A demissão de Eduardo Baptista confirmou algo que
parecia natural desde a sua contratação. Sem prestígio da torcida, com o
fantasma de Cuca e anúncio como plano C em virtude das negativas de Cuca e
Roger (os preferidos de torcida e diretoria, respectivamente), Eduardo nunca
foi unanimidade.
A derrota na Bolívia por 3x2 fez com que o treinador
fosse demitido curiosamente uma semana depois de um suposto indício de que Cuca
já estaria novamente interessado a trabalhar. O boato se espalhou e frases dos
mais diversos conteúdos passaram a aparecer.
De tudo que foi dito, o que podemos considerar como
verdade e mentira?
Eduardo Baptista não resistiu a novo tropeço diante do fraco Jorge Wilstermann. (Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação) |
1. “Eduardo nunca foi
unanimidade”
É, talvez, a maior das verdades. O Palmeiras, ainda com Paulo Nobre,
demorou em definir a situação de Cuca e acabou ficando sem seu treinador e sem
Roger (então preferência). Coube buscar uma nova alternativa que acabou por ser
Eduardo.
Nesse contexto, ele nunca foi a certeza. A escolha, inclusive, deveria
ter sido mais questionada: Baptista tem conceitos de jogo completamente
diferentes aos de Cuca. Seria um grande rompimento de estilo que acabou se
confirmando dentro de campo.
A torcida também nunca aceitou bem. Houve uma grande resistência que
pôde ser vista nas redes sociais. A cada derrota, Eduardo sempre era visto como
culpado e, ao mesmo tempo, nunca recebeu méritos por vitórias mesmo em partidas
em que foi muito bem ao corrigir o time.
A principal organizada do clube chegou a entoar a música destinada a
Cuca logo no terceiro jogo da temporada, criando uma pressão desnecessária a um
trabalho recém-iniciado. Diga-se, o mesmo aconteceria sobre Roger Machado ou
qualquer outro treinador pós-Cuca.
2. “É um absurdo
demitir o treinador com o aproveitamento de quase 70%”
Fui, por muito tempo, um dos defensores do novo treinador palmeirense. Sempre
julguei injusto criticá-lo com dois ou três jogos realizados. A verdade, porém,
é que há alguns jogos o desempenho vem caindo ao invés de melhorar e, nesse
contexto, a troca é sim aceitável.
Ao mesmo tempo surgiram vozes fortes jogando seu aproveitamento como
principal defesa, especialmente na imprensa. Irônico, afinal, é justamente ela
quem prega por uma análise de desempenho e não apenas de resultados. A mesma
imprensa que tanto reclamava de Cuca quando o time tinha ótima solidez.
Particularmente sou fã de números e estatísticas, mas com a ressalva de
que sejam utilizadas em conjunto com outros tipos de informação. Ceni, por
exemplo, sempre cita posse de bola e cruzamentos para justificar o desempenho
do São Paulo, mas isso diz pouco sobre eficiência desses fundamentos.
Eduardo deixou o Palmeiras líder do seu grupo na Libertadores, é
verdade. O desempenho na competição, contudo, foi sofrível. Das três vitórias,
duas vieram nos acréscimos. Também foi sofrida a épica virada conquistada no
Uruguai após um primeiro tempo de relembrar 2014.
O “se” não joga, evidentemente, porém não podemos ignorar que nenhuma
das três vitórias na competição continental foi conquistada sem sofrimento. Nem
sempre surgirá um gol salvador e foi o que aconteceu na Bolívia, partida em que
mais do que a derrota, o problema foi desempenho. E como seria o aproveitamento
"se" aqueles gols nos acréscimos não tivessem acontecido?
3. “O aproveitamento
também é melhor do que Cuca em 2016”
O restante dos números foi construído dentro de um frágil Campeonato Paulista,
torneio cujos adversários são muito piores tecnicamente. O aproveitamento,
portanto, não é mais do que obrigação nesse cenário.
Nem mesmo os clássicos salvaram. Exceção feita ao segundo tempo do jogo
contra o São Paulo, o Palmeiras teve partidas bem criticáveis. Mesmo diante do
Santos na Vila (quando uma derrota seria aceitável), a virada veio em dois
lances já no final da partida em um dos melhores jogos de Fernando Prass com a
nossa camisa.
Considerando a fragilidade de adversários no grupo da Libertadores e do Campeonato
Paulista, é no mínimo absurdo (para não voltar a questionar os métodos de
análise da imprensa esportiva) comparar o aproveitamento de Eduardo com o atual
campeão brasileiro.
Vale lembrar ainda que Cuca pegou um time bagunçado e sem padrão tático,
construindo seus números basicamente no Brasileiro, torneio em que os
adversários são muito superiores. Eduardo tem sim um bom aproveitamento, mas
poderia e deveria ser melhor aproveitando o que herdou.
4. “Não dá para
exigir resultados em três meses, o time mudou muito”
Essa frase é muito comum em demissões de treinador e, em parte, ela é
verdadeira. Três meses é um período muito curto para qualquer profissional,
porém dizer que o time mudou muito é relativizar uma grande queda de
rendimento.
Prass, Jean, Mina, Vitor Hugo, Zé Roberto, Tchê Tchê, Roger Guedes e
Dudu. Esses oito jogadores eram titulares com Cuca e seguiram assim com
Eduardo. Entraram Felipe Melo, Guerra e Borja. E mesmo assim a insistência em
um novo esquema foi pouco a pouco desestruturando um time cuja marca era a
organização e a boa defesa.
Claro que perder Gabriel Jesus e Moisés (jogador essencial e muitas
vezes menosprezado) deve ser considerado também. O que chama mesmo a atenção é
a teimosia. O grande elenco foi pouco utilizado: Keno e Raphael Veiga, por
exemplo, começaram bem e foram preteridos.
A variação também faltou, especialmente em um Paulistão tão fraco
tecnicamente. Ela só apareceu contra a Ponte Preta (no jogo de volta) quando a
urgência falou mais alto. Eduardo poderia ter desenvolvido mais jogadas e
estratégias com o material que tem em mãos.
5. “Eduardo só caiu
porque Cuca estava disposto a voltar”
Indiscutivelmente é verdade. Até porque não faria sentido fazer a troca
por outra aposta. Entre trazer alguém como Jorginho ou Argel (nomes cogitados e
que causaram calafrios nos palmeirenses) era melhor manter Eduardo.
Só que Cuca tem hoje um prestígio muito elevado. Ele é provavelmente o
melhor treinador brasileiro depois de Tite (que está muito bem empregado na
seleção brasileira), fato que já iniciou boatos até em outros clubes. Zé
Ricardo, por exemplo, tinha a sua sombra.
Excluindo Cuca, as opções no mercado são muito fracas. Cogitar Luxemburgo
em 2017 beira o absurdo. Seria melhor manter Eduardo, indubitavelmente.
Alguns amigos me questionaram sobre o que pensei sobre a demissão, até
mesmo porque fui um dos poucos defensores do seu trabalho. Minha resposta foi a
mesma para todos: “Depende”. Se viesse Cuca, como de fato veio, excelente. Se
não, péssimo. Acho que resume bem essa situação.
6. “Cuca virou um
salvador aos palmeirenses”
Cuca nunca foi demitido. Ele saiu porque quis e isso não pode ser
ignorado. Foi ele quem quebrou um senhor tabu de mais de 20 anos sem conquistar
o principal campeonato nacional. É natural que nutra de grande confiança da
torcida, da diretoria e de quem mais quiser palpitar nesse processo.
Na família palmeirense, ninguém acha que ele irá garantir títulos. Os
times mudaram, o próprio elenco mudou, mas ele construiu um time muito forte em
2016 assumindo uma grande bagunça. Se ele irá triunfar em 2017 é outra
conversa, mas ele tem total potencial de melhorar um time que vinha se perdendo
nessa temporada.
Há ainda quem ironize o futebol campeão de 2016. O Cucabol que irritou
imprensa e rivais é uma das boas heranças que Cuca deixou. E a memória curta
impede o torcedor (palmeirense ou não) de lembrar-se que o primeiro turno do
Verdão em 2016 foi excelente, inclusive com algumas partidas muito bem jogadas.
Esse é um processo natural. No ano anterior o rival Corinthians fez um
primeiro turno sofrível seguido de um segundo turno de alto nível. Novamente
ficou a segunda impressão. A memória esportiva do brasileiro é curta, mas não
se deve negar que Cuca fez um belo trabalho tanto na montagem inicial, quando
encantou, quanto na reta final em que foi decisivo e pragmático.
Agora ele terá ainda mais qualidade para montar mais um time campeão. E
se não for, ao menos terminará com qualquer fantasma sobre um eventual sucessor
futuramente. Qualquer outro técnico que viesse nesse momento sofreria com a sua
sombra tanto quanto Eduardo.
7. “Foi tudo
planejado para Cuca voltar agora”
Pensar que tudo isso foi premeditado é obra daquelas profecias do caos.
Seria um tanto quanto arriscado contratar um treinador confiando que ele não
daria conta do recado. E se Eduardo fizesse o time voar e estivesse na final do
Paulistão? Pouco provável que teria essa brecha para a troca.
Ademais, se a ideia era realmente buscar um técnico tampão seria uma
burrice buscar um novo treinador do que efetivar Alberto Valentim que já fazia
bons trabalhos e estava louco para iniciar sua carreira individual, além de já
conhecer muito bem o seu elenco.
8. “A diretoria tem
errado muito com contratação de treinador”
Fato e que não pode passar batido. Oswaldo, Marcelo e Eduardo iniciaram
os anos de 2015, 2016 e 2017, respectivamente.
Nenhum deles chegou ao meio do ano e todos pelo mesmo motivo: Não eram a
escolha certa.
Oswaldo e Eduardo foram contratados sem ser a preferência da direção.
Tanto que ao surgirem nomes fortes (Marcelo Oliveira antes e Cuca agora), os
atuais treinadores sucumbiram. A diferença foi para Marcelo quando iniciou 2016
e nem deveria. Seu trabalho tinha sido péssimo no ano anterior, mas o título da
Copa do Brasil escondeu essas falhas.
9. “Jogadores
derrubaram o Eduardo”
Essa é clássica de demissão também. Especialmente quando o time melhora
desempenho após a saída do antigo treinador. Não me parece que tenha existido
corpo mole – as vitórias da Libertadores mostraram justamente o contrário.
De qualquer forma, se isso existiu, mais uma razão para buscar Cuca. Com
o treinador nos braços da torcida, problemas de desempenho serão cobrados dos
jogadores. Era cômodo culpar apenas Eduardo com erros técnicos bizarros nas
últimas partidas como o lance do pênalti de Prass na Bolívia.
10. “O vestiário com
Cuca tinha problemas”
Até onde se sabe é verdade. E mesmo assim perdemos apenas um jogo de
todo segundo turno no Brasileirão. Se o problema continuar e as vitórias
também, que seja assim. A gente não precisa de uma igreja, mas de um time de
futebol. Ah, vale lembrar, o time de 1993 também não tinha a amizade como ponto
forte...
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