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Arremessos convertidos em história

Steph Curry x James Harden
Imagem: Divulgação NBA

Do jogo criado por Dr. James Naismith em 1891 para o que assistimos atualmente, muita coisa mudou. Quem acompanha a NBA nos dias atuais, se depara com estilo de jogo completamente diferente do que se viu ao longo das últimas décadas. Hoje, arremessar de fora se tornou essencial e em alguns times, chega a ser arma principal no setor ofensivo.

Jogadores como Stephen Curry, Damian Lillard e James Harden passaram a normalizar a criação do próprio arremesso, dribles espetaculares e mudaram até as táticas de suas equipes para favorecer o chute de 3 pontos.

Em 1967\68 a ABA (American Basketball Associaton) maior rival da NBA à época, adotou o chute de três pontos em suas regras e alguns anos depois, a linha de 3 pontos foi adotada pela NBA na temporada 79\80 (3 anos após a fusão das suas ligas) tendo sua primeira cesta anotada por Chris Ford, jogador do Boston.

Nas 5 primeiras temporadas, a média de arremessos era de menos de 3 por jogo. Em 94\95 essa média passou a ser de pouco mais de 15 por jogo e viu-se cada vez mais equipes que não tinham jogo forte no garrafão, optar por esse estilo.

Nomes como Steve Kerr, Reggie Miller e até Dell Curry (pai de Stephen Curry) se tornaram especialistas no quesito bola de três na década de 90, encerrando suas carreiras com mais de 40% de aproveitamento nos arremessos desse quesito.

Hoje, vemos equipes como Houston Rockets, chutando 40 bolas por jogo, mas a primeira equipe que popularizou esse estilo foi o Phoenix Suns em 2003\04 com Steve Nash, Joe Johnson, Jim Jackson e até o brasileiro Leandrinho. Curiosamente ambas com o mesmo treinador, Mike D´Antoni.

Isso rendeu ao Suns não só jogadas espetaculares e um prêmio de MVP à Nash, mas a franquia também alcançou as finais de conferência Oeste nas temporadas 04\05 e 05\06 perdendo para San Antonio e Dallas respectivamente.

Recentemente, o Golden State popularizou ainda mais os chutes de 3 pontos impulsionado pela dupla Curry\Thompson. Ambos conquistaram marcas individuais jamais vistas na Liga, como 402 bolas de 3 na temporada 15\16 para Curry e 14 cestas num mesmo jogo para Klay contra o Bulls em 2018.

Ray Allen nas finais em 2013
Imagem: Divulgação NBA

Graças a esse estilo, tivemos nomes como Ray Allen (que salvou o título de uma franquia com uma bola de 3) e Reggie Miller que batia de frente com Bulls de MJ e tantos outros jogadores que marcaram época como especialistas nos arremessos de fora.

Hoje, em média, cada time arremessa mais de 30 bolas por jogo. Recorde histórico batido em 2019 e ainda temos times como Houston que chega a arremessar 40. À nível de comparação, os Lakers de Pat Riley foram campeões em 80\81 convertendo apenas 13 bolas de três em TODA TEMPORADA. Pensar nisso hoje, é impossível.

Muitos dizem que esse estilo de jogo faz mal ao que o basquete em si representa. Greg Popovich e Phil Jackson, dois dos maiores nomes da história, por exemplo, já declararam publicamente não gostar desse estilo de jogo.

Porém goste ou não, essa diferença de estilos fica ainda visível quando enxergamos cada vez mais os “homens grandes” fazendo trabalho fora do garrafão. Nicola Jokic, Anthony Davies e Joel Embiid por exemplo, são dominantes dentro da área pintada, mas se viram melhor que muito armador fora dela.

O último exemplo gritante, é o fato do atual duas vezes MVP, Giannis Antetokounmpo com médias de quase 30 pontos, 13 rebotes e 6 assistências, é duramente criticado por não conseguir manter um aproveitamento aceitável na linha de três pontos. Na última temporada, acertou apenas 3 bolas a cada 10 tentativas.

Para muitos, o legado de Stephen Curry entrará para história da Liga como o atleta que mais influenciou o jogo. Para tantos outros, a nova geração crescerá sem assistir o que é basquete de verdade. E para nós, amantes do esporte vale mais a pena apreciar e saborear o que esse “novo basquete” tem nos proporcionado e ainda vai nos proporcionar.


Pedro Ramos  |  @peedrohramos

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