Eram 2 minutos de arquibancada quando um companheiro pergunta:
"VocĂª sabe quem Ă© o juiz? E se Ă© bom?"
Eu nĂ£o fazia ideia. Aos 5min ele jĂ¡ respondeu. E o Inter se mostrou ao que veio.
Falta na lateral da Ă¡rea. SĂ³bis ficou uma vida enrolando pra bater, e o juiz deu trela. Quando cobrou, isolou a bola por cima do gol.
Assim seria o Inter durante 75min.
Aos 15, nada mais nada menos que QUATRO jogadores do Inter jĂ¡ haviam caĂdo em algum momento. A estratĂ©gia era essa: nĂ£o jogar; quando estiver com a bola, nĂ£o atacar e deixar o tempo passar. Por isso, entrou com dois retentores de bola e nĂ£o com dois velocistas nas pontas. O jogo era bicar pro Guerrero matar e trazer o time.
Aqui começa a vitĂ³ria do Flamengo. Sabendo da importĂ¢ncia dos pivĂ´s de Guerrero, o rubro-negro colocava sempre dois jogadores juntos pra disputar a bola com o peruano. A coisa era tĂ£o importante que eu e meus companheiros fazĂamos um placar sĂ³ das disputas aĂ©reas envolvendo Guerrero. O atacante foi jantado pela zaga rubro-negra.
No ataque, o time veio pouco inspirado. Everton Ribeiro sem ritmo e Arrascaeta debilitado (essa Ă© a palavra) pouco criavam. Ameaçou de verdade apenas no final do primeiro tempo. Pra quem via de fora, deve ter sido um jogo chatĂssimo.
Sai o uruguaio e vem Gerson. De inĂcio nada muda. Em dado momento o Inter quis tanto enrolar o jogo que arrumou cinco laterais seguidos. Era jogo pra ser cirĂºrgico nas oportunidades.
"Eu sĂ³ queria que tivesse jogo", soltou um rubro-negro aleatĂ³rio na arquibancada.
Foi lĂ¡ pelos 20min do segundo tempo que percebi. Era um jogo de quartas de final de Libertadores e eu nĂ£o estava desesperado. Meus colegas nĂ£o pareciam amedrontados e nĂ£o havia o clima de apreensĂ£o na arquibancada. EstranhĂssimo.
Lembrei da mensagem de um amigo na vĂ©spera do jogo. "Cara, estou completamente otimista pra esse jogo. O que estĂ¡ acontecendo?"
É o que eu digo. No Ăntimo, o rubro-negro jĂ¡ entra no MaracanĂ£ sabendo como aquilo vai terminar.
Naquele jogo chato, modorrento, nervoso e burocrĂ¡tico, em que o Flamengo rodava, rodava, rodava e nĂ£o achava espaço, foi em um dos Ăºnicos momentos que o Inter subiu o time que o destino foi selado. Everton Ribeiro, mal na partida, enxergou espaço em profundidade pra lançar Bruno Henrique. Disputa com zagueiro que sobra pra Gerson. Toque genial pra deixar o maior peladeiro do Brasil sem goleiro e colocar pra dentro. Flamengo 1x0.
É isso. Estava feito. O prĂ³ximo era com a gente.
A massa tinha passado o jogo todo burocrĂ¡tica e irritada. Justamente pela falta de jogo. Mas ninguĂ©m, absolutamente ninguĂ©m, faz festa como nĂ³s. Quando a massa subiu a voz eu jĂ¡ sabia que o segundo vinha.
Gabriel lançou de novo Bruno Henrique que deslocou Cuesta com um e toque e Lomba com um tapa. Flamengo 2x0.
Dali pra frente era sĂ³ alegria. Nos Ăºltimos 10 minutos o Inter jogou tudo que nĂ£o jogou o resto do tempo. Quem dera tivesse jogado assim o tempo, terĂamos tido um jogo de verdade. Mesmo sem brilho, o futebol premiou quem buscou a vitĂ³ria o tempo todo. No final, Nico Lopez perdeu gol feito em paçocada de Pablo MarĂ e ali o futebol foi justo como poucas vez ele Ă©. O Inter nĂ£o merecia o gol.
Festa, festa e festa.
"Quanto tĂ¡ a cotaĂ§Ă£o do dĂ³lar mesmo? SerĂ¡ que a LATAM jĂ¡ tĂ¡ fazendo promoĂ§Ă£o de passagem?". AlguĂ©m disse isso na arquibancada. NĂ£o sei quem fui.
O Flamengo Ă© Flamengo quando joga pra frente. Ponto.
E que seja semana que vem. Tomara que nĂ£o jogue com regulamento embaixo do braço e sĂ³ enrolando. Um gol feito lĂ¡ pode ser o gol da vaga. A semifinal nunca esteve tĂ£o perto.
Que continuemos merecendo e jogando assim, e que os deuses continuem nos recompensando.
Apenas tentem nĂ£o cruzar conosco amanhĂ£. O flamenguista dorme essa noite como o ser humano mais feliz do mundo.
No mais,
Saudações Rubro-negras
(Fonte: Alexandre Vidal/Flamengo)
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