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A um passo do mundo



Me irrita. Como me irrita. Como me irrita. Como me faz feliz o Flamengo.

Foi mais ou menos assim que o rubro-negro viu o jogo dessa terça-feira, às 14h30 da tarde, em dia útil, totalmente diferente de qualquer ocasião. Afinal, não seria uma ocasião qualquer. Era a semifinal do mundial de clubes.

E aqui cabe uma digressão. Pessoalmente, considero a Libertadores infinitamente mais importante do que o Mundial de Clubes. É um torneio que realmente afere nível técnico e no qual todos os participantes dão a mesma importância. O mundial é menos um título do que um grande feito. O sabor do mundial vem da lógica de David contra Golias, não em ser considerado o melhor time do mundo.

Por isso mesmo, até a manhã de hoje esperava o jogo com uma grande tranquilidade. O peleja pra mim era mais uma obrigação burocrática, para termos a possibilidade de realizar um grande feito. Tudo mudou quando a bola rolou.

Combinação para dar nos nervos. Flamengo, Galvão Bueno, e 1x0 pro tal time árabe depois de 17 minutos pífios.

Convenhamos. O que forma um torcedor de futebol não é a felicidade, mas é sua capacidade ficar incrivelmente irritado com o seu time. Torcedor de futebol passa muito mais tempo sentindo raiva do que felicidade, e é isso que prova como todos nós somos absolutamente retardados.

O time da gávea fez um primeiro tempo fraquíssimo. Analisando friamente, tudo passou pela atuação de dois homens: Arão e Gerson, com destaque maior para o camisa 8. O Flamengo é um time de volúpia e pressão. O meia canhoto, porém, parecia absolutamente desligado do jogo, assim como naquele dia em Lima. Aceitava marcação e pouca aparecia na construção das jogadas. As piores partidas de Gerson não são aquelas em que ele erra o que faz com a bola. São as que ele deixa de aparecer para chamá-la pra si e mais ainda para recuperá-la. Com um time que avança e marca em linha alta, a sobra de bola deve ser sempre feita com intensidade pelo meio de campo. Gerson sumiu e o Flamengo não conseguia amassar o seu adversário, deixando assim muito espaço nas costas da linha de defesa.

Foi assim que o Al Hilal fez 1x0 e tornou o jogo absolutamente irritante até para quem estava menos envolvido. Perdi a conta de quantos gritos dei em frente à TV. O Flamengo perdia as disputas de bola, errava passes bobos e teve de contar com atuações brilhantes de Diego Alves e Rodrigo Caio. Na frente, o único real lance de perigo não aconteceu, quando Bruno Henrique foi impedido de chutar ao sair cara a cara com o goleiro adversário.

Nada como um intervalo e bons jogadores. No segundo tempo a postura era outra e o time árabe não chegaria mais dali em diante. Do outro lado, o rubro-negro carioca relembrou o caminho da felicidade mesmo sem fazer partida brilhante.

Na primeira bola que Gerson se mexeu para dar opção de passe, iniciou jogada que foi culminar no trio de ataque. Aceleração do time, progressão veloz. Enfiada, rolada para trás e conclusão. Gabigol, Bruno Henrique e Arrascaeta. 1x1.

Dali para frente a sensação era nítida de que o jogo seria virado. Por isso mesmo, a meia hora seguinte foi de irritação, justamente porque ela não acontecia.

Foi quando Jesus pôs Diego e o time passou a jogar de fato bem. Nunca estive tão feliz de estar errado quando pedi a saída do meia. Trocas de passe rápidas, fluidez no meio de campo, controle e imposição. Saída rápida, enfiada de bola, cruzamento e cabeçada na rede. Bruno, o homem das decisões, colocou lá. Três minutos depois, ainda provocaria o gol contra que selou o placar. 3x1 Flamengo.

Da pouca importância aos gritos de gol enraivecidos foram 45 minutos. Com raiva sim, porque o que estava em jogo era impedir um vexame e correr o risco de dar margem para que se diminuísse o meu maior momento de felicidade com o Flamengo. Depois foram mais 30 minutos para que a felicidade chegasse. Se comecei o jogo com a sensação de burocracia, nos minutos finais já estava chorando ouvindo meu povo cantando "Vou festejar" nas arquibancadas de Doha.

Sábado é outra história. Não será o título mais importante, e se perder o ano não será diminuído. O que sábado oferece é a oportunidade do sublime, de mais uma vez estar assistindo ao épico.

Após a final da Libertadores, encontrei meu pai, o culpado dessa doença toda, apenas no dia seguinte. No meu abraço apertado só consegui dizer:

"Eu estou vendo tudo o que você viu".

Só falta uma coisa. O último passo para trazer o mundo de novo. Que venha o Liverpool!

No mais,
Saudações Rubro-negras.

(Imagem: Alexandre Vidal/Flamengo)

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