São Paulo: de soberano a soterrado

O departamento de marketing de qualquer empresa tem o poder de levantar ou destruir uma marca. Sucesso e fracasso andam juntos, como sim e o não, o bem e o mal ou o bom e o mau. Em longo prazo então, nem se fala...

Nunca vi um rótulo repercutir tão mal em um clube como o 'Soberano' no São Paulo; soa tão soberbo e detestável. E isso não traz benefício algum ao clube, e torcedor cegamente dizer que isso é inveja dos rivais do "maior" de todos os clubes, não possui visão alguma do que pode ou não trazer ao clube - o São Paulo não é tudo isso e nunca foi tudo isso que a visão exagerada de um torcedor traz.

Primeiramente, antes de reconhecer sua grandeza, reconheça a de seus rivais, caso contrário, nenhuma conquista própria tenha valor, afinal, se o Corinthians é um "time pequeno" ou o Palmeiras é "eternamente de segunda divisão", qual valor tem então em vencer o clássico? Que graça tem em "bater em cachorro morto"? Que peso terá esta história se desdenho e reconheço meus rivais como pequenos?

Nem sempre conquistas a mais em determinados títulos define grandeza, mas a soberba atrapalha o andamento de um clube - o São Paulo, grande exemplo e modelo de organização política no passado, ficou para trás.

Voltemos à fase 2005 a 2008 do clube: muito vencedora; plantel esplêndido e diretoria impecável em tudo que fazia e nos jogadores que contratavam - tudo encaixava. Mas o departamento de marketing começou a cavar a própria cova do clube.

A cada entrevista de jogadores, dirigentes e até mesmo do médico eram com tons de desdéns, deboches, arrogâncias e soberbas (ela de novo) fazendo clube ser odiado por todos e até a mídia começava a "arrumar" crises para tentar quebrar a fase mágica.

Não era necessário: Júlio Casares, marketeiro do clube, comprou esta péssima ideia de ser odiado, pois todos invejavam a "soberania tricolor", então nada melhor do que se intitular SOBERANO, pois somos os MAIORES do Brasil e o "único tricampeão do mundo". 

Enfim, todos começaram a torcer contra, mas isto não bastava, o modelo de gestão do São Paulo era um sucesso mesmo, tinha que ser copiado e os clubes mudarem de postura - o Internacional de Porto Alegre fez isto e começou a ter sua fase 'absoluta' - bem menos arrogante que 'soberano'.

O 'renascimento' do Corinthians após a queda em 2007 até seus últimos triunfos de 2013 com o slogan: 'Eu Nunca Vou Te Abandonar Porque Te Amo, Eu Sou Corinthians', mais definido como prova de amor e fidelidade ao clube - nada arrogante.

Se Júlio Casares aplicasse tudo no que é bom em palavras em palestras e seminários de marketing, o São Paulo seria mais rentável que Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Bayern München e outros gigantes que faturam bilhões anuais, mas o que vemos hoje é uma incompetência sem tamanho, depois da sul-coreana LG, quem mais tempo ficou de patrocínio master no clube? 

É uma troca atrás da outra, normal o torcedor comprar a "camisa limpa", senão vira insanidade acompanhar fielmente o que o clube faz.

Os filmes, as camisas temáticas e tentativas de planos de torcedor foram todos fracassados. Casares não soube mesmo montar um plano de marketing intuitivo e convidativo - foi mais para "afastativo". (risos)

Lembro-me que até o inédito tricampeonato nacional, foi ofuscado pelo regresso do rival a Série A com a contratação de Ronaldo Fenômeno - uma edição especial de um jornal esportivo do campeão foi reduzida pela metade.  E por falar em jornal, um conhecido do bairro dono de uma banca e são paulino, onde leio e comprava meus exemplares todos os dias, pelos seus negócios e vendas, preferia mais que o Corinthians fosse capa do que seu clube: "O são paulino mal compra jornal aqui, o corintiano esgota!".

E por falar em torcedor, o são paulino tem muita parcela de culpa nos fracassos do clube tanto em valorização da marca quanto nos times que montam. 

Pergunto ao torcedor (a) do São Paulo o seguinte, e proponho pensar como empresário ou dono de emissora: você patrocinaria um clube que a torcida apenas aparece em boa fase? Apostaria em um clube que apenas 15% do torcedor compra seu produto? Transmitiria em seu canal de televisão jogos de um clube que registra em média 12 pontos de audiência enquanto o seu rival ultrapassa os 40 pontos e você torcendo contra este clube colabora com estes números? Usaria sua marca em clube que foca apenas na classe A e B de torcedores, mas esquece das classes C e D que realmente contribuem e querem ter produtos mais acessíveis? Eu jamais patrocinaria...

Os chamados "cardeais intocáveis" do império "sacrossanto" do clube estão tornando o soberano um soterrado: brigas políticas; guerra de vaidades; falta de pés no chão e enxergar a realidade, mas o nome tem que ser zelado mesmo que de forma enganosa, o São Paulo é impecável ou sua imagem é eternamente intacta - mentira!

O querido São Paulo, tantas vezes admirado da fase Telê Santana, era sim um time forte e de verdade com jogadores respeitados e de amor à camisa. Garra e vontade nunca faltavam - dava gosto!

O tricolor era respeitado, sua camisa pesada era imponente nos jogos e os adversários sabiam que teriam que enfrentar jogadores de seleção.

Qualquer garoto da várzea gostaria de jogar no clube mesmo que fosse torcedor rival.

O São Paulo não conquista títulos importantes desde a "era soberana", virou chacota e muitas piadinhas de rivais - perdeu totalmente o respeito. Os dirigentes mais atuam contra todos os outros do que se propõe a juntar-se em prol da ressurreição do futebol brasileiro. Carlos Miguel Aidar na presidência é um verdadeiro retrocesso do clube, e poucos sabem disso, mas Júlio Casares quer ser o próximo presidente do São Paulo - se com o marketing ele acabou com a imagem e marca do clube, imagina o que faria como presidente. 

Ao torcedor do São Paulo que acredita ou vive ainda no mundo de faz de contas que seu clube é o maior e o mais perfeito do planeta, e que vai me bombardear de ofensas do tipo 'você é gambá, ou porco', ou sei lá mais o que, continue contribuindo com a fatídica fase do tricolor ao invés de buscar o melhor e cair na realidade.

As glórias são incontestáveis, porém são totalmente do passado. O São Paulo é um gigante, mas está longe de ser um clube modelo hoje.

O soberano está soterrado: pela arrogância, soberba e má organização dos diretores. O clube todo está coberto por estes escombros. E somente a força de seus torcedores verdadeiros pode socorrer e tirar estes escombros do escudo. 

Texto: Rafael Carvalho

Imagens: Google