Só agora tive tempo de relatar o
que aconteceu na tarde do dia 3 de maio deste ano. Inicialmente, peço desculpas
para a Nação Tricolor pelo atraso. Estava em meio à correria e acabou passando
batido. Mas, a partir de agora, todos saberão o que aconteceu naquele dia
histórico.
Meu pai, de fato, é o meu melhor
amigo. Porém, como ninguém é perfeito, ele torce pelo rival. No dia do meu
aniversário, o time dele havia conquistado a Copa do Nordeste. Comemorou muito,
mas não esqueceu a final. Na manhã daquele dia 3 de maio, veio em minha direção
e disse: “É hoje, hein!?” e respondi:
“Que vença o melhor!”.
Devido à violência, não podemos
ir ao estádio juntos, o que é uma tolice sem tamanho. Tanto a torcida alvinegra
como a tricolor são incapazes de conviver em ambientes de lazer. Palhaçada, em
minha opinião. Seria um barato poder acompanhar essa final ao lado do meu pai.
Saí de casa às 15h e bastante
ansioso. Meu pai, esquecendo toda rivalidade, apenas disse: “Tome cuidado, meu filho”. Segui o
caminho sem colocar uma música sequer no carro. Estava concentrado, não queria
ficar otimista demais e nem pessimista ao lembrar os últimos quatro anos.
Como de costume, cheguei à Arena
Castelão sozinho. Estacionei o carro em uma zona segura e fiz o de sempre:
comprei uma água mineral e entrei no estádio. Tudo rápido, logo sentei no meu
lugar e fiquei com um fone de ouvido na Rádio Assunção.
Silêncio de festa
Quando a partida começou, eu
esperava qualquer coisa. A cada tentativa, sendo do Leão ou do rival, o coração
palpitava mais intensamente. Era claro o equilíbrio, mas as primeiras chances
claras de gol foram nossas. Lúcio Maranhão, em uma delas, teve uma bela chance
na pequena área, mas chutou no goleiro.
Mas foi aos 31 minutos que eu
senti a primeira emoção daquele jogo. Lúcio Maranhão recebeu a bola pela
direita e passou por cima para Everton. O meia tricolor dominou no peito e
tocou para Daniel Sobralense. O camisa 10 deu um chapéu em João Marcos e bateu
pro gol, com estilo, um golaço: Leão 1 a 0.
Daniel Sobralense marcou o primeiro gol da decisão (Foto: LC Moreira/Futura Press) |
Naquele momento, eu apenas
levantei e comemorei o gol silenciosamente. Estava muito nervoso, não conseguia
esboçar uma reação sequer de alegria. Mas claro, internamente eu estava em
êxtase, não conseguia descrever o que estava acontecendo. Apenas foi lindo ver
toda Nação presente no estádio a festejar.
No intervalo de jogo, mandei uma
mensagem para o meu pai. Ele me disse que estava preocupado com as minhas
reações. Pensei que ele ia reclamar pelo fato do time dele estar perdendo, mas
sequer citou isso. Apenas disse que o Daniel Sobralense estava em posição de
impedimento. Comecei a rir e enviei: “Calma,
vai ter mais nesse segundo tempo”.
Inexplicável
Não sabia o que esperar para o
segundo tempo. Meu desejo era que a partida acabasse logo. Parecia que eu
estava adivinhando o que ia acontecer. Temi um recuo do Fortaleza, que
beneficiaria o rival na partida.
Quando Deola falhou após o chute
de Ricardinho, não tinha sequer me assustado. Achava que era um fato do jogo.
Já havia passado 36 minutos, não tinha mais como o rival tirar o nosso
título... TUDO ILUSÃO. Clássico-Rei é isso. Surpresa, tensão. Com o alvinegro
pressionando, Assisinho marcou o gol da virada aos 45’.
Imediatamente levantei-me. Recebi
uma mensagem do meu pai que dizia: “Acabou,
é penta!”. Comecei a chorar de tristeza lembrando-me dos últimos anos.
Nunca tivemos o título tão perto e, no final, tão distante. Estava decidido a
ir embora, ia ver apenas o lance final.
O time reiniciou a partida.
Corrêa tocou para Wanderson. O lateral jogou a bola para área numa tentativa
desesperada. Enquanto a bola viajava, levantei-me. Tinga tocou de cabeça para o
meio e Cassiano colocou na rede. Naquele momento, sai correndo pelas
arquibancadas da Arena Castelão. Coloquei a camisa no rosto para tentar
disfarçar o choro, mas era toda alegria que senti.
Cassiano deu o título ao Fortaleza (Foto: O Povo) |
Depois do êxtase, mandei uma
mensagem para o meu pai: “Gol do
Cassiano. Acabou! É campeão!”. Com o bom humor de sempre, ele respondeu:
“Foi combinado”. Após isso, fui comemorar. Extravasei o que estava engasgado
desde 2010. Sem dúvidas, o maior Clássico-Rei que assisti na vida.
Viver esse momento como torcedor
foi uma das maiores alegrias que senti. Ao chegar a minha casa, meu pai disse
apenas que esqueceu o jogo e ficou preocupado comigo, mesmo sabendo que estava
tudo bem. Aproveitei e tirei um sarro, sempre respeitando a posição dele de
torcedor alvinegro.
Relembrar é viver.
#FechadoComOLeão
Rafael Alves
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