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Diego, o pênalti e o símbolo


(Foto: Globoesporte.com)

Odeio fazer esse tipo de texto. Na verdade nunca fiz. Achincalhar jogador e jogar toda a culpa em um só é fútil, pobre e cruel.

Mas não deu. Diego Ribas conseguiu furar essa trincheira. Esse texto é dedicado a você, símbolo de fracasso.

E olha, Diego pra mim era ídolo. Tenho uma história até um pouco pessoal com ele. Quando pequeno, fazia uma dupla de sucesso na pelada com um amigo. Ele era Robinho e eu, mais meia, o Diego.

Dos meus amigos, eu era o único que gostava de ler. Diego foi o primeiro protagonista do quadro da Globo "ler também é um exercício", que chamava atenção pra jogadores que também eram leitores foram dos campos. Me identificava.

Entre outras coisas, isso me fez acompanhar Diego com atenção sempre. No Santos e na Europa.

Em 2016, na sua contratação, fiquei empolgadíssimo. Saí da aula na faculdade e fui o primeiro a comprar uma camisa e personalizar com seu nome na loja do Flamengo do maior shopping aqui de Niterói.

Os meses seguintes foram de confirmação. Jogou uma barbaridade. Só não foi protagonista em um jogo, contra o Palmeiras, no Allianz Parque, quando foi substituído no primeiro tempo após expulsão de Márcio Araújo, e por isso a torcida quase matou Zé Ricardo. Vocês ainda lembram disso?

Lembro de no final do ano escrever um texto exaltando Diego. Não por acaso, esse jogo ficou marcado por outra coisa. Esse foi o ano do "cheirinho de hepta", criado pela torcida do Flamengo. No último jogo no Maracanã em 2016, o telão trazia a mensagem: "o cheirinho volta ano que vem". Diego e o fracasso. Ali eu não via, mas já estava posto.

Dali em diante, Diego foi só ladeira abaixo. Depois de lesão em 2017, passou a jogar mal, perdeu gols e pênaltis importantes, incluindo na final da Copa do Brasil contra o Cruzeiro. Ali o Flamengo perdia sua primeira disputa de pênaltis depois de quase duas décadas. Ele foi o único que desperdiçou sua cobrança naquela noite. No final daquele ano, ainda teríamos um vice da sul-americana.

Em 2018, um ano um tanto parecido. Empolgação, agora com o slogan "segue o líder". No final, fracasso. E apesar de com protagonismo dividido, Diego ainda é o grande rosto do grupo.

Tornou-se o rosto da derrota. No final do ano teve sua permanência discutida. Membros da atual direção chegaram a jogar pipocas em Diego no ano passado antes do processo eleitoral. Já no cargo, acataram pedido de Abel para deixá-lo. Segundo o treinador, só ele no elenco faria a função central do meio de campo.

E assim veio, até agora.

Nunca fui dos mais enfáticos com essa relação de amor e ódio que a torcida nutriu por Diego. Sempre tentei ser mais frio.

E o pior é que Jesus achou a melhor posição possível para ele hoje. Jogou bem domingo e jogou bem hoje.

Centralizado no meio, Diego pode girar e prender a bola a vontade. Ficou em uma zona do campo onde enxerga de trás, distribui o jogo e deixa os toques mais rápidos para Arrascaeta e Everton Ribeiro na linha de frente.

No jogo de ontem, fez partida primorosa. Tanto com a bola quanto sem. 

E aqui, cabe um adendo. Não voltem a discussão sobre a necessidade de outro volante ao lado de Cuellar. O Flamengo marca hoje com um sistema mais complexo e enquanto equipe. Essa discussão é pobre.

Prova disso foi o trabalho defensivo feito por Diego hoje. O jogo atleticano gira em torno do meia Bruno Guimarães. O camisa 10 da Gávea passou o jogo todo marcando o meia atleticano e era por isso que o Flamengo controlava o jogo. Não era uma marcação de mordida, mas mais inteligente, evitando que a bola chegasse a Bruno.

Aliás, essa é a melhor definição de Diego. Cerebral. As vezes, até demais.

O segurar demais a bola sempre passou pra mim a impressão de que Diego pensa demais o jogo, tanto que perdia o tempo de fazer os passes mais incisivos. Para, gira, olha e aí sim executa.

E isso não implica falta de vontade. Ele é bastante raçudo. Mas até nisso é cerebral. Sabe usá-la a seu favor. Até mesmo nas bicicletas aleatórias de todo jogo.

É cerebral até nas entrevistas, nos gestos, nas formas de ganhar a torcida. Quem não lembra daquela corrida cinematográfica, no Castelão, ano passado, após o gol decisivo (contém ironia) do 3x0 contra o Ceará na segunda rodada do Brasileirão?

E assim foi ontem, no momento que pra mim encerra qualquer tipo de idolatria pelo jogador que não merece nem 5% da camisa 10 que usa.

Primeiro a bater, jogo grande.

O árbitro enrola a cobrança, o que dá a Diego tempo para pensar no que faria. 

Mente vazia, oficina do diabo.

Diego pensou em todas as suas cobranças perdidas (só eu já vi três ao vivo) e pensou em algo que nunca fez.

Bateu com a maior displicência do mundo, um chute fraco no meio do gol.

Nem cavadinha deu.

Um pênalti ridículo. Absurdo.

Como diria o outro, pífio e patético.

Humilhado pelo goleiro que praticamente segurou a bola.

Um escárnio.

Ali estava encerrada a noite.

Noite em que o time jogou bem, mas faltou uma dose de sorte. Ali, acabou toda a confiança.

"Mas e os outros que perderam?"

Diego é muito pior. No pênalti de Vitinho, ele mesmo, Jesus, e todo o Maracanã sabiam que seria pra fora. Everton Ribeiro bateu fraco e perdeu, mas costuma bater assim e fazer. Estava na sua zona de segurança, se assim se pode dizer. Levou certo azar de Santos ir naquele canto (obviamente já tendo estudado suas batidas).

Diego não.

Diego tem um histórico com a torcida. De pênaltis perdidos.

Fico imaginando o que ficou passando na sua cabeça até o momento da batida e não consigo conceber aquele pênalti ainda.

Exatamente por ser tão cerebral, aquele penalti foi imperdoável. Podia ter batido de qualquer jeito, menos aquele.

Era só bater sério.

Ele sabia que se batesse sério, mesmo que isolasse a bola, seria menos pior.

Ali foi só arrogância, displicência, falta de força. Tudo que a torcida do Flamengo mais odeia.

Se não batesse o pênalti, ninguém estaria falando dele hoje. Mas fez aquilo.

Em um time que se orgulha da fibra, da massa e da raça, esse pênalti é inadmissível.

Em um clube que se orgulhava do velho "deixou chegar". Time de coisas impossíveis, famoso por não falhar na hora "H", uma figura como Diego não se encaixa.

E não é porque Diego é um completo fracassado na carreira. Poucos se lembram mas ele já eliminou o Barcelona em um mata mata de Champions League e é ele quem cruza para Adriano levar o Brasil aos pênaltis na final da Copa América de 2004.

Mas no Flamengo, não dá mais.

Não é só o pênalti. É um símbolo. Ele já representa uma das épocas em que a torcida do Flamengo foi mais mal tratada em sua história (não é incomum ver torcedores lembrando com saudosismo dos tempos pobre de "luta contra o rebaixamento mas com raça").

Aceitamos jogadores cerebrais. E temos. Mas não assim, não demais.

Falta paixão real, a fibra, o sangue e o grito que pulsa atropelando a emoção e escorrendo pela garganta da massa que explode na perna do jogador lá embaixo. Falta o algo a mais que faz do Flamengo o Flamengo

Hoje, mais do que nunca, concordo que Diego é um símbolo de derrota no Flamengo, e a nossa espera por títulos grandes na nossa nova era passa pela saída de Diego do time e, quissá, do clube.

Espero estar errado. Até porque, como disse antes, tenho uma relação antiga com Diego. Porém, são esses os pensamentos que passam pela mente nessa quinta feira de cabeça inchada. Não é só racional, é uma questão simbólica. O futebol não é só cálculos e friezas.

Não da mais. Mais Cuellares, menos Diegos. Pela alma do meu Flamengo de volta.

No mais,
Saudações Rubro-negras

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