A sensação no momento em que Abel caiu era de que o Flamengo tinha jogado a temporada no lixo. Muito pontos atrás do Palmeiras com poucas rodadas e um time totalmente desarrumado. Uma verdadeira terra arrasada.
Mas esse foi o Flamengo antes de Jesus. Depois dele, seria outro ano.
Apresentado na final da Champions League, o português passou de desconhecido à depósito de esperança. Passei o pré copa América, período de treinos de Jesus, vendo vídeos e pesquisando sobre o homem. Lembro de conversar com um amigo às vésperas dos primeiros jogos e dizer: "Ou os jogadores não vão entender a proposta, ou o Flamengo vai ganhar tudo".
No caso, seriam os dois. A dificuldade do início rendeu memes sensacionais como "Tá mal, Arão", uma eliminação na Copa do Brasil e duas derrotas doídas. A exigência física provocou uma série de lesões nos primeiros jogos.
Mas depois do Emelec, o dia do primeiro milagre de Jesus, quando passamos em um mata-mata de Libertadores após 9 anos, tudo andou como ele queria.
Revolucionou o futebol no Brasil. Um volante só. Volta do 4-4-2. Dupla de ataque sem referência. Zagueiros na linha de meio de campo. Mudança de posição de jogador. Fazia 1x0 e continuava atacando. Não poupava jogador em nenhum jogo. Deu prioridade ao brasileiro. Era tanto choque que me peguei dizendo várias vezes que o velho era maluco.
Fez de tudo e mais um pouco. Aos comentários xenofóbicos, respondeu com uma aula de futebol e escancarou o baixo nível dos técnicos brasileiros.
Jesus construiu um time demolidor. Agitado como ele mesmo na beira do gramado. Inquieto, intolerante ao erro, que se recusa a perder. Vencedor, como sempre cobrou.
Aprendeu rápido onde estava e fez tudo aquilo que a torcida sempre quis. E aprendeu que não existe recompensa maior do que o carinho dela. Depois de dois jogos, sendo um aquele 6x1 fantástico contra o Goiás, a torcida já entrava o canto, irreverente como todo carioca deve ser.
E vale a lembrança. A torcida do Flamengo sempre foi famosa por raramente cantar nome de técnico. Jesus fez voltar um Flamengo de tradições milenares e a empolgação que trouxe criou felicidade na arquibancada. A torcida voltou a cantar o nome dos jogadores e, no final de tudo, vinha o canto que será eternizado na história rubro-negra.
Técnicos virão, técnicos irão. Mas só, sempre será, o mister do Flamengo.
"Olê! Olê! Olê! Olê! Misteeeer! Misteeeer!"
No mais,
Saudações Rubro-negras.
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