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1° de Maio de 1994: A visão de um fã

Foto: PlanetF1.






Herói, palavra que remete a uma figura arquetípica, um personagem que reúne os atributos necessários para superar, de forma excepcional, uma determinada adversidade de forma épica. Muitos remetem a palavra “herói” para personagens como o Capitão América, Homem de Ferro, Wolverine e etc., mas, para mim, essa palavra combina mais com Ayrton Senna da Silva. Sabe quando uma alcunha cai perfeito para uma pessoa? É mais ou menos isso.

Ayrton por muitos anos foi o companheiro de toda uma nação nas manhãs de domingo, e apesar de não ter nascido ainda na sua época, a paixão por automobilismo me fez o conhecer, me aprofundar e me fissurar na figura do Ayrton, o tornando uma grande referência esportiva e humana para mim.


Como dito acima, não acompanhei in loco a época em que Senna dava show nas pistas (nasci em 1998), mas sentindo a necessidade de prestar uma singela homenagem para o nosso herói eterno e ainda tratar um pouco sobre aquele dia trágico, resolvi entrevistar um amigo próximo que tinha 17 anos na época e que era apaixonado por Fórmula 1. Então, transformei as respostas em um texto, que estará disponível logo abaixo... espero que gostem e que honre a memória de Ayrton.

Foto: GE.




 


Com a chegada do Ayrton na Williams, 1994 aparentava guardar grandes coisas para o piloto brasileiro, o que causava uma grande euforia no torcedor brasileiro (inclusive em mim), era o casamento do melhor piloto com a melhor equipe. Porém, o início desse matrimônio não foi tão bom, foram dois abandonos de prova, mesmo sendo pole position em ambas as corridas (Interlagos e Okayama).


Então, chegou o fatídico terceiro Grande Prêmio da temporada, em Ímola (San Marino), e a expectativa era de um recomeço para Ayrton, a chance de, realmente, mostrar para a Williams o porquê do investimento no piloto mais badalado do momento, era o sentimento de finalmente ter o acerto devido, e assim, fazer o que o Senna mais sabia, dar show e vencer.

Foto: Star Racing F1.

O início do final de semana já foi um pouco assustador, pois o Rubinho havia sofrido um acidente assustador no treino livre da sexta-feira, mas fiquei mais preocupado com a forma que tentaram tirar o Rubinho do carro. O carro tinha parado virado e os fiscais simplesmente fizeram o carro ficar na posição normal sem se preocupar com o piloto. Poderia ter sido algo mais grave por isso também. Mas depois, ao vê-lo dando entrevistas no hospital tudo ficou mais tranquilo.


Sábado, durante o treino classificatório, aconteceu um episódio mais chocante ainda, a morte de Roland Ratzenberger. Sinceramente... claro que fiquei assustado, nunca havia visto algo assim. Mas pensei “é do jogo”, é um esporte de risco e acidentes acontecem. Sei que é cruel, mas foi um sentimento normal. Senti sim pela pessoa e família, normal em se tratar da morte de uma pessoa. Muito se falou sobre o cancelamento do Grande Prêmio, Tem muita coisa envolvida né. Dinheiro, publicidade, TV, público, etc.... a gente que acompanha esporte sabe que não dá para simplesmente cancelar uma prova, independentemente do motivo. Claro que agora, ou depois do que aconteceu, seria fácil dizer que não deveria de acontecer a corrida, mas sabemos que não é assim.

Foto: Getty Images.

Passado o acidente fatal de Ratzenberger, Ayrton novamente havia conquistado a pole position, o que criou o famigerado clima do “agora vai”. Como já foi dito acima, a minha grande expectativa era que o piloto brasileiro engrenasse de vez e rumasse ao tetra campeonato. Então começou a corrida, Senna não conseguia abrir vantagem sobre Schumacher e era uma prova um pouco chata, e então, chegou a triste volta de número 7...


Ao entrar na curva Tamburello, Ayrton perdeu o controle do carro e bateu violentamente contra o muro de concreto, algo assustador. Fiquei meio incrédulo, principalmente pela forma (saída da curva, “direto e reto” para o muro), não era normal. Mas estava mais preocupado com ele. Cada segundo era uma agonia, a mente só me levava ao seguinte pensamento: “levanta desse carro logo, por favor”. Mas os segundos passavam, e ele não levantou... a única reação dele foi mexer a cabeça, e esse é um dos momentos mais difíceis de se dizer, pois aquela mexida, na hora, indicava que ele estava bem, que iria sair do carro e tal, mas depois ficamos sabendo que é apenas um reflexo antes de morrer... a tristeza bate só de pensar novamente nisso.

Foto: autoevolution.com

Após a colisão, a relargada foi autorizada pela FIA, mas eu só pensava em ter logo a notícia que ele estava bem, alguma entrevista dele, qualquer coisa que nos trouxesse alivio. Exatas 4 horas e 23 minutos após o acidente, até que veio uma notícia, mas não era a esperada: Ayrton Senna da Silva estava morto. Fiquei triste, muito triste, mas até que aguentei firme, não queria demonstrar que aquilo me abalou, mas psicologicamente fiquei destruído. Na noite daquele dia o choro bateu, e nos dias seguintes foi complicado. Botar a cabeça no travesseiro e ver que o seu herói morreu de uma forma tão trágica não é fácil, mas é a vida, ela é um sopro, e ela as vezes é cruel.


Esse foi o meu 1° de maio de 1994, o dia em que perdi meu ídolo, uma pessoa extremamente talentosa, de um caráter ímpar, que mostrava a cada instante que a determinação e o suor, além da fé em Deus, são suficientes para a gente conquistar os nossos objetivos, seja no que for. Senna me inspirava muito, e carrego ele no meu coração até hoje, até porque, como se fala muito, ele é o nosso eterno herói.
(Depoimento fornecido por André Cassis.) 
Foto: Getty Images.
 
Senna possuía um talento nunca visto antes, ultrapassava em lugares inimagináveis, o tornando um verdadeiro assassino cerebral dentro das pistas, atributo que o rendeu o apelido de “Rei de Mônaco”, fazendo alusão aos desempenhos memoráveis nos GP’s de Monte Carlo, proporcionando uma das batalhas mais épicas da história, contra Nigel Mansell. As 65 pole positions em 162 corridas também dizem muito sobre a sua facilidade em fazer a volta perfeita, sem contar que, um GP com chuva era um GP com Ayrton Senna no lugar mais alto do pódio.


A figura de Ayrton Senna transcendia as pistas, era muito mais que um piloto, e talvez faça muita falta nos dias de hoje... mas essa é a vida, as vezes ela nos aplica duros golpes. O que ficam são as boas lembranças, as vitórias épicas, os títulos mundiais, além da sua obra que segue firme até hoje, o instituto Ayrton Senna.

Foto: Getty Images.


Hoje faz 26 anos que perdemos o nosso herói, mas ele seguirá para sempre vivo em nossos corações e na nossa memória, até porque heróis não morrem, viram lendas. Obrigado por tudo, Senna!


No que diz respeito ao empenho, ao compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe meio termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou não faz.
SENNA, Ayrton.


 
Foto: ayrtonsenna.com.br




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