O texto a seguir é um artigo
publicado no jornal goiano Diário da Manhã, escrito pelo torcedor do Atlético
Mailcon Emílio, um apelo para que a diretoria atual não se esqueça de nossa
verdadeira casa, o Estádio Antônio Accioly.
"Sempre me perguntam se sou
de Campinas quando descobrem que sou atleticano. Na verdade, quando dei conta
que era atleticano, morava nas vizinhanças, passando por Vila Operária, Vila
Santa Helena, Setor Centro-Oeste, Fama e Marechal Rondon, não bem nessa ordem,
pois já faz um tempo e nem lembro a sequência. Eu tinha uns doze anos e passar
por tantos bairros fazia parte da peregrinação de quem morava de aluguel.
Engraçado, que os domingos tinham certas rotinas e uma delas era acordar para
ir a Matriz de Campinas, assistir a missa das crianças e depois a catequese no
Colégio Santa Clara ou Centro de Catequese no fundo da Igreja, uma obrigação
dada pela minha mãe, católica fervorosa.
Após a catequização, a rotina
começou a mudar e após a missa dominical, surgia uma nova doutrina, aquela que
bom campineiro passa de pai pra filho, de tio pra sobrinho, de avó pra neto, ir
aos jogos matinais do Atlético. O melhor que meu pai nunca falou que eu tinha
que torcer pelo time, nunca me deu uma camisa, só levava aos jogos para sua
companhia. No trajeto, íamos a pé, era perto, percebia pessoas saindo de suas
casas de camisas rubro-negras, estampando Madeireira Lisboa, outras subindo
ruas do Setor dos Funcionários, caminhando na mesma direção, Estádio Antônio
Accioly. Eu nem entendia muito bem,
porém depois de alguns jogos descobri quem era o ponta esquerda, William,
habilidoso, ficava driblando até que os adversários caíssem no chão, sob
gargalhadas dos torcedores, eu era mais um. Logo, aprendi também que o bom era
chegar cedo, procurar um lugar na arquibancada coberta, pois caso chegasse
tarde era encostar-se ao alambrado e ficar escutando os torcedores atazanando a
paciência dos adversários e dos bandeirinhas, as gargalhadas se repetiam.
Parecia que todo mundo se conhecia, meu pai mostrava ex-jogadores que também
compareciam como torcedores, como Dadi, Pedro Bala, Waltair e tanto outros e
contava histórias sobre eles e das suas jogadas. E lá se aprendia de tudo,
palavrões encorpados, chamar o picolezeiro no assobio, esperar pra comprar
ingresso na fila, mais uma fila pra entrar, pois só tinha quatro catracas e
depois dos jogos a gritar o famoso “tá cedo”. Se o jogo fosse importante o
Atlético entrava debaixo de um ensurdecedor foguetório, dois a três minutos
enfumaçados, torcedores chegavam com bandeiras rubro-negras, não eram faixas,
não precisava declarar o amor ao time em faixas, talvez a demonstração do amor estivesse
no tamanho das bandeiras, numa competição pra ver quem tinha a mais bonita e a
flamulava melhor.
Mailcon Emílio, autor do artigo |
Infelizmente, em minha opinião, o
Atlético vem errando estrategicamente. Entrou na cabeça dos atuais dirigentes
que melhor solução é arrendar o Antônio Accioly, esquecendo suas histórias e a
identidade com a região de Campinas, e construir um novo shopping e boom!
Teríamos solução para todos os problemas do clube. Pra que estádio Antônio
Accioly se já tem Serra Dourada e logo vai ter o Olímpico moderno e com certeza
caro! Agora eu pergunto, qual o melhor lugar do mundo!? Qualquer pesquisa
simples vai apontar vários lugares, mas se colocassem como uma das
alternativas: a sua casa, essa vai ganhar! Todo mundo quer uma casa, é lá que
nos sentimos bem, se tiver conforto, melhor ainda, se for bonita, melhor ainda,
e se for grande, melhor ainda. Mas mesmo que não seja tão confortável, de
aluguel e caindo aos pedaços, pessoas ainda responderia que o melhor lugar do
mundo é a sua casa. Poxa, será que esses caras não percebem que num estádio
nosso o torcedor se sentiria em casa? Sentir-se-ia mais seguro? Sentir-se-ia
entre pessoas da mesma família? E se no Accioly tivesse pula-pula para as
crianças, pulando junto com o mascote do Atlético. Um barzinho organizado com
variedades e com preço de mercado onde o torcedor pudesse chegar antes do jogo
e confraternizar com as pessoas da sua família, do Facebook, da vizinhança, do
trabalho. E se lá tivesse um Museu, estátuas de jogadores, com fotos importantes
dos campeonatos passados, de Campinas, camisas antigas, passando vídeos de gols
pra relembrar momentos históricos. Um cinema, pois tem mulher que não gosta de
futebol e então poderia assistir a um filme junto com outras que não gostam,
durante o jogo, mas estaria ali perto do marido enquanto ele torce na
arquibancada. Começo a pensar e me vem milhares de alternativas menos a do
shopping que em Goiânia tem mais que lan house e pit-dog! Eles preferem vender
a ideia que estão prontos a se desfazer do estádio, nem pensam que desvalorizam
o seu próprio patrimônio.
Esquecem que o prazer do futebol
não está somente, no esporte, no jogo e no time, mas na certeza da boa
convivência entre pessoas e compartilhamento da mesma emoção, aquela alegria de
torcer pelo mesmo clube, da mesma origem e da mesma história."
Mailcon Emílio, torcedor do
Atlético Clube Goianiense.
Parabéns ao Mailcon pelo
belíssimo texto, todos nós atleticanos queremos um dia torcer de novo pelo
Dragão em solo sagrado!
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