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O novo 81



- Pai, tá muito longe. Da TV eu vejo melhor. Mas aqui é muito mais legal.

- Não é, filhão? No estádio é outra coisa. E tu é pé quente. Veio e a gente ganhou.

- Pai, eu sabia! EU SABIA! Não podia dar errado.

- Não podia.

- Mas pai? O que a torcida tava cantando? Eu entendi quase todas as músicas, mas tinha uma que toda hora falava de um tal de gabigol. Quem é esse?

- Meu filho, se eu te contar você não acredita.

- Ué! Por que?

- Porque foi o coisa mais doida que papai já viu.

- Como assim, pai?

- Sabe a Libertadores? Que a gente ganhou ano passado de novo?

- Claro. FOI MUITO MANEIRO!!!

- Então, essa foi a quarta. E você deu sorte, porque você já viu isso novinho.

- Novinho nada, pai! Eu já tenho 6 anos. É mais do que uma mão!

O pai dá risada.

- É verdade, meu filho. Mas quantos anos papai tem?

- Muitos anos. Não sei quantos.

- Pois é. A primeira Libertadores que eu vi o mengão ganhar eu já tinha 23.

- Eita, papai! Mas demorou muito!

- Meu filho, demoraram 38 anos entre a primeira e a segunda.

- Nossa, pai! Um tempão! É como se fossem mais de 5 eus!

- Quase isso - diz o pai com sorriso no rosto.

- Mas porque demorou tanto? Flamengo não era bom?

- Sempre foi meu filho. Mas umas vezes foram uns times muito ruins. As vezes a gente deu muito azar. As vezes jogamos mal.

- Mas agora a gente sempre joga bem na Liberta, ué.

- É. Mas não era assim. A gente quase sempre perdia. Eu sofri muito.

- Eita. Então deve ter sido mó legal quando ganhou.

- Foi a maior loucura. Eu não acreditava. Parecia um milagre.

- Por quê?

- Filho, sabe o 5x0 que o pessoal coloca na arquibancada até hoje?

- Sei. Nunca entendi.

- A gente fez 5x0 no Grêmio na semifinal.  Fazia 38 anos que a gente não chegava na final. 

- Goleada!

- É. E na final a gente tava perdendo até os 44 do segundo tempo.

- QUÊ! E AINDA GANHOU?

- Sim, meu filho.

- Mas pai, não dá tempo de fazer outro. O jogo acaba quando bate 45 no tempo e bate o alarme. 

- Naquela época, tinha um troço que chamava acréscimo. Quando a bola saia, o tempo não parava. Aí quando dava 45min, o juiz dava um tempinho a mais pra compensar. Se vovô chamava de "descontos". Mas na minha época era "acréscimos".

- Que doido!

- É. Que doido.

- Papai, vovô viu a outra?

- Que outra?

- A que veio antes des...pai! Me fala como a gente ganhou!

- Então...a gente fez um gol aos 44 e outro aos 47.

- QUÊ!!!! Deve ter sido o melhor jogo do mundo, pai! Bem melhor que ano passado que foi 3x0 na final.

- É. Foi. Mas um dia você vai ver um jogo apertado assim também.

- Tomara, papai!

- Mas aí, você perguntou do Gabigol. Foi ele que fez os dois gols.

- NOOOOOOOOSSA!

- É. Nossa.

- Mas papai, o vovô viu a outra Libertadores, antes da que você viu?

- Viu. Sabe o Zico, que todo mundo fala?

- Sei. Melhor de todos!

- Então...vovô viu ele jogar.

- MENTIRA!!! 

- Viu sim. Ele me contou do Zico do mesmo jeito que eu tô te contando do Gabigol e de 2019.

- Aaaaaaah! Então é por causa disso que todo mundo fala desse ano?

- É.

- JÁ SEI! 81 foi a que vovô viu?

- Isso.

- SABIA!

O pai se diverte.

- Papai?

- Que foi, filhote?

- Quando eu crescer, eu vou poder contar pro meu filho do ano passado?

- Vai sim, filho.

- Então acho que vou fazer igual a você com ele.

- Como assim?

- Papai, agora que você me explicou, você acha que eu não sei porque o nome do meu filho é Gabriel? Eu sou esperto, já tenho seis anos. 

- É verdade, filho, e ainda tem muito Flamengo pra ver por aí.

(Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

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