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Mal acostumado, você me deixou.

Preocupado? Pelo coração rubro-negro, um pouco. Racionalmente, quase nada. Esse brasileirão será o campeonato de futebol mais frio de todos os tempos. Sem povo, sem sorriso e sem alegria. Sem música, sem carne e sem pagode. É justo então que eu tente ignorar minha vontade de invadir a casa de Léo Pereira pra quebrá-lo inteiro. É melhor esfriar a cabeça e explicar as razões da minha unha estar pouco ruída (além do uso da máscara).

É bom deixar claro também que este campeonato NÃO DEVERIA ESTAR ACONTECENDO.

Isto posto, vamos lá.

Óbvio que eu estava empolgado com meu auxiliar de Guardiola. Domenec estreou mal, e a derrota para o Galo pode até parecer um mal sinal. Mas, pensando bem, a verdade é que Jesus nos deixou mal acostumados, e cheios de saudade. 

Nosso padrão era alto demais, e esquecemos por alguns momentos que o time do Flamengo é feito por seres humanos. A pandemia só nos deixou mais ansiosos, e a imagem de nossos ídolos mais intocada. Mas não sejamos bobos. Dome enfrentará seus problemas, assim como Jesus enfrentou.

Lembremos que Jesus passou sufoco no seu primeiro jogo. Não esqueçamos de sua derrota no Equador, na qual suas mexidas malucas quase nos custaram a Libertadores. Jesus também teve de lidar com protesto de torcida em entrada de aeroporto e tomou uma sapatada do Bahia na Fonte Nova. Foi só depois desse mês maluco que viramos o que viramos.

Não digo que tudo será igual. Afinal, Dome lida com um desafio maior do que o mister. Jesus precisava apenas superar Abel Braga. Dome tem o desafio de suceder um dos maiores técnicos da história do Flamengo.

Tendo menos tempo de treino inicial do Jesus teve, Dome tem de treinar um time acostumado a jogar, e ganhar, de um determinado jeito. É muito mais fácil impor transformações em um time horroroso, do que mudar um time campeão. A resistência é muito maior. Principalmente se você tem o melhor time dos últimos 38 anos de clube.

Resistências que o Flamengo mostrou na sua crise de identidade na partida contra o Galo. Gerson sai mais ou fica mais? Gabigol sai mais da área ou fica mais plantado? Os laterais sobem juntos ou alternados? 

E há de se lembrar que o Fla de Dome enfrentou um time muito bem estabelecido, com estratégia, execução bem feitas, e ainda melhor fisicamente. O Galo era o maior desafio possível para o catalão. Em terra de Luxa, quem tem Sampaoli é rei. O argentino surpreendeu o Flamengo com uma saída de cinco, e um ataque só com pontas. Na transição aceleradíssima, Filipe Luis se desligou e entregou a paçoca.

E mesmo assim, o Flamengo do primeiro tempo (o que realmente deve ser considerado dada a perda física do segundo tempo) ainda teve várias chances. Bem mais do que as adversário. Cansou de chegar ao ataque com perigo. E a sorte não quis ajudar.

Quando Bruno perdeu gol sem goleiro, a sensação já não era boa. Quando Arrasca bateu triscando a trave, a sensação virou certeza.

É claro que as substituições de Dome foram horríveis. À la Abel Braga, tirou todos os meias e enfiou todos os atacantes. Mas mesmo Jesus colocou Rodinei  contra o Emelec. Desconhecimento total do elenco com só uma semana de treinos.

Um desconto pro catalão que está chegando no país em que morrem mil por dia, e tem jogo cancelado com os times já em campo. É impossível manter a sanidade.

Mais ainda pela falta de torcida. Flamengo sem arquibancada não existe. Para um time que tinha uma simbiose tão grande com a massa, é impossível não sentir a sua ausência.

E assim seguiremos.

Preocupado? Quase nada. O Flamengo ainda tem o melhor time do Brasil e pode vir a ser ainda melhor na mão de Domènec. Mudanças haverão, é claro. Jesus é Jesus e Domènec é Domenec.

Ainda vai ter muita crise na Gávea, invasão (tomara que virtual) de CT, e histeria esquizofrênica. Se não fosse assim, não seria Flamengo.

Mas é bom começar a ganhar logo, Dome. A paciência dura até a página três, no máximo. Justamente por termos ficado tão mal acostumados. Ainda quero vitórias ao som de muito pagode, mesmo que sem churrasco. Por enquanto, ainda sigo na saudade de Jesus.

No mais,

Saudações Rubro-Negras.

Por Gabriel Félix,

Colunista do Flamengo pelo Linha de Fundo.


(Imagem: Alexandre Vidal/Flamengo)

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