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Loco Abreu na Real Sociedad, um dos 26 clubes diferentes da carreira do icônico atacante uruguaio (Reprodução – Los Banquillos.com)
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Ao acertar com o Audax Italiano nesta terça-feira, Sebastián “Loco”
Abreu ficou em evidência
na mídia por ser o presumível atleta que atuou pelo maior número de equipes
profissionais na história, 26, ultrapassando o goleiro alemão Lutz
Pfannenstiel, que havia atuado por 25. Uma matéria recente do Lance especifica
que esse “recorde” é questionável,
usando o brasileiro Finazzi como um exemplo de atleta com mais transferências e
clubes diferentes no currículo, além de reiterar que Pfannenstiel jogou em
todos os continentes, um feito que “Loco” também não tem. Ponto para o rigor
jornalístico. Só que esse site não pode deixar de aproveitar a notoriedade do
fato para relembrar um pouco a rápida passagem do ícone uruguaio pelo nosso
clube.
Prólogo: Culiacán, México – com Pep Guardiola
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Aprendizados, provocações e rebaixamento: convivência com Guardiola foi curta e marcante (Foto: Reprodução/ESPN)
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Após uma passagem fracassada de seis anos pelo La
Coruña, marcada por inúmeros empréstimos, entre eles para três times mexicanos:
Estudiantes Tecos (onde foi vice-artilheiro no Apertura de 1999 e artilheiro do
Clausura de 2000), America e Cruz Azul, Loco Abreu em breve voltaria ao país,
após positiva passagem pelo Nacional do Uruguai. No dia 24 de junho de 2005,
assinou pelo até então emergente Dorados de Sinaloa, clube situado na cidade de
Culiacán, conhecida pela má fama do tráfico de drogas e da violência, onde
seria treinado por JuanMa Lillo, personagem central na sua futura passagem pela
Real Sociedad.
Marcando 22 gols em 39 jogos, contando todas as
competições, a boa pontaria do uruguaio não foi suficiente para salvar o time
do descenço, graças a um regulamento confuso que, baseado no sistema
Apertura/Clausura, levava em conta campanhas de anos anteriores. O time caiu
com 4 vitórias, 10 empates e apenas 3 derrotas, como o que menos perdeu no
Clausura. Quem pouco pode contribuir em campo para o time foi Pep Guardiola.
Chegando ao time em janeiro de 2006 a pedido de Lillo, seu amigo pessoal,
sofreu com lesões e jogou apenas 10 partidas, com 1 gol marcado. Mas fora de
campo ele foi marcante para Loco Abreu.
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Guardiola e Lillo nos tempos de Dorados no México. Pupilo e mestre discutiam tática obsessivamente (Reprodução/ESPN – Getty Images)
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Lillo e Pep eram muito ligados ao futebol, mais do que
o comum, e isso Loco Abreu percebeu cedo. Morando em um quarto de apartamento
em Culiacán com a esposa e os dois filhos, Pep costumava passar horas e horas
na casa de Lillo vendo e discutindo vídeos de jogos. No CT, Loco Abreu
costumava vê-los discutindo enfaticamente sobre táticas e ficava maravilhado
com as cenas, conforme afirma em reportagem do El País:
“As reuniões
eram guerras táticas entre os dois numa mesa de refeição. Tudo o que estivesse
ao alcance servia para rebater o dispositivo tático do outro: colheres, facas,
copos. Eu só escutava e guardava no disco rígido para que me servisse depois”.
Ficou para Loco Abreu ainda o fato de ser apontado
como o provável primeiro atleta a receber expressamente uma bronca de Pep
Guardiola, em um episódio tratado já como “lenda”:
durante um treino, o uruguaio resolveu tirar um sarro de Pep, fazendo piadas da
sua idade e do seu nariz, no que foi retrucado com um “Quando ganhar uma Champions, algumas ligas e uma Olimpíada, me avise”…
Reza a famigerada lenda que Loco juntou suas tralhas e
se mandou do treinamento após essa punida…
Mais umas andanças… e um “Loco”
aterrissou em San Sebastián
Saindo do rebaixado Dorados no meio de 2006, Loco
Abreu passou por Monterrey, San Luis, Tigres, River Plate por empréstimo,
Beitar Jerusalem, River Plate novamente, agora em contrato efetivo… até que
novamente decidiu mudar de ares.
Um clube de San Sebastián, País Basco, se
reconstruindo na segunda divisão de seu país, e que contava com certo JuanMa
Lillo, requisitou seus serviços por empréstimo, e o atacante não titubeou.
Ficou animado com a chance de voltar a Europa após os 30 anos de idade, ainda
que em uma divisão inferior, e deixou um River em remodelação após um péssimo
Apertura, onde ficou em último.
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Loco Abreu apresentado na Real Sociedad. Mas e essa camisa 18 aí, ele não gosta da 13? (Reprodução – Renaldinhos.com)
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Desembarcando no início de 2009 para ajudar nas
pretensões de acesso da Real Sociedad, tudo parecia certo para Sebastián Abreu.
Pedido pelo treinador com quem teve boa relação e ótimo rendimento no México,
em uma equipe e liga acessível para sua titularidade incontestável, até a
cidade tinha o mesmo nome que ele, Sebastián, parecia mentira como tudo se
encaixava… e era mentira mesmo…
Loco Abreu queria jogar com a 13! Era “loco”, obcecado
com o número!
Mas o que fazer quando o regulamento da Federação Espanhola
reserva as camisas 1, 13 e 25 preferencialmente para os goleiros, obrigando ao
menos dois deles registrados no plantel principal, com a Real Sociedad tendo
três no primeiro time (o que comprometia os três números para os “arqueros”)?
Ele explica nessa declaração para o questionário 100×100 da Revista espanhola
El Gráfico, reproduzido no site renaldinhos.com (em espanhol) que eu aqui
apresento em tradução livre:
“Quando fui para
a Real Sociedad tive um problema: na Espanha o 13 é necessariamente usado pelo
goleiro. Eu já estava obcecado com o número. O técnico foi JuanMa Lillo, que me
treinou no Dorados e me pediu especialmente (para o time). Ele disse (sobre o
desejo de jogar com a 13) a um assistente, Michelo. E Michelo, um monstro, me
disse: “Cara, eu tenho a solução, você vai jogar com 18, mas 8 é dois 3,
coloquei uma fina faixa branca no meio e ninguém percebe. Para o estrangeiro é
um 18, para nós será um 13 ‘. Buscamos o lado psicológico (risos), e então eu
jogui”...
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Nada como a criatividade para fazer as vontades de Loco Abreu… (Reprodução: Twitter de David Mosquera)
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E o reforço psicológico funcionou. Foram 11 gols em 18
partidas no segundo turno da Liga Adelante, com sua camisa “dieciocho pero
trece”, e um protagonismo que de certa forma contribuiu para a manutenção do
seu prestígio na Seleção do Uruguai no ainda iniciante caminho de Óscar
Tabárez, que segue até hoje no comando.
Infelizmente, a nível coletivo, o conjunto de JuanMa
Lillo não conseguiu lograr o acesso, nem sequer brigar seriamente por isso.
Apesar da 6ª colocação, a regra na época não previa playoffs de subida, subindo
simplesmente os três primeiros colocados, de forma direta. Com 48 gols feitos e
38 sofridos, tivemos ainda a melhor defesa, mas ficamos a 14 pontos da volta à
primeira divisão, o que foi encarado como inquestionável fracasso.
JuanMa Lillo não ficou no comando, e prontamente Loco
Abreu saiu junto. Na mesma reportagem do El País citada nesse texto ele explica
da maneira mais sucinta possível:
“É minha forma
de ser. Se ele saísse, eu saía”..
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Outro costume de Loco Abreu: usar uma camisa por baixo do uniforme da equipe com retalhos de outros clubes que já jogou, e algumas vezes até com fotos dos filhos (Reprodução – curiosidadesdelfutbol)
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No site “Curiosidades Del Fútbol” há o relato de que o fim de sua passagem aconteceu de uma
maneira um tanto melancólica. Apesar dos gols, a resistência de parte da
torcida pelo seu estilo “pouco combativo”, juntando ao fracasso do não acesso e
um anúncio de saída antes da hora para o futebol grego, esfriou a relação de
Loco Abreu com a torcida. Mas nada que traumatizasse o uruguaio, que foi
procurar no Aris de Salonica mais uma vez novos ares para sua carreira.
Também não ficaria muito tempo por lá. Ainda antes de
marcar seu nome na Copa do Mundo de 2010 na disputa de pênaltis contra Gana, e
participar de uma campanha histórica da Celeste, desembarcou no Rio de Janeiro
para uma improvável (ao seu estilo) passagem de dois anos, com status de ídolo
no Botafogo. No entanto, o que parecia ser finalmente um homem descansando de
tantas viagens foi apenas um ponto fora da curva, e ele segue até hoje de clube
em clube tendo passagens rápidas e marcantes, na mesma medida.
Na Real Sociedad não foi diferente, e o site tentou
contar um pouco disso.
Fiquem, por fim, com todos os gols de Loco Abreu em
sua passagem meteórica, em todos os sentidos, por Anoeta:
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