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The Red Shirts Are Coming


Entre todas as seleções mais badaladas na copa, hoje foi dia da menor das maiores e maior das menores. Os ingleses, os inventores do jogo, se acostumaram a se verem sempre derrotados precocemente e chegaram a RĂºssia com um time de meninos aventureiros, dispostos a mudar um pouco a auto-estima dos britĂ¢nicos. Foi por pouco, mas foi.

A Premier League pode atĂ© ser o melhor campeonato, mas com certeza os melhores jogadores nĂ£o sĂ£o ingleses. Muito menos os tĂ©cnicos, que nĂ£o ocupam o cargo em nenhum dos Big Six da Inglaterra. No entanto, ao que parece, a evoluĂ§Ă£o do jogo chegou aos 3 Lions.

Desde que Herbert Chapman criou o WM no Arsenal dos anos 20, com a introduĂ§Ă£o do terceiro o zagueiro, os ingleses nunca mais usaram a linha de 3. ApĂ³s o sucesso Ăºnico e fugaz de 1966, em casa, os ingleses adotaram o 4-4-2 como mantra clĂ¡ssico e assim foram a grande parte dos torneios seguintes. Sempre com resultados frustrantes.

No entanto, o Chelsea de Comte e o City de Guardiola parecem ter inspirado Garry Southgate na hora de pĂ´r seu time em campo. Os ingleses vieram em um 3-3-3-1, com a estrela Harry Kane mais avançada. Começaram jogando com o estilo que permeia sua liga. Toques rĂ¡pidos, transições velozes, poucos passes no meio de campo e chegada com muitos jogadores na Ă¡rea, principalmente por conta da brilhante atuaĂ§Ă£o de Jordan Henderson.

Foram 20min alucinantes, que obrigaram o goleiro tunisiano a fazer defesas salvadoras. AtĂ© que, apĂ³s uma espetacular ponte do goleirĂ£o, Harry Kane pĂ´s os ingleses na frente pegando o rebote. Empolgaram.

No entanto, o estilĂ£o da Premier League tambĂ©m faz com que os ingleses corram risco. NĂ£o a toa Ă© o campeonato onde os times menores dĂ£o mais trabalho. Com um meio de campo que troca poucos passes, a perda da bola oferece espaços, e assim a TunĂ­sia foi se aproximando da Ă¡rea. Vale ainda destacar a lesĂ£o do goleiro tunisiano, provocando sua substituiĂ§Ă£o e o choro inevitĂ¡vel em seu rosto, revelando mais uma vez a importĂ¢ncia de uma Copa do Mundo.

Aos 35, pĂªnalti pra TunĂ­sia. AtĂ© entĂ£o, apesar de se aproximar, os africanos nĂ£o ofereciam perigo. Mas Walker jĂ¡ demonstrou no City um talento para cometer erros tolos e infantis. Deu uma braçada sem bola no atacante tunisiano. PĂªnalti convertido. 1x1.

Os 10 minutos seguintes foram de mais massacre inglĂªs. Chances criadas e desperdiçadas em lances bizonhos como o de Maguire. Primeiro tempo excelente, comprometido por um lance fortuito.

O segundo tempo porĂ©m foi bastante ruim. O time perdeu criatividade e foco, talvez por conta da pouca idade de seus titulares. Talvez pela ausĂªncia de qualidade de seus pontas, que funcionam muito bem nos esquemas de seus clubes mas nĂ£o tem tanta qualidade assim. Convenhamos que ver Sterling com a camisa 10 que na copa passada pertencia a Wayne Rooney Ă©, no mĂ­nimo, ultrajante.

A modernidade do primeiro tempo deu lugar a uma memĂ³ria automĂ¡tica no segundo. O jogo inglĂªs, desesperado pelo resultado, embruteceu e voltou Ă s suas raĂ­zes. As bolas eram jogadas na Ă¡rea a Deus-darĂ¡, como fizeram durante dĂ©cadas. Na marca dos 30min voltaram ao futebol rĂºstico de seus primeiros tempos, que mais se assemelhava ao rugby, principalmente quando iniciavam as jogadas com o zagueiro Maguire. Um jogador pegava a bola e carregava avante atĂ© bater de frente com a parede de defensores tunisianos, e entĂ£o tocava para trĂ¡s ou para o lado para que outro companheiro tentasse avançar com a bola carregada.

No final, a coisa jĂ¡ encaminhava para o desespero. Entraram Rashford (cuja nĂ£o titularidade Ă© incompreensĂ­vel) e Loftus Chick, que nĂ£o deram muito jeito. O tĂ­tulo para esse texto jĂ¡ estava pronto: "Começando como nunca, terminando como sempre".

Mas o futebol nos prega peças e como bom apreciador da Premier League, esperei atĂ© o Ăºltimo minuto para começar a escrever esse texto. NĂ£o me decepcionei.

Bola na Ă¡rea, como sempre fizeram os ingleses. Desvio de um zagueiro para o mais uma vez bem colocado Harry Kane colocar para dentro. Um furacĂ£o em campo, loucura na torcida britĂ¢nico. Depois de duas copas do mundo, os ingleses reencontram o caminho da vitĂ³ria.

Um jogo bastante revelador. Por um lado, a primeira etapa mostrou o potencial desse time caso joguem como em seus clubes e liga. Animou. Por outro, a etapa final mostrou a inexperiĂªncia da garotada britĂ¢nica e quase frustrou. No final, os ingleses resolveram como sempre e a camisa vermelha disparando em alegria lembrou os feitos dos maiores sĂ­mbolos do futebol inglĂªs, os seus verdadeiros leões: Liverpool e Manchester United. Resultado que praticamente garante os ingleses nas oitavas para animar um pouco o orgulho tĂ£o ferido dos ilhĂ©us da GrĂ£-Bretanha.

Foi apenas um jogo e nĂ£o dĂ¡ para cravar ou definir muito sobre o time inglĂªs. Mas uma coisa Ă© certa: se reproduzirem o futebol jogado nos clubes ingleses, os inventores desse jogo sagrado podem sim fazer um bom papel nessa copa.

No mais,
C'mon England!

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