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Liga das Canelas Pretas: o maior torneiro de clubes negros da história do país

O Rio Grande do Sul, foi um dos estados brasileiros que mais escravos recebeu. O Censo de 1872,  aponta-o como o 7° estado, entre os 21 de então, com maior população escrava no Brasil (67 mil). No período pós-abolição, boa parte de sua descendência procurou Porto Alegre para trabalhar e viver. Na capital gaúcha, permaneceriam confinados, habitando quatro grandes territórios negros segregados, que, juntos, formavam uma espécie de cinturão em torno do centro da cidade.

Distribuídos entre os bairros Cidade Baixa, Ilhota e Areal da Baronesa,  a situação econômica dos negros era precária. Trabalhavam nos empregos que exigiam maior força bruta como vendedores, entregadores, artesãos, mas também em algumas atividades especializadas como costureiros, sapateiros, barbeiros, tipógrafos, e em alguns casos, como funcionários públicos de baixo escalão.

A Liga das Canelas Pretas

O futebol chegou em Porto Alegre, em 1903, na oportunidade, o S.C. Rio Grande veio à capital para jogar contra um selecionado local. Não diferente do resto do país, no Rio Grande do Sul, a federação local proibiu o registro de atletas “de cor”, no início do século XX.

Foto de destaque: Reprodução/Google

Foto de destaque: Reprodução/Google



O racismo era  institucionalizado no Brasil. As principais ligas de futebol não permitiam as inscrições de clubes formados por negros e operários nos primeiros campeonatos organizados no estado. A solução entre os vetados foi, então, fundar uma associação alternativa voltada às classes mais populares da cidade.

 ‘Liga das Canelas Pretas’ era o nome pejorativo que a imprensa da época deu para o certame, o nome oficial era Liga Nacional de Football Portoalegrense.

A formalização da liga ocorreu, provavelmente, no final da década de 1910. A Liga da Canela Preta era formada por times altamente organizados com diretorias, conselhos consultivos, técnicos e grande número de torcedores que pagavam mensalidades e ingressos nos melhores jogos.

Entre os clubes conhecidos, estão Primavera, Bento Gonçalves (famoso clube que excursionou com êxito pelo interior do estado em 1923), União, Palmeiras, Primeiro de Novembro, Rio-Grandense, 8 de Setembro, Aquidabã e Venezianos.

Mesmo dentro da liga, havia segmentação. O pai de Lupicínio Rodrigues, Francisco Rodrigues, era um dos dirigentes do Rio-Grandense, clube que teria gerado polêmica no interior da liga por definir-se como “mulato”: somente mulatos e mulatas poderiam torcer pelo clube.

 O auge da liga foi a década de 20, quando teve seu primeiro campeonato organizado em 13 de maio de 1920.  Em 1930, a Liga Metropolitana criou sua segunda divisão (a “liga do sabão”, composta pela classe média baixa), absorvendo os melhores jogadores dos Canelas Pretas, o que acabaria por fazer desaparecer a Liga na década de 1930 (possivelmente em 1933, início do profissionalismo no futebol local).

 A existência da curiosa ‘Liga’ serve apenas deixar evidente as dificuldades dos ex-escravos e seus descendentes para se integrarem à sociedade.

Por Graziele Albuquerque / instagram: @albuquerquegrazii

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