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Muito Ódio, Pouco Amor ao Tricolor

(Reprodução: Youtube.com/BR Hooligans)

Ontem à noite, ao chegar em casa do trabalho, fui até minha mãe. Disse um "eu te amo" e saquei meu celular do bolso para mostra-la o vídeo em que a torcida do Fluminense cantava "ÔÔÔÔ...Time assassino!".

Minha mãe não acompanha nada sobre futebol, não torce para time algum. Ela olhou o vídeo atentamente, seus olhos ficaram vidrados no pequeno visor e sua cabeça acenava negativamente, arriscaria dizer que seus olhos chegaram a marejar. Quando a película terminou, me antecipei a qualquer palavra que ela pudesse proferir e perguntei: "Mãe, se eu tivesse 15 anos e tivesse morrido como os Meninos do Ninho morreram, o que você acharia se visse esse mesmo vídeo?"

A resposta não veio, as suas palavras ficaram presas na garganta. Seu rosto não só denunciou o marejar de seus olhos, como também, uma lágrima escorreu pela sua face. 

Minha mãe poderia ser a genitora de qualquer um dos 10 meninos mortos naquele fatídico dia 8 de fevereiro de 2019. A dor que ela demonstrou ao presenciar um cenário meramente hipotético, já dá um indício do sofrimento que essas famílias vivem desde a morte de seus jovens amados.

A atitude que alguns torcedores do Fluminense tiveram no último FlaxFlu não visava buscar justiça pelas mortes daquelas crianças, esses torcedores quiseram ferir a instituição Clube de Regatas do Flamengo de uma forma vil, mesquinha. Esses indivíduos não calcularam, naquele momento, a dor que causavam aos parentes e amigos daqueles meninos vitimados.
Essa atitude infame gerou antipatia nacional. Os programas esportivos pouco repercutiram a vitória do Tricolor sobre o seu maior rival, o maravilhoso gol de Nênê virou um figurante de luxo em meio a uma cobertura avassaladora que apontava o grito de "Time Assassino". 

O Fluminense perdeu a oportunidade de ganhar um raro espaço de destaque na mídia esportiva. As matérias solapavam o triunfo tricolor e a torcida do "Clube Tantas Vezes Campeão" foi taxada como insensível e desumana. Para um clube que necessita de mídia e patrocínios para sobreviver, o último Fla-Flu apenas serviu para gerar antipatia contra nós e, consequentemente, nos fazer perder algum possível patrocinador. 

O ódio superou a inteligência. Odiar o Fla, foi maior que amar o Flu.

Pouco importa  se rubro-negros comemoraram o AVC sofrido por Ricardo Gomes em um Flamengo e Vasco no distante ano de 2011. Não devemos procurar desculpas pelo ato que muitos torcedores tiveram no jogo desta quarta-feira, esta vergonha perseguirá todos aqueles que envergarem o Manto Tricolor nos estádios, pelo menos  por algum tempo.

Respeitem as famílias dos meninos mortos, respeitem os jovens rubro-negros que perderam seus colegas, respeitem o Fluminense, respeitem a dor de uma mãe. O Clube de Regatas do Flamengo já está pagando a sua pena, o nome do clube será eternamente vinculado a morte desses jovens. Na Gávea, não há um "Time Assassino", existe uma instituição condenada a prisão perpétua por uma série de negligências operadas por irresponsáveis que não "são" o Clube, eles apenas "estavam" no Clube.

Os Tricolores que não concordarem comigo, façam o teste que fiz com a minha genitora, alerto que a dor de uma mãe contagia. Termino esse texto como com os olhos marejados e com a certeza que uma lágrima teimosa escorrerá a qualquer momento.


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