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Super Bowl LI
Mais um herói improvável dos Patriots: James White (Tom Pennington / Getty Images)
Há quem acredite que o esporte possui roteiros escritos por alguma entidade desconhecida dos humanos comuns como nós. Que jogadas decisivas, perfeitas e desafiadoras dos limites físicos e psicológicos dos atletas só acontecem com aqueles destinados a alcançar a glória, e que a perfeição é uma dádiva dos vitoriosos, concedidas por esses Deuses do Esporte. Ontem era a noite do Super Bowl LI no Texas.

Já passava das 20h30min, horário de Houston, quando o campo se tornava um palco para o espetáculo de intervalo da cantora Lady Gaga. A imagem que não saía da cabeça dos torcedores de New England, era a repetida cena de um Tom Brady cabisbaixo após cada falha dos Patriots, com as duas mãos juntas, sem trocar nenhuma palavra com os técnicos Bill Bellichik ou Josh McDaniels, enquanto a sua defesa tentava em vão segurar o poderoso ataque do Atlanta Falcons.

Tom Brady no primeiro tempo
Foi um primeiro tempo calamitoso para o New England Patriots. A linha ofensiva não funcionou. O jogo corrido foi fraco, e em uma partida Brady sofreu 1/3 do total de sacks que havia sofrido em toda a temporada regular. A melhor defesa do campeonato se mostrou impotente frente ao amplo e diverso corpo de recebedores de Atlanta. O placar era 28-3. Junte tudo isso com as estatísticas jogadas para os espectadores durante o jogo:

- Nunca houve uma virada para mais de 10 pontos no Super Bowl;
- A maior virada comanda por Tom Brady em sua carreira foi de 24 pontos;
- Nos playoffs, as equipes que chegam ao último quarto com mais de 10 pontos de vantagem tem uma taxa recente de mais de 90% de vitórias;
- Nunca houve prorrogação no Super Bowl.

Tudo indicava que o Super Bowl havia sido decidido ali mesmo. Eu acreditei nesses números, e se assistiram o jogo, vocês também acreditaram. Pobre daquele que ousasse dizer que Brady ainda seria o MVP da partida. Após o passe incompleto de Julian Edelman em uma chamada desesperada de Bill Belichick, os mercados de aposta davam 99,5% de chance de vitória para Atlanta.

Para reverter essa situação, New England precisaria contar com números tão absurdos quanto a essas estatísticas. Precisaria contar com aquelas jogadas inacreditáveis e inexplicáveis que apenas os campeões fazem (contem eles com a ajuda desses Deuses dos Esportes ou não). E nas mãos de Julian Edelman, de onde saiu o lance que parecia ter selado o título dos Falcons, aconteceu essa jogada mística.

Super Bowl LI
Passe o tempo que for, nem Edelman nem ninguém saberá explicar esse momento (Charlie Riedel / Associated Press)
O fã de futebol americano pode ter pensado que as recepções espetaculares de Julio Jones seriam as famosas "jogadas do campeão", aqueles momentos que ficam eternizados em uma foto que traz a lembrança de toda a partida que consagrou o time vencedor. Até que Edelman completou aquele passe humanamente inalcançável da campanha que empataria o jogo. Veio à memória a recepção de David Tyree no Super Bowl XLII, e subitamente aquele roteiro parecia ter um desfecho diferente do que 99,5% das pessoas acreditava.

E se aquelas estatísticas desfavoráveis aos Patriots precisavam de números absurdos para ser provadas erradas, aqui estão eles, sendo apresentados pelos heróis da noite:

- Maior número de recepções em um Super Bowl: James White, 14 (ele é um running back);
- Recorde de jardas aéreas em um Super Bowl: Tom Brady, 466;
- Empatou o maior número de TD's em uma partida: James White, 3;
- Maior número de passes em uma partida: Tom Brady, 62 (ele tem 39 anos).

E assim, aquele 0,05% foi aumentando. A cada passe completo de Tom Brady, a cada jarda conquistada, a cada tackle sobre os jogadores dos Falcons, o time mais equilibrado da liga fazia da sua história uma das mais épicas do esporte mundial. Abalados, apáticos, atordoados, os jogadores dos Falcons não conseguiam reagir ao que parecia estar escrito nas estrelas.

Super Bowl LI
Dont'a Hightower força um fumble vital sobre Matt Ryan, e coloca a moral dos Patriots no alto (Patrick Smith / Getty Images)
Foi concretizada a maior virada da história do Super Bowl. Dezenas (sim) de recordes foram estabelecidas nessa partida. Esse roteiro foi então realmente escrito por um sádico roteirista sobrenatural do esporte, desconhecido dos amantes de futebol americano? Não, não foi. Foi Tom Brady que fez o impossível virar possível. Fez a derrota acachapante virar um quinto anel em sua mão. Uniu o máximo de seu talento e de sua percepção para aproveitar da habilidade dos seus companheiros e do estado emocional de seus adversários para fazê-lo.

Quando perguntado sobre o que achou da partida, o quarterback respondeu com um sorriso de satisfação em meio a suspiros de cansaço: "Foi exatamente como nós não planejamos". Não foi o destino o responsável por essa história maravilhosa que o esporte pode contar a partir o dia 6 de fevereiro de 2016. Foi apenas o melhor jogador de todos os tempos disputando uma final e mostrando do que é capaz, enquanto deixa o mundo boquiaberto frente a seus feitos.

Tom Brady ao final do jogo

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