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24s de novembro separados por uma pandemia.

 

(Imagem: AFP)

Exatamente 367 dias depois da apoteose de Lima, o Flamengo entrou em campo mais uma vez contra um dos grandes da Argentina. E em muitos sentidos o jogo foi parecido: os argentinos abriram placar na casa dos 10 minutos após falha de Filipe Luis e cruzamento vindo da esquerda. Flamengo pouco atacou no primeiro tempo e sofreu na saída de bola com a pressão dos rivais. A qualidade do técnica do rubro-negro foi barrada pela correria argentina e foi só no quarto final do jogo que começamos a dominar o campo adversário e criar situações de gol com mais volume.

Mas para por aí. Dessa vez empatamos rápido, tivemos um expulso antes do fim do jogo, e o fim foi, no vocabulário popular e sucinto, brochante. No entanto, a maior diferença entre as duas pelejas não era no campo e bola, ou sequer era visível. Era o espírito.

Explico.

A começar pela pandemia. Já escrevi isso aqui outras vezes. A ausência da torcida, mesmo que na transmissão da TV, tira uns 50% do meu tesão em assistir qualquer peleja. As partidas parecem sem alma, sem brilho. Sem sentido. Mais ainda em uma Libertadores, tão famosa pelos caldeirões latino-americanos. Fico imaginando o que seria esse jogo em tempos menos insanos.

Até por isso, minha animação e exaltação com esse jogo eram infinitamente menores. Normalmente, eu estaria atordoado desde as primeiras horas do dia, verificando escalações, acompanhando as mesas redondas e especulando as alternativas do jogo. Ontem eu trabalhei tranquilamente, vi alguns filmes do Cinefoot, e passei os 30min antes do apito inicial cozinhando a marmita do dia seguinte. Liguei a TV apenas dois minutos antes da bola rolar.

Em outras épocas eu estaria roendo as unhas com a lesão de Isla e estaria enchendo meus grupos de whatsapp com mensagens revoltadas com a pardalizada de Rogério Ceni, colocando Renê na direita e deixando o time completamente torto. 

Mas meu espírito era outro. Mandei um "Aff" em só um dos grupos, e foi só.

Em campo, os jogadores pareciam estar em ritmo parecido. O desempenho começa até a animar, o time se estabilizar e um futebol minimamente apresentável começa a ser reconstruído (ao contrário da zaga que nem no mínimo consegue chegar).

O jogo foi morno, sem grandes emoções. Até porque, Gabigol fez o gol de resposta tão rápido que não deu nem tempo de maturar algum nervosismo.

No fim, quando começávamos a nos animar um pouco, a expulsão de Thuler (injustíssima a meu ver) estragou o fim do jogo. 1x1 na Argentina, e volta no Maracanã semana que vem.

Poderia eu estar arrancando os cabelos com a perda da oportunidade de vitória, mas desliguei a tv e fui pra cama. Ao invés de revisitar os lances por horas, em quinze minutos eu estava dormindo.

Se um ano antes eu vivia o dia mais feliz da minha vida rubro-negra, da apoteose, do êxtase, no jogo de ontem o espírito era completamente diferente.

Torci, acompanhei, vivi o Flamengo mais uma vez, como sempre faço. Mas os ânimos são outros, o espírito é outro.

Passei o dia de ontem revivendo o 24 de novembro de um ano antes, e assistir o jogo só me fez ver tudo que passou de lá pra cá. As mudanças, os nervos, os pensamentos e os espíritos.

Mais dureza, menos brilho.

Mas só me fez me lembrar com mais carinho daquele dia. Se aquela foi a última aglomeração antes de o mundo acabar, eu posso morrer feliz.

Se o mundo voltar a funcionar de um jeito minimamente normal, ao contrário da minha zaga com Léo Pereira, vou conseguir ter aquele espírito de novo. Até lá vamos torcendo pelo Flamengo, como sempre, mas torcendo também para o brilho no campo voltar, tanto no campo quanto nas arquibancadas.


No mais,

Saudações Rubro-negras.


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