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Devolvam o Flamengo

Rubro-negro desde que me entendo como gente, cresci ouvindo histórias de jogadores como Rondinelli. Deus da Raça, zagueiro e ídolo rubro-negro, sua história na Gávea começou ainda nas categorias de base em 1968 e chegou ao time principal do Flamengo em 1971. Foi o cara que numa tarde de 3 de dezembro, após uma cobrança de escanteio de Zico aos 43 min do segundo tempo (que número mágico) testou a bola e marcou o gol do título do Campeonato Carioca de 1978 em cima do rival Vasco da Gama. Gol que foi de extrema importância para aquela geração depois dos fracassos de 76 e 77 e que seria a base do time que conquistaria o mundo três anos depois.

Na época, a torcida queria encontrar um jogador que a representasse em campo, aquele que se entregava. Rondinelli foi um jogador altamente disciplinado, e que também jogava até o último segundo de vida. Se morresse ajudando a evitar um gol contra o Flamengo, morreria feliz. Deu em muitos momentos a cara para bater, mas nunca se entregou.

Rubro-negro desde que me entendo como gente, cresci vendo vários elencos rubro-negros que eram muito, mas muito inferiores tecnicamente do que o atual mas que entendiam que é diferente jogar no Flamengo, que se não for na bola tem que ser na vontade, no coração. Vi Obina ser melhor que Eto'o, meu irmão. Vi times desacreditados que davam tudo de si entre as quatro linhas e que faziam o resultado. Vi Hernane Brocador destruir defesas e ser peça fundamental para a conquista da Copa do Brasil em 2013. Vi em 2009 um time que não é nem metade do de hoje mas que tinha o tesão por vestir o Manto Sagrado, disputava cada bola como se fosse o último prato de comida e que foi Campeão Brasileiro. Claro, o objetivo aqui não é fazer qualquer tipo de comparação até porque são épocas e momentos diferentes, mas uma coisa é imutável e indiscutível: jogar com RAÇA está no DNA do Flamengo. Isso nunca vai mudar.


Foto: Gazeta Press
Zé Ricardo que chegou ano passado, ajeitou o time e colocou o Flamengo numa boa série de vitórias e até brigou pelo título do Brasileirão mas um ano depois levou o time a uma situação parecida a que se encontrava. O cara perdeu a mão do time, não é uma liderança forte, eliminado da Libertadores, péssima campanha até então no Campeonato Brasileiro ocupando a dramática 15a posição. Hoje o Flamengo é apático, o time não cria, não tem variação tática e vem regredindo a cada jogo, a cada partida joga pior apesar das mudanças no time titular.

Mudanças que de fato mudaram absolutamente nada: Vinicius Jr. começou a partida como titular mas foi mantido o esquema que não vem dando certo; depois da falha contra o Sport era impossível manter o Muralha nos onze inciais, pela pressão da torcida e até porque Zé queria manter seu emprego. Thiago se mostrou inseguro algumas vezes mas são coisas que ele só vai amadurecer estando dentro de campo com seus companheiros mais experientes. Esse é um ponto positivo; já Arão e Márcio Araújo, mesmo passando por péssima fase e sendo pivôs nessa draga que o Flamengo vive, foram mantidos no time titular.

Por mais que Zé tenha mostrado muitas vezes ser um profissional sério, dedicado e estudioso é praticamente impossível - e até desesperançoso - acreditar numa mudança de postura, mesmo com a pressão e cobrança vindo de todos os lados. Isso porque se trata de Flamengo, que por sua história é um time que sempre jogou e sempre vai jogar pra frente, propondo o jogo, atacando e buscando o resultado. Será que ele não percebe que tá quase dando tudo errado? Amanhã Zé tem mais uma chance de mudar a trajetória do time no campeonato e que ainda tem o que mostrar como técnico, o que sabemos que tem muito e só falta lembrar de colocar sua habilidade em campo com o time. O Flamengo encara a Ponte Preta na Ilha do Urubu, que vem embalada depois de uma vitória em cima da Chapecoense.

Além disso, meu amigo Flamengo, se não der na técnica e na habilidade, tem que ir no coração, na vontade, tem que ter sangue nos olhos. Lembre-se de seu passado de glórias e dos que guerrearam em campo por você. Ou então cumpra-se a profecia de Nelson Rodrigues e chegue o dia que o Flamengo não precise de jogadores e baste a sua camisa em campo. Devolvam o Flamengo porque esse é o Flamengo menos Flamengo que eu já vi.



Matheus Morais
Twitter: @danosmorais_
Instagram: @danosmorais

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