(Alexandre Vidal/Flamengo)
A histĂ³ria de Juan começa como qualquer histĂ³ria. Um garoto. Do subĂºrbio, que sempre sonhou em jogar no Flamengo.
Subiu novo, foi embora, voltou e encerrou a carreira.
Mas ao contrĂ¡rio de tantos outros, Juan sempre foi discreto. Em campo e fora dele.
TĂmido, ele jamais foi desses jogadores que dĂ¡ carrinho e chama a torcida, que dĂ¡ entrevista polĂªmica, que provoca adversĂ¡rio em campo ou que comemora gols com dancinhas.
Ele foi discretamente majestoso
Aos 9 anos, em entrevista, foi perguntado: "Que jogador vocĂª quer ser?"
Ele, do alto de sua serenidade aos 9 anos, respondeu: 
"Comum"
Mas ele nĂ£o foi isso. Foi mais.
Foi muito mais. 
Juan foi demais 
Demais.
E o Juan Ă© tĂ£o demais, que provavelmente tem lances espetaculares ou tĂtulos espetaculares, em que vocĂª mal lembra dele.
O pequeno rubro-negro estreou aos 17 anos. NĂ£o sei se vocĂª lembra, mas no Ăºltimo tĂtulo internacional do Flamengo, ele fez gols decisivos na caminhada.
Formou uma das maiores duplas de zaga que o Flamengo teve, com Gamarra. Ainda que por pouco tempo.
Naquele tĂtulo da seleĂ§Ă£o na Copa AmĂ©rica de 2004, todo mundo lembra do Adriano mas foi Juan quem bateu o Ăºltimo pĂªnalti.
Naquele gol mĂ¡gico da seleĂ§Ă£o contra o Chile, em que Adriano, KakĂ¡, Ronaldo e Robinho fazem uma linha de passe dentro da Ă¡rea, Ă© Juan quem começa a jogada.
Jogador de duas copas, de anos jogando pela Roma por quem fez histĂ³ria.
Jogador do Flamengo, no inĂcio e no fim, operou um dos maiores milagres de zagueiro que jĂ¡ presenciei na final da sul-americana, Ăºltima final que jogou por nĂ³s. E isso depois de ter aguentado mais de um ano na reserva do clube, tendo pouco reclamado.
Juan.
4 letras. Camisa 4.
Manto dos zagueiros classudos. Jogava de terno sempre disseram.
Um tempo de bola perfeito, atrĂ¡s e na frente. Empatado com Junior Baiano Ă© o maior zagueiro artilheiro da histĂ³ria do Flamengo.
E talvez seja tecnicamente o maior zagueiro da histĂ³ria do clube.
NĂ£o sei.
SĂ³ sei que pensava nisso toda vez que ele dava aquele carrinho frontal em que o atacante ficava sem escapatĂ³ria e ele conseguia sĂ³ tomar a bola.
Quantas vezes bolas altas, ao invĂ©s de rebatidas de cabeça com toda grosseria, foram amaciadas com todo carinho no peito de Juan e colocadas no chĂ£o para o reinĂcio da jogada.
Simples e elegante. Humilde e magnĂfico.
AtĂ© o Ăºltimo dia.
Ontem fui sĂ³ por vocĂª.
E quase nĂ£o te vi, porque o time nĂ£o ajudava.
E vocĂª ficou lĂ¡, sem reclamar, sĂ³ esperando a sua vez.
Mas apesar de vocĂª nunca ter pedido, vocĂª sempre teve a atenĂ§Ă£o da massa.
LĂ¡ em cima, passamos os Ăºltimos 15minutos gritando seu nome. Pedindo a Abel que pelo amor de Deus o colocasse.
Saiu o terceiro gol, jĂ¡ no final. E vocĂª, como um menino, aquele de 9 anos, aquele que estreou aos 17, saiu correndo pra comemorar mais um gol comum no MaracanĂ£.
Ali comecei a chorar jĂ¡.
VocĂª entrou. Discreto, aos 44 do segundo tempo.
E deu seu Ăºltimo toque com mais um tempo certĂssimo de cabeça. Pra terminar com toda a glĂ³ria.
Ainda assim, teria de novo seu protagonismo roubado pela pancada no rosto de Rodrigo Caio.
Mas tudo bem. Ao fim, veio atĂ© nĂ³s. Rodou o campo tocando as mĂ£os da torcida. E quase a minha.
Mas tudo bem nĂ£o ter tocado. VocĂª Ă© um daqueles deuses do Olimpo sagrado da GĂ¡vea que eu aceito a distĂ¢ncia da alma divina.
O que importa é que tive o privilégio de te ver mais uma vez.
Sereno, de terno, do alto de sua sabedoria.
Muito mais do que um jogador comum.
Obrigado por tudo, Juan
 



 
 
 
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