigoso. O Inter sabia que o primeiro jogo no Morumbi, com 71 mil
pessoas, era mais que a final, era o jogo do título. Poucos acreditavam que o
forte time paulista podia perder em casa, logo a crônica dizia que um empate
era ótimo resultado. Mas aquela noite não era do São Paulo, muito menos do
Inter, o holofotes eram de um menino de Erechim, cria da casa, Rafael Sóbis. O
brilho do jovem colorado cegou todas as estrelas paulistanas, seus dois gols
decretavam uma enorme vantagem para o Inter, seus gols encaminhavam o título,
nem mesmo o gol de Edcarlos podia estragar a noite do Inter, em que 3,5 mil
colorados vibraram com a apoteótica vitória do time de Abel Braga nas cadeiras
do estádio Morumbi. Na partida de volta um empate servia para o Inter se tornar
Campeão.
A América é pintada de vermelha
A semana que antecedia a final da Libertadores foi
marcada por uma expectativa incomum. Não existia outra coisa para se falar em
Porto Alegre, tanto colorados quanto gremistas falavam do último jogo. Muitos
torcedores dormiam em frente às bilheterias para conseguir o ingresso para a
final. No mesmo dia de hoje, no ano de 2006 o Gigante foi invadido por uma
massa de 60 mil colorados e o que antes era nervosismo e ansiedade, se tornou
confiança e essa força se sentia da arquibancada, a cada desarme, cada dividida
era um grito semelhante a um gol, isso era o elemento principal para a
conquista do continente Sul-Americano. A partida foi antológica, o São Paulo
atacava forte e quase marcava, mas foi o Inter que comemorou o primeiro gol.
Aos 29 minutos, a bola foi alçada na área, Rogério Ceni bateu roupa e o Deus
colorado marcou para o Inter, Fernandão marcava o gol para se tornar goleador
da Libertadores. No segundo tempo o São Paulo conseguiu empatar a partida com
Fabão, porém aos 20 minutos Tinga colocou o Inter em vantagem novamente, mas ao
comemorar levou o segundo cartão amarelo e foi expulso da partida. O que era
alegria se tornou em pânico, Lenilson empatou novamente para o tricolor, o
Inter se recuou e a torcida começou a apoiar o time, a defesa colorada impedia
todos os lances perigosos. No apito final de Horacio Elizondo o empate em 2 a 2
fez o Inter levantar a taça inédita. A América era vermelha, Inter se sagrava
campeão da América. Era a consagração de Fernandão, de Rafael Sóbis, de Clemer,
de Abel Braga, era a comemoração do torcedor Tinga, que representava todos os
colorados do mundo dentro de campo. Esse time sabia o que era dar o máximo,
sabia suas qualidades e seus defeitos, sabia como bater o São Paulo.
Taça nas mãos
Na final da partida, na sala de coletiva, o capitão do
Inter, Fernandão, foi perguntado sobre qual era a principal virtude do
Internacional e se ele se considerava uma estrela, o jogador respondeu: "Olha, não tem nenhuma estrela. Começa por
aí. Um grupo de bons jogadores, mas sem nenhuma estrela. Um grupo sem vaidade.
Ninguém queria ter mais gols, ninguém queria aparecer mais que os outros,
enfim, ninguém queria ser “o cara do time”. Durante o tempo todo da
Libertadores, o time lutou bastante, correu, brigou, foi unido. Os intervalos
eram prova disso, sempre conversávamos para ajustar. Dentro de campo os
jogadores da frente brigavam para que a defesa afastasse e eles respondiam lá
de trás pedindo para que ajudássemos na marcação. Isso fez com que o time fosse
criando cara. E a cada jogo, fomos vendo que o empenho estava sendo
recompensado. Acho que essas foram as principais características da equipe
durante toda a Libertadores. Essa vontade de ganhar, todo mundo se doando ao
máximo, todo mundo marcando duro, chegando junto. O equilíbrio esteve sempre no
grupo, nunca no individual".
Mas isso não era apenas um título inédito, era também
a vaga para o Mundial Interclubes, era a vaga para enfrentar o Barcelona de
Ronaldinho, era a chance única de mostrar que o Sport Clube Internacional era o
maior time do Mundo de 2006. O início da coroação máxima estava recém
começando, o Mundial era realidade. Yokohama aguarde, o Inter de 2006 está
chegando.
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