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Não aprendi a dizer adeus, Formiga

 

Foto: Thaís Magalhães
Formiga,


Hoje te escrevo ainda sem acreditar que esse momento chegou. Desde que me entendo por gente estou acostumada a te ver com a mesma camisa e ainda é difícil processar que não verei mais. Nunca havia visto uma seleção sem ti. Sem tua qualidade, sem tua força incansável. Talvez eu nunca me acostume com a tua ausência. Despedidas são sempre dolorosas, você sabe, né? Você mesma teve que se despedir de vários grandes nomes. Mas a tua é ainda mais difícil. Não aprendi a dizer adeus... mas tenho que aceitar.


Em 2019 ouvi uma frase sua que muito me marcou:


O que me move ainda é essa necessidade de ver o futebol feminino realmente onde ele merece: eu quero ver essa modalidade no topo

 

Sabe, Formiga, a gente ainda tem muito a percorrer. Mas você conseguiu! Hoje a modalidade está onde você prometeu deixar. Quando você começou sua história na seleção, jogava com o resto... os uniformes que sobravam do masculino eram dados para vocês. Hoje, além de uma camisa própria, com escudo específico, a CBF paga a mesma diária para suas atletas que paga para os seus atletas. Quem diria que chegaríamos até aqui? Talvez só você.


Tua história e o início da modalidade aqui no país se cruzam tanto que quase se confundem. Nasceste quando o futebol feminino ainda era proibido por lei. Acho que era destino. Serias responsável não só por começar uma caminhada pós-liberação, mas também por trazer ao futebol feminino o respeito que hoje ele tem. E eu sei que foi difícil. Sei que não deve ter sido fácil lutar para estar aqui. Você, Formiga, precisou lutar ainda dentro de casa para chegar a fazer o que gostava. Teve que apanhar dos irmãos, da vida. Isso me dói. Mas só podemos te agradecer por não ter deixado isso te parar. Sem você o futebol feminino não seria o que é hoje.


Te agradeço, Formiga. Pela luta diária pela modalidade, por nunca ter deixado se abater. Por ter sempre escolhido a luta, mesmo quando era mais fácil estar acomodada. Por se posicionar quando precisávamos disso. Por ter peitado quem precisava ter sido peitado. Por ter feito tudo que fez por nós, mulheres e por todas as atletas.


Sabe, Formiga. Hoje ninguém vai mais precisar passar pelo que você passou para jogar bola e isso é graças a tudo o que você fez. Foram 26 anos honrando as nossas cores e nem por um dia, nessas quase 3 décadas, houve dúvida sobre a qualidade técnica, a força física e o merecimento de vestir a 8. Essa camisa agora tem um peso muito maior. Por tudo que foste, és e representas para o futebol feminino. Por ironia do destino, Formiga virou sinônimo de grandeza. Só uma gigante seria capaz de mudar o significado de uma palavra.


Agora me despeço de ti com a certeza que por mais doloroso que seja, será um até logo. O teu futuro te reserva coisas brilhantes ainda e junto dessa modalidade. Porque tu és o futebol feminino, Formiga. Tu és passado, presente e futuro.


Hoje tens uma legião de fãs arrasados, mas que continuarão ao teu lado esperando pelo teu próximo passo. Sei que você merecia muito mais, que foi pouco para quem fez tanto. Mas ainda não acabou. Obrigada, Formiga, por ser inspiração. Pela tua luta. Pelo teu amor ao futebol feminino. Nossa retribuição é te amar o dobro. 


Obrigada, por tudo, minha eterna 8.

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