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A força feminina agora dentro de campo

O futebol feminino no Brasil vem tentando buscar o seu mais do que merecido espaço há anos. Com a realização das Olimpíadas de 2016 na cidade do Rio de Janeiro, a causa pelo futebol feminino ganhou uma ampla visão dos brasileiros sobre a categoria.

Time feminino do Figueirense no dia em que foi apresentado (Foto: Luiz Henrique/Figueirense FC)
Em setembro de 2016, a CONMEBOL – federação que comanda o futebol sul-americano – determinou a obrigatoriedade de times femininos nos clubes que queiram participar das competições vinculadas à ela a partir de 2019. Este novo estatuto da CONMEBOL adequa-se ao artigo 23 do estatuto da FIFA, que obriga as confederações a terem medidas de governança que incluem, dentre outros itens, a incorporação de artigos que preveem a igualdade de gênero.

No estado de Santa Catarina, alguns clubes já possuem suas categorias femininas, como Avaí, Criciúma e Chapecoense, por exemplo. O Kindermann, de Caçador, não possui a categoria masculina, mas participando ativamente do Brasileirão Feminino, e fazendo frente à alguns dos principais times, é um bom exemplo a ser seguido em âmbito estadual.

Tendo em vista a importância que é ter uma categoria feminina, o Figueirense, em junho deste ano, anunciou como novidade no seu aniversário de 96 anos, a criação do seu time feminino. Criando-se uma parceria com o Paula Ramos Esporte Clube, que até então era interligado ao Veneno Futebol Clube, as meninas que jogavam por esse clube, agora começaram a fazer parte do elenco do time feminino do Figueirense.

Fundado em 2008, o Veneno FC, começou o seu projeto no Fut7. Em 2012, a parceria com o Paula Ramos EC foi firmada, e no mesmo ano, começaram a vir os resultados com o título do Campeonato Brasileiro de Fut7, onde na final, derrotaram a equipe do Grêmio. Já em 2013, mais um título nacional fora conquistado. Desta vez, o da Copa do Brasil de Fut7, disputada em Minas Gerais.

Alvinegras querem fazer história com a camisa do Figueirense (Foto: Divulgação)
Em campeonatos regionais, a equipe do Veneno/Paula Ramos também tem suas conquistas. Em 2016, foram campeãs do Campeonato Sul-Brasileiro. Em competições estaduais, elas possuem três títulos, nos três campeonatos em que a Federação Catarinense de Fut7 organizou até hoje. Dois ainda como Veneno/Paula Ramos – vencendo Joinville e Cocal do Sul, respectivamente. O último título estadual conquistado, já carregando o nome e as cores do Figueirense, foi no último dia 27 de agosto, quando as alvinegras derrotaram na final, o Sem Maldade FC, da cidade de Joinville por 5x0, e sagraram-se campeãs invictas.

A equipe do Linha de Fundo entrou em contato, e entrevistou a meio-campista do Figueirense, Ana Caroline. Manezinha, nascida e criada, Ana tem 24 anos, e é apaixonada pelo Figueirense desde sempre. Está na luta pelo futebol feminino desde os 12 anos, onde desde então passou por alguns clubes dentro do estado. A maioria no futsal onde considera o seu berço, e pretende trabalhar no futuro, quando parar de jogar. Como não possui remuneração sendo jogadora, Ana trabalha na parte administrativa da SC Saúde, e em alguns jogos do Figueirense trabalha como gandula.

Apaixonada pelo Figueirense desde pequena, Ana defende o futebol feminino desde os 12 anos (Foto: PhotoSports)
Ana, pra vocês, qual o objetivo principal do time feminino do Figueirense?

Antes de nos juntarmos com a equipe do Figueirense, já estávamos na estrada há 8 anos como Veneno/Paula Ramos.
O nosso objetivo sempre foi buscar títulos nacionais, regionais e etc. Levamos como ''lazer'' por não ser remunerado, até então. Tanto que as premiações em dinheiro dos campeonatos que participávamos e saímos campeãs, iria pro caixa do clube. Agora, com a junção com o Figueirense, podemos almejar nosso espaço no cenário esportivo, não só pra gente, mas para as meninas mais novas que estão por aqui e têm talento, porém não têm oportunidade de mostrar. No caso, o projeto é a médio longo prazo. Agora representamos o maior de SC em competições de Fut7, e até 2019 que iremos participar de competições de campo e então ser oficialmente atletas do clube, com seus devidos direitos. Até lá, vamos buscando nossa força dentro do cenário nacional de Fut7.

O futebol feminino ainda sofre muito preconceito no Brasil. Como é pra vocês lidarem com isso?

Ainda sofre, sim. Sempre tem, infelizmente. Falo por mim, que hoje um pouco mais velha consigo lidar melhor com isso. Mas no começo, assim que entrei nesse mundo do esporte que é o que eu mais amo fazer, senti muito. Hoje, lidamos com o pensamento de não provar, mas apenas tentar mostrar que também podemos jogar bem, e que nenhum esporte tem que ser denominado por gênero. O esporte é coletivo e participa quem quiser. Vôlei, futebol, judô, handebol: não existe esporte masculino ou esporte feminino, é apenas esporte e isso não denomina o gênero do atleta. Nem todos pensam assim, mas acredito que com a mente mais evoluída, vamos quebrar esse preconceito bem atrasado.

Hoje, sendo atletas do Figueirense, qual é a ajuda que o clube dá à vocês jogadoras?

Não somos atletas profissionais, por enquanto. Quanto a ajuda, isso passa pelos meninos da comissão, recebemos uniforme de jogo, e o nome do clube ajuda bastante em questão de divulgação e patrocínio.

A mudança de administração no Figueirense culminou com que melhorias?

Pelo o que a comissão passa pra gente, com a mudança dentro do clube, eles estão bem mais atenciosos. Respondendo, e até marcaram reunião essa semana para definir sobre o contrato que a antiga gestão tinha acordado com a gente. A tendência é melhorar. Nossa realidade é que se o principal estiver bem, respinga pra gente uma atenção maior. Agora que ganhamos o estadual pela terceira vez, e temos chances reais de ser campeãs da Copa do Brasil novamente (ganhamos em 2013), esperamos que eles olhem com carinho pro feminino.

As alvinegras têm o seu próximo desafio, nesta semana, dia 7, onde disputam a Copa do Brasil de Fut7, em Curitiba-PR. Lá, irão tentar o segundo título da competição – o primeiro com a parceria com o Figueira.

A princípio, o time do Figueirense é de Fut7. A transição das jogadoras do society para o futebol de campo será feita gradativamente, e em breve elas estarão disputando os principais campeonatos da categoria, no país, tendo em vista a regulamentação da CONMEBOL citada no início da matéria.

Patrick Silva | @figueiradepre

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