Pego a velha
camisa amarela do Bruno no armário. Quantas memórias ela me traz. A melhor de
todas me coloca de volta no Maracanã, palco de tantas emoções malucas e
intensas. É difícil controlar os sorrisos involuntários e as lágrimas que
chegam quando me lembro deste dia 6 de dezembro de 2009. Tudo começa bem antes
da bola rolar.
Em casa,
depois de tantas contas e simulações de tabela, finalmente não precisávamos
mais disso. A única coisa que faltava era a vitória, qualquer uma. Tudo seria
nosso outra vez. Com tensão aparente e muita esperança, minha família estava
reunida, como sempre, e apoiávamos uns aos outros nessa loucura chamada
Flamengo. Que semana nervosa, que dia intenso. Como esperar quando seu time pode
ser campeão brasileiro no fim da tarde?
Olho para a
faixa do Hexa, que continua pendurada em meu quarto. Sair do Maracanã depois de
um título e correr atrás da faixa era tradição entre os torcedores. Olhar para
ela e para os nomes atrás me faz lembrar os heróis do título, os nomes que
nunca poderão ser apagados da nossa história.
O capitão, que
acabou com sua carreira no ano seguinte, mas dentro de campo nunca deixou que
ninguém duvidasse de seu potencial. Ronaldo Angelim... O magro de aço sabia o
que fazia e, mais do que ninguém, merecia cada segundo daquela emoção. Angelim
teve problemas tão graves naquele ano que poderia ter de amputar a perna. Já
imaginou aquele 2009 sem sua segurança, simplicidade e luz? Pet, que, mesmo já
velho, voltou por amor, porque queria, acima de tudo, colocar o Fla no topo
novamente. Cobrava escanteios como ninguém, honrava o manto da mesma forma.
Adriano. A dimensão da admiração que tinha era proporcional a seu talento. O
Imperador, por ser um completo apaixonado, deixou de lado seus problemas e, com
o empurrão da torcida, lutou. Tantos outros fizeram parte, tantos nomes que nem
acreditamos que pudessem ser tão importantes, mas fizeram por nós o que outros
não puderam.
O sufoco na
entrada, com direito a gás de pimenta, foi esquecido rapidamente quando tudo
começou. Do alto da arquibancada vi tudo acontecer. Quando Douglas Costa bateu
e Roberson fez, nós percebemos que emoção não poderia faltar, nem na última
rodada. Ninguém conseguia respirar direito, era difícil até pensar. Menos de
dez minutos depois, Pet cobrou escanteio, a bola sobrou na área e David Braz
bateu. Seu primeiro gol no campeonato, seu gol histórico. O balançar das redes
fez o Maracanã vibrar, tremer e a arquibancada explodir de emoção. Nós
simplesmente sabíamos: nossa hora havia chegado.
Cada grito
nervoso simbolizava o desespero. Cada chute errado de Adriano ou defesa
gremista era um ataque. Mas o futebol... Ele escreve certo por linhas muito
tortas. O relógio marcava 24 minutos do segundo tempo. Pet, mais uma vez, no
escanteio. Tudo parou em nossa volta. A bola ia subindo e o silêncio tomou
conta. O gol de cabeça de Angelim simbolizava não só a virada no placar, mas a
superação dele, o título, o grito enlouquecido da torcida e as lágrimas de 40
milhões de apaixonados. Ninguém tinha mais dúvidas ali.
O apito final
foi o fim da tensão. Abracei desconhecidos, pulei na arquibancada, gritei,
amei, chorei. Olhava para minha família e não tinha um que conseguia segurar as
lágrimas. No telão, "Flamengo
Hexacampeão Brasileiro" era estampado. 17 anos depois, estávamos no
topo novamente.
O último
herói, e talvez o mais improvável, foi Andrade. O ídolo rubro-negro que caiu de
paraquedas no comando técnico foi tudo que precisávamos. Sua simplicidade
refletia no que era passado. Em um elenco cercado de estrelas, Andrade nunca
deixou que um fosse mais importante do que o outro. O que importava era achar
qualquer um livre para marcar, não interessava quem.
Hoje, seis
anos depois, seguro todas as coisas que tem um significado gigante para mim,
vejo imagens marcantes daquele dia e é difícil segurar a emoção. Seis anos,
seis títulos, seis milhões de razões para nunca desistir. É pelo amor que
sinto, pela necessidade, por todos os momentos que vivemos juntos. É para, por
e pelo Flamengo.
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